A crise gerada pela Covid-19, as necessidades inerentes aos negócios e uma maior acessibilidade tecnológica estão impulsionando a adoção da inteligência artificial (IA) nas empresas. De acordo com o relatório Global AI Adoption Index 2021 da IBM, quase um terço dos profissionais de TI pesquisados globalmente afirmam que seus negócios usam agora a tecnologia, com 43% relatando que sua empresa acelerou a implantação da ferramenta como resultado da pandemia.
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Essa adoção deve acelerar à medida em que quase metade dos profissionais consultados citam avanços na IA que a tornam mais acessível. A pesquisa, realizada com 5.501 negócios em 15 países, incluindo Brasil, revela que segurança de dados, automação, atendimento ao cliente e chatbots foram listados como as principais áreas de investimento com a ferramenta.
Os três principais motivos pelos quais a maioria das empresas está usando ou considerando o uso de ferramentas de automação são para gerar maior eficiência (58%), economizar custos (58%) e devolver um tempo valioso aos funcionários (42%).
Felipe Santos, CTO da aMORA, empresa do ramo imobiliário que busca facilitar a compra de imóveis por meio do uso da tecnologia, afirma que esse mercado tem duas características necessárias para que inteligência artificial resulte em melhores resultados: problemas complexos com características de não-linearidade. “Usamos a IA na precificação de imóveis, identificando palavras e características de imóveis associadas com idade e estado de conservação, e inferimos quais combinações explicam melhor as diferenças de preços entre imóveis parecidos, ajustando o precificador de acordo”.
A tecnologia também é utilizada pela empresa na identificação da demanda de consumidores, ao observar o comportamento do usuário no site e associar o perfil de buscas e resultados de campanhas. “Conseguimos inferir qual categoria de imóvel determinado grupo tem maior afinidade. Esse processo é interativo e a cada interação do usuário com nosso site, mais aprendemos sobre como atendê-lo melhor”, afirma.
Para Lucas Camargo, CEO da Instabuy, plataforma de e-commerce para supermercados, a tecnologia é parte natural dos processos da empresa quando é necessário otimizar a experiência do cliente. “O sistema ‘aprende’ e responde aos estímulos de acordo com a soma das suas experiências com todos os usuários. Vou citar apenas um exemplo, o de associação de produtos: um consumidor entra no app de um dos nossos clientes e seleciona pão de forma. A plataforma imediatamente associa a opção ‘quem comprou pão de forma, também comprou’ e apresenta o presunto fatiado, requeijão ou manteiga porque o sistema aprendeu essas relações de ‘parentesco’ entre os produtos”, explica.
Ele diz que, durante a crise sanitária gerada pela Covid-19, houve um aumento na procura pela plataforma por parte dos varejistas, que viram na venda online uma saída para o colapso do comércio presencial. “Mesmo com a abertura gradual do comércio a procura não caiu. A necessidade de vender online ultrapassa a questão da pandemia, pois quem entrou não vai sair e quem não entrou, está perdendo os clientes para quem vende online”, analisa.
Segundo Fábio Ieger, CEO da fintech iCertus, a principal razão para a adoção da IA foi ajudar os clientes. “Vimos que a necessidade deles vai além de um simples relatório, porque eles precisam saber interpretar esse documento e ainda tomar a melhor decisão. Nisso a IA é ótima. Por isso, estamos treinando diversos modelos para diferentes áreas e hoje já conseguimos fazer a pequena indústria comprar melhor graças ao uso dessa ferramenta”. Ele diz que a tecnologia é utilizada principalmente no “machine learning” (aprendizado da máquina) e na conexão dos produtos com a Alexa, assistente virtual da Amazon, e serviços de voz.
Obstáculos à inteligência artificial
No relatório da IBM, as empresas afirmam que as três principais barreiras para a adoção da inteligência artificial são a experiência ou conhecimento limitado (39%), o aumento da complexidade e dos silos de dados (32%) e a falta de ferramentas ou plataformas para o desenvolvimento de modelos de IA (28%). Mais de 90% das organizações pesquisadas disseram que a capacidade de explicar como a IA chegou a uma decisão é importante, porém mais da metade encontrou problemas, como o uso de “dados tendenciosos” ou não confiáveis, para tornar esse processo compreensível.
Encontrar mão de obra qualificada tem sido um desafio para as empresas, afirmam os representantes das organizações entrevistadas pela TrendsCE. “Encontrar pessoas qualificadas sempre foi e será um grande desafio. Uma coisa que mudou foi que, com o câmbio mais alto por conta da pandemia, ficou bem mais caro implementar e manter esse tipo de aplicação, que precisa de tecnologia de ponta, quase sempre importada e com preços em dólares”, diz Santos. “Hoje é muito difícil encontrar mão de obra qualificada e quando encontramos, o custo é muito alto”, complementa Ieger.
Para Camargo, a falta de pessoal capacitado é um dos problemas da digitalização do varejo. “Não estamos falando de desenvolvedores web. Como a maioria dos supermercados sempre viveu da venda presencial, a sua equipe não possui pessoas capacitadas para entender o processo de gestão, logística, separação e checkout da venda online. Parece simples, mas necessita de aprendizado e dedicação. Os processos são um tanto quanto complexos no início e é necessário investir na capacitação”, destaca.
Tendências de uso da IA
Outro relatório da IBM, The “2021 CEO Study, revela que mais da metade dos CEOs entrevistados espera que o uso da inteligência artificial entregue benefícios tangíveis para os negócios nos próximos anos.
Em relação ao futuro, o Processamento de Linguagem Natural (PNL) está na vanguarda da recente adoção de IA, que envolve o uso da ferramenta e computadores para ler, entender e dar sentido à linguagem humana. De acordo com a Global AI Adoption Index 2021, conforme as empresas planejam mais investimentos no uso da inteligência artificial, elas se concentram em três objetivos principais: automatizar TI e processos; construir confiança nos resultados de IA; e compreender a linguagem dos negócios.
“O 5G irá revolucionar o mundo digital e a ‘internet das coisas’ transformará os nossos eletrodomésticos em aparelhos inteligentes. No setor de alimentos, por exemplo, a geladeira irá informar quando o ovo ou o leite estiverem acabando ou quando um vegetal estiver em decomposição e poderá fazer o pedido das compras de forma automática. O fogão dará a receita para a dieta balanceada da semana, conversará com a geladeira para ver se há todos os ingredientes e fará o pedido dos que faltam. Grande parte disso já existe em fase de teste e algumas coisas já funcionam. Os nano sensores já são uma realidade e com o 5G farão parte cada vez mais da nossa realidade”, afirma o CEO da Instabuy.