Ainda que muito lentamente, a igualdade de gênero avança no meio corporativo brasileiro. Mesmo assim, a realidade nacional não faz tão feio no cenário mundial. Pesquisa da Grant Thornton dá conta de que o Brasil se mantém acima da média global em ocupação feminina em cargos de liderança e até entrou na lista dos 10 países com mais empresas com mulheres em cargos de liderança, de acordo com a International Business Report (IBR) – Women in Business 2019. Levantamento do Insper, em parceria com a Talenses, entretanto, mostra que apenas 13% das presidências das organizações são ocupadas por mulheres em território nacional. Nos Estados Unidos, entre as 500 maiores companhias abertas, 30 têm mulheres Chief Executive Officer (CEO) neste ano (eram 11 em 2001).
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A resistência para a ascensão vai além da competência e alcança questões culturais bastante complexas. Para Susanne Anjos Andrade, especialista em desenvolvimento humano e autora do best-seller “O Poder da Simplicidade no Mundo Ágil”, resistência parece ser um obstáculo muito maior, como mostra pesquisa da Ipsos, de 2019, que apontou que três em cada 10 brasileiros (homens) não negam seu desconforto em receber ordens femininas.
Ao resgatar questões discutidas no Fórum Econômico Mundial de 2017, conclui-se que a realidade já se apresentava drástica, ou seja, no atual ritmo de avanço serão necessários 77 anos para tornar a América Latina mais equilibrada em igualdade de gêneros. E tem situação pior, caso do Oriente Médio, onde este prazo é estimado em mais de 160 anos.
Enquanto isto, há iniciativas interessantes florescendo no planeta. A Hotmart acaba de criar o cargo de general manager para Nathalia Cavalieri, que até então ocupava a vice-presidência de Marketing da companhia, sediada em Amsterdã e com escritórios em oito países oferecendo soluções para negócios on-line com foco na criação de conteúdo.
Cultura empresarial
Fábio Souza, sócio e CEO da De Bernt, que recruta executivos para todo o Brasil, diz que nos processos seletivos em geral é cada vez maior a busca pelo gênero feminino para cadeiras executivas do alto escalão. Ele atribui o fato a questões estratégicas e de enquadramento das perspectivas ESG nos negócios. Trata-se de um critério relevante dos investidores para avaliar comportamentos ambientais, sociais e de governança, o que inclui a igualdade de gêneros.
Na sua trajetória de 35 anos de atividade, a De Bernt observa que em áreas como Recursos Humanos, Marketing e Finanças há mais espaço para a ascensão da liderança feminina. Em contraposição, os segmentos Comercial e de Tecnologia da Informação ainda são predominantemente dirigidos por homens.
Mas e se dois bons candidatos de sexos diferentes forem selecionados para uma única vaga de CEO, a escolha recai sobre qual deles? “Depende da origem mais ou menos tradicional da empresa empregadora que vai avaliar critérios como a existência de filhos, a possibilidade de nova gravidez e a disponibilidade de tempo”. A resposta de Fábio Souza retrata a cultura brasileira que ainda precisa trilhar um longo caminho na direção do esperado equilíbrio que leve, também, a remunerações iguais.
Destaque no associativismo
Estimativas recentes do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) mostram que dos 2,3 milhões de trabalhadores no segmento de transporte brasileiro de cargas, apenas 17% são mulheres, que têm assumido mais cargos de liderança nos últimos anos. Território até há pouco exclusivo do sexo masculino, o árido setor também acolhe mulheres não só como motoristas, na boleia dos caminhões, movimentando a riqueza nacional.
Elas já assumem posição de comando, inclusive de entidades de classe. Ana Jarrouge, que opera no setor há duas décadas, é a atual presidente executiva do Sindicato dos Transportadores de Carga de São Paulo e diretora da Confederação Nacional dos Transportes (CNT).
“Os ganhos e os benefícios de marcar presença no associativismo são de fato enormes, pois neste ambiente compartilhamos ideais, conhecimento e muitos desafios e, ainda, aprendemos a lidar com o networking, tarefa que nem sempre foi fácil para as mulheres”, explica Jarrouge.
O destaque da executiva, que trabalha em favor de uma política de maior inclusão, não é um fato isolado. Tania Drummond é vice-presidente da Federação das Empresas de Transporte de Cargas do Estado do Rio de Janeiro, Roseneide Fassina é vice-presidente do Sindicato das Empresas de Transporte Comercial de Carga do Litoral Paulista e Nazaré Cunha preside o Sindicato das Empresas de Logística e Transporte de Cargas do Estado do Acre. A Associação Brasileira de Operadores Logísticos, a Associação Brasileira do Segmento de Reforma de Pneus e a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) de São Paulo são outras entidades de classe que têm em comum o comando feminino.
Top em empoderamento
Luiza Trajano, presidente do Conselho de Administração do Magazine Luiza
Cristina Palmaka, presidente da SAP na América Latina e Caribe
Paula Paschoal, diretora geral do PayPal no Brasil.
Tânia Cosentino, general manager da Microsoft no Brasil
Viveka Kaitila, CEO da GE Brasil
Claudia Woods, ex-CEO na Webmotors e diretora geral da Uber no Brasil.
Lídia Abdalla, CEO do Grupo Sabin Análises Clínicas
Camila Farani, presidente no Linkedin e da G2 Capital
Cristina Junqueira, confundadora do Nubank
Maiores desafios
• Falta de autoconfiança
• Escassez de cases
• Salários mais baixos
• Tempo de evolução
• Falta de engajamento
Fonte: Susanne Anjos Andrade