O número de investidores em renda variável, como ações e fundos de investimento imobiliário, mantém a trajetória de alta no Brasil. Levantamento divulgado pela operadora da Bolsa de Valores de São Paulo, B3, mostra a marca histórica de 4 milhões de contas cadastradas na bolsa, referentes ao terceiro trimestre deste ano.
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Quando considerados somente os números de CPFs cadastrados, a bolsa conta com 3,2 milhões de investidores no primeiro semestre do ano, contra 2,2 milhões no mesmo período do ano passado. Já no terceiro trimestre, a bolsa atingiu um total de R$ 519 bilhões em recursos sob custódia, um aumento de 37% ante o penúltimo trimestre de 2020. Com 1,1 milhão de contas de mulheres e 2,9 milhões de homens, o valor em custódia da pessoa física é de R$ 490 bilhões.
Para Rafael Meyer, Head de Investimentos da Verk Investimentos, as mudanças nas taxas de juros enfrentadas nos últimos anos levaram parte da população a buscar novos investimentos e sair da tradicional caderneta de poupança, por exemplo. “Normalmente as pessoas investem na bolsa de valores para buscar oportunidades de ganhos percentualmente maiores visando longo prazo, principalmente aposentadoria. E essas são estratégias que trazem um retorno bem atrativo”.
A alta procura do brasileiro por investimentos é uma possibilidade de garantir uma maior qualidade de vida no futuro. “A rentabilidade é consequência de uma carteira bem diversificada e com risco controlado. A partir do momento que você monta um portfólio de acordo com sua necessidade de liquidez, horizonte de tempo e preferências, provavelmente investir é uma alternativa muito interessante”, completa Rafael.
Perfil mais jovem e de aportes menores
A intensa chegada de novos investidores à bolsa vinha sendo observada desde 2019, momento em que se iniciou um ciclo de queda gradual da taxa de juros no país, até chegar ao menor nível da história, em 2% ao ano.
Nascidos entre 1995 e 2010, os investidores da geração Z conquistam cada vez mais espaço no mercado financeiro. Os dados confirmam que a maior parte dos novos investidores, 48%, entra no mercado de equities na faixa de 25 a 39 anos. A faixa entre 19 e 24 anos está na sequência, com 24% dos novos investidores. Observa-se, também, que a maioria dos novos entrantes começa com investimentos cada vez mais baixos. A mediana da primeira aplicação em bolsa dos novos investidores é de R$ 352 em 2020.
“Os investidores entram na bolsa com valores cada vez mais baixos. A gente percebe a desmistificação de que investir é só para milionários. Hoje a bolsa de valores é muito acessível, por conta disso, vimos o número recorde de CPFs negociando ações esse ano, atingindo a marca de 4 milhões de investidores na bolsa. Percebemos que é um movimento que está crescendo muito, principalmente por investidores que entram, em média, com R$ 270 a R$ 300. Esse é o ticket médio mensal”, reforça o head de investimentos da Verk.
As mulheres continuam sendo apenas 30% das investidoras na bolsa, mesma porcentagem registrada em 2020. Os dados mostram, no entanto, que elas têm entrado na bolsa com valores mais altos. A mediana do primeiro investimento mensal feito por investidoras mulheres é de 385 reais, enquanto o feito por homens é de 242 reais. Segundo Rafael, “a diferença principal, é que as mulheres investem pensando no longo prazo, elas têm essa característica e também tendem a entrar com valores maiores em renda variável, enquanto os homens fazem mais movimentações de curto prazo. O que provavelmente faz com que as mulheres tenham uma rentabilidade maior em seus investimentos do que os homens”.
Diversificação de produtos e geográfica
A diversificação tem se tornado cada vez mais recorrente na carteira dos investidores. Em 2016, 78% das pessoas físicas detinham apenas ações em seus portfólios. Em 2021, esse número caiu para 49%. Atualmente, as pessoas físicas são responsáveis por 24% do volume de negociação da bolsa. Desde o ano passado, a média de investidores que operam ao menos uma vez por mês supera 1 milhão.
Essa característica está presente no dia a dia dos investidores brasileiros, é o que afirma Rafael Meyer: “Nós estamos acompanhando um aumento da diversificação dos investidores. Eles buscam variar em ações, fundo de investimento imobiliário, ETFs, fundos de renda fixa, títulos de renda fixa, fundos tradicionais, multimercados e de câmbio, por conta de uma quantidade significativa de conteúdo gratuito de educação financeira e também por um cenário com a taxa de juros mais baixa”.
O líder de investimentos também confirma que, apesar de o Sudeste concentrar o maior número de investidores, as demais regiões têm mostrado uma alta significativa há três anos. Entre 2018 e 2021, as regiões Norte e Nordeste cresceram 575% e 486% no número de CPFs cadastrados respectivamente, “o que mostra realmente que o investidor do Norte e do Nordeste está cada vez mais comprando e utilizando ações como um ativo para diversificação de patrimônio”.
Projeções para 2022
Na última sexta-feira (10/12), a B3, anunciou que prevê investimento maior em novas iniciativas e negócios em 2022, de entre R$ 380 milhões a R$ 440 milhões, ante os R$ 240 milhões a R$ 260 milhões esperados para este ano. A companhia também projetou que a distribuição do lucro líquido será de 110% a 140% ante previsto para este ano de 120% a 150%. A empresa prevê uma queda na alavancagem financeira de 2 vezes em 2021 para 1,6 vezes em 2022.
“O cenário de investimentos local é bastante desafiador para o próximo ano. Geralmente, em ano eleitoral é de muita volatilidade nos ativos de risco, de renda variável e até em renda fixa. Poderemos ter uma dívida sobre o PIB aumentando, o que mostra um aumento dos gastos sociais que desenham um quadro menos favorável para 2022. Os ativos de renda fixa vão ter uma performance mais atrativa do que renda variável no Brasil, mas por outro lado, a renda variável no exterior tende a performar muito bem. Então, enquanto a nossa bolsa pode patinar por conta da questão política, o mercado de ações externo pode se beneficiar muito. Pode ser uma ótima alternativa para os investidores”, completa.