Segundo o relatórioThe Future of Jobs de 2020, elaborado anualmente pelo Fórum Econômico Mundial, as dez competências comportamentais mais importantes até 2025 são: pensamento analítico e inovação; aprendizagem ativa e estratégias de aprendizado; resolução de problemas; pensamento crítico; criatividade; liderança; uso, monitoramento e controle de tecnologias; programação; resiliência, tolerância ao estresse e flexibilidade; e o raciocínio lógico. (Foto: Freepik)

Inteligência emocional e comunicação assertiva estão entre principais habilidades comportamentais buscadas por empresas

Por: Raul Galhardi | Em:
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No mundo do trabalho, costuma-se dizer que os empregados são contratados pelas habilidades técnicas e demitidos pela falta das chamadas “soft skills” ou habilidades comportamentais. No cenário atual brasileiro, marcado por crises sanitária e econômica e com índice de desemprego de 14,1%, torna-se ainda mais necessário para os profissionais que desejam se inserir no mercado ou nele permanecerem o desenvolvimento dessas competências, cada vez mais valorizadas pelos gestores e líderes de empresas.


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Segundo o relatórioThe Future of Jobs de 2020, elaborado anualmente pelo Fórum Econômico Mundial, as dez competências comportamentais mais importantes até 2025 são: pensamento analítico e inovação; aprendizagem ativa e estratégias de aprendizado; resolução de problemas; pensamento crítico; criatividade; liderança; uso, monitoramento e controle de tecnologias; programação; resiliência, tolerância ao estresse e flexibilidade; e o raciocínio lógico.

“As empresas entenderam que o modelo mecanicista taylorista não era mais passível de operação e que as pessoas fazem diferença na condução dos processos. Curiosamente, embora elas fizessem testes de perfil comportamental, denominando essas habilidades como ‘comportamentais’, muito pouco se desenvolveu na área da inteligência do comportamento. De três anos para cá, no entanto, isso vem mudando”, afirma Edson Carli, CEO da Academia Brasileira de Inteligência Comportamental.

Segundo Lina Nakata, pesquisadora da Fundação Instituto de Administração (FIA)e da FIA Employee Experience (FEEx), para mudar esse cenário as empresas precisam criar novos critérios de avaliação dos candidatos, mensurando suas competências, habilidades e atitudes em conjunto com as qualificações mais técnicas necessárias para executar cada função.

“A área de recrutamento e seleção (R&S) pode avaliar os valores individuais de cada candidato aplicando testes de personalidade e perfil que mostrem seus comportamentos em diversas situações; fazer dinâmicas individuais e em grupo para entender como eles reagem mostrando essas habilidades comportamentais na prática; e até realizar entrevistas projetivas, colocando-os em simulações de situações reais para que apresentem sua forma de pensar e agir”, diz a pesquisadora.

“Soft skills” na América Latina e Brasil

De acordo com a Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal), a demanda por profissionais representa um problema para dois em cada cinco empregadores na América Latina. Argentina, Brasil e Peru estão entre os países que possuem maior dificuldade em encontrar talentos com as competências comportamentais necessárias.

A pesquisa “Habilidades 360º” da PageGroup, consultoria em recrutamento executivo especializado, mostra que as “soft skills” mais valorizadas pelos líderes de grandes empresas na América Latina são o trabalho em equipe (47,5%), a inteligência emocional (33,8%) e a comunicação assertiva (28,8%). No Brasil, a ordem das habilidades mais procuradas difere um pouco com a inteligência emocional em primeiro, com 42,9%, seguida do trabalho em equipe (38,4%) e da comunicação assertiva (31,1%).

Segundo o estudo, as competências comportamentais que estão mais em falta no mercado são a inteligência emocional (57%); comunicação assertiva (42%); resolução de conflitos (38,8%); e liderança (33%). Participaram do levantamento três mil executivos de cargos de alta e média gestão no Brasil, Argentina, Chile, Peru, Colômbia e México.

O levantamento revela ainda que, para 78% dos executivos pesquisados, ter equilíbrio entre as competências comportamentais e técnicas seria essencial por permitir às organizações lidarem melhor com momentos de crise e incerteza, e que 80% dos líderes não contratariam um talento que atenda às competências técnicas, mas não às habilidades sociais exigidas.

Obstáculos ao desenvolvimento de habilidades

Quando se trata de competências técnicas, faz parte do senso comum que se alguém não possui uma determina habilidade, ele poderá desenvolvê-la através do aprendizado. No entanto, ao se falar das “soft skills”, existe um mito que diz que ou elas são aprendidas na infância ou já se nasce com elas.

“Habilidades comportamentais são passíveis de serem desenvolvidas e o primeiro passo para isso é tomar consciência de como se age, aceitar e praticar inúmeras vezes a nova forma de fazer as coisas. Com a prática, a nova forma de agir se tornará hábito e se consolidará como habilidade. Por isso, metodologia consistente e estruturada é fundamental e, apesar de boa vontade, a maioria das organizações e dos RHs não possuem profissionais que conheçam a fundo como educar adultos. Por isso, a formação acaba sendo pouco efetiva”

Tatiana Vidal, fundadora e gestora da GoAhead Consultoria

A educação e formação do indivíduo e um ambiente corporativo com uma cultura organizacional desfavorável podem ser obstáculos ao desenvolvimento dessas habilidades, afirma a consultora empresarial Jorgete Lemos, diretora executiva da Jorgate Lemos Pesquisas e Serviços.

Para ela, as empresas podem contribuir com esse trabalho entre os seus funcionários incentivando a humanização das relações interpessoais em todos os níveis, adotando indicadores da qualidade de vida no trabalho como o gerenciamento participativo, a comunicação aberta e franca e a criação de uma cultura de feedback.

“É possível aprender a desenvolver ‘soft skills’ quando o indivíduo começa a ter consciência do seu modelo de pensamento, sobretudo do seu vocabulário comportamental e de eventuais crenças que limitam suas capacidades de entendimento e adaptação a diferentes ambientes de relacionamento. O entendimento deste complexo mecanismo é o que se define como ‘inteligência comportamental’ e o que permite ao profissional a adaptação, gerando valor e sendo reconhecido e valorizado por seus pares, subordinados e superiores, seja qual for o ambiente proposto”, afirma Carli.

Segundo Vidal, o mais recomendável é encontrar cursos que aliem conteúdo e prática e modelos que ofereçam opções para sedimentar os conceitos, que são mais efetivos para moldar as “soft skills”, uma vez que nesse campo apenas o conteúdo é pouco eficiente.

“A nossa experiência formando times de alta performance nos mostra que um programa de desenvolvimento de equipes comerciais deve envolver o desenvolvimento das habilidades técnicas em conjunto com as habilidades comportamentais. Combinar atividades que envolvam análise do cenário, construção de soluções e execução traz uma formação robusta e estruturada para os desafios atuais de mercado”, defende a gestora da GoAhead Consultoria.

Crise sanitária

A pandemia afetou todo o mundo, especialmente o ambiente corporativo, tornando a necessidade de desenvolver “soft skills” ainda mais importante, já que neste novo cenário de trabalho a distância a autorregulação tornou-se norma e as relações humanas no ambiente de trabalho tornaram-se mais complexas e escassas.

“O que mudou com a Covid-19 está mais relacionado com o distanciamento das pessoas e as dinâmicas de trabalho e das interações. Ter empatia por outra pessoa, por exemplo, já é uma tarefa desafiadora presencialmente falando, mas a distância ela torna-se ainda mais difícil por perdermos muitos elementos da comunicação não-verbal. Mesmo em empresas com equipes trabalhando fisicamente juntas, com a pandemia percebeu-se um pouco da perda desse relacionamento mais próximo, dificultando o desenvolvimento dessas habilidades”, afirma Nakata.

Para Carli, apesar das dificuldades impostas pela crise sanitária, é possível extrair algo positivo, já que o fato dos profissionais estarem no mesmo ambiente físico favoreceria de maneira significativa a gestão mecanizada do tipo “mando e controle”, no qual a formação de compromissos e da autogestão não tinham papel central.

“Neste sentido, as restrições sociais decorrentes da pandemia aceleraram de cinco a seis anos a necessidade do desenvolvimento destas habilidades. Mais do que nunca, habilidades comportamentais decorrentes de uma maior inteligência comportamental como adaptabilidade, autogerenciamento, construção de compromissos e produtação tornam-se elementos centrais”, pontua.

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