O turismo, um dos setores da economia mais impactados pela pandemia, já começa a apresentar sinais de melhora e o Nordeste é o principal destino que tem puxado a retomada do setor. A região foi o local mais procurado pelos viajantes, segundo dados da Braztoa (Associação Brasileira das Operadoras de Turismo), e o mercado nacional segue representando a maior parcela das comercializações.
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No ranking dos destinos mais procurados no último mês, Gramado foi o mais buscado, seguido de Natal e Salvador na segunda colocação e Fortaleza, Maceió e Rio de Janeiro na terceira. Bonito, Jalapão e São Luís figuram entre os destinos com crescimento expressivo nesse período.
Apesar dos índices mostrarem uma redução da sazonalidade das viagens, com períodos que não correspondem às férias e aos feriados representando 30% das vendas até outubro, as férias de verão têm seu lugar de destaque nos planos de passeios ficando com 21% das comercializações, seguida pelo Réveillon, com 14% das vendas.
Segundo o economista e mestre em turismo Álvaro Martins de Carvalho Filho, o volume de atividades turísticas no Ceará apresentou um índice de crescimento de 124,2% entre junho de 2020 e junho de 2021. Este aumento foi impulsionado pela cadeia produtiva do turismo, que engloba os ramos de transporte aéreo; transportes coletivos de passageiros; locação de automóveis; AirBnb; hotéis; restaurantes; serviços culturais; congressos e outros serviços.
De acordo com o presidente da ABIH-CE (Associação Brasileira da Indústria de Hotéis – Ceará), Régis Medeiros, além da capital, estão também entre os destinos mais procurados no estado Jericoacoara, Flexeiras e Icaraí de Amontada. “Existe uma diferença dos públicos. Temos uma grande quantidade de cearenses e nordestinos de outros estados viajando para o nosso litoral para passar finais de semana ou férias. No caso de Jericoacoara, soma-se a isso os voos vindos de estados de todo o Brasil”.
Recuperação cautelosa
O turismo segue em 2021 numa evolução contínua, porém lenta. Segundo a Braztoa, em outubro, apenas 21% das operadoras superaram o faturamento da média histórica (calculada até 2019) e 31% ultrapassaram o patamar dos 50% desse índice, enquanto 48% ainda não alcançaram nem a metade do faturamento pré-pandemia.
No entanto, 100% das operadoras associadas à entidade efetuaram vendas em agosto, o que parece indicar que, apesar do volume de vendas ainda não estar dentro do esperado, já é possível ver um aquecimento da demanda por viagens. “O turismo no Brasil está em um processo de recomeço. Um exemplo são os cruzeiros marítimos que voltaram em novembro e os voos domésticos, que resgataram 80% da venda de passagens registrada antes da pandemia”, diz Carvalho Filho.
Outro indicador positivo é o ticket médio das viagens. Para 89% dos operadores, esse valor se manteve ou aumentou nos roteiros nacionais. Já em relação às viagens internacionais, esse índice se manteve para 27% das empresas e aumentou em até 50% para 54% delas. “Os valores são frutos da flutuação da oferta e demanda, de forma geral, mas há outros fatores como a inflação e o câmbio, que afetam diretamente os preços. No nacional, o peso do aéreo na composição da viagem é maior e puxa esse ticket para cima, enquanto no internacional o câmbio e as vendas para grupos acima de 10 pessoas são fatores determinantes nesse resultado”, afirma Roberto Haro Nedelciu, presidente da Braztoa.
Tipos de viagem
Em relação ao tipo, o destaque fica para os roteiros completos, com aéreo e terrestre. “A venda de uma experiência completa, que inclui o modal de transporte e serviços terrestres, incluindo seguro viagem, teve uma enorme representatividade e isso evidencia a importância do papel das operadoras nesse momento de recuperação em que o viajante quer voltar a realizar sua viagem com o apoio de profissionais que assegurem sua tranquilidade e segurança”, destaca Marina Figueiredo, vice-presidente da Braztoa.
O imediatismo ganha destaque nas datas de realização das viagens nacionais comercializadas em outubro. 63% das vendas terão embarques ainda em 2021 e apenas 6% das viagens contam com planejamento a longo prazo e se realizarão no segundo semestre de 2022 ou depois.
“A vontade e a necessidade de viajar para o bem da saúde mental, além das promoções de última hora aliadas às incertezas sobre as fronteiras e suas restrições de circulação, se mantêm refletidas em uma compra muito próxima ao embarque. Ainda fica evidente, olhando para o big data das mídias digitais, que o viajante está pesquisando muito e sendo influenciado por amigos e parentes na decisão de escolha do destino” disse Sidnei Pfau, CEO UP Soluções, empresa de consultoria especializada em turismo.
Festas de fim de ano e carnaval 2022
O Réveillon se reafirma como a data comemorativa mais vendida, seguida pelo Carnaval de 2022 e pelo Natal. Embora os períodos do ano não correspondentes às férias e aos feriados representem 30% das vendas de 2021 até o momento, indicando uma redução da sazonalidade, o Réveillon sozinho alcançou o volume das férias de julho e representa 14% do total das vendas, seguidos pelo carnaval e demais feriados com 8% cada. Já o Natal representa 6% das comercializações das operadoras.
“Temos uma previsão para o final do ano positiva, com uma virada do ano sem dúvida boa e em janeiro devemos ter também uma boa temporada porque temos uma demanda retraída muito grande devido a um ano e meio de pandemia. As viagens que foram compradas anteriormente e que não haviam sido realizadas agora estão sendo, por isso temos um cenário de novas viagens em conjunto com as remarcadas, o que gera um cenário positivo”, afirma o presidente da ABIH-CE.
No geral, as experiências mais buscadas para as festas de fim de ano foram, respectivamente: Sol e Praia; Cruzeiros; Luxo; Viagens para Montanhas; Campo e Resorts. Em relação ao tipo de viagem, os roteiros completos (aéreo e terrestre) estão no topo das preferências, com cerca de 25% das compras.
Entre os destinos mais vendidos para o Réveillon, Rio de Janeiro e Dubai lideram a lista. Já no Natal, Gramado aparece como mais buscado e para o carnaval 2022 Salvador lidera as preferências.
Mercado internacional
O mercado nacional segue representando a maior parcela das comercializações com o Nordeste se mantendo como a região mais vendida, informa a Braztoa. Porém, pela primeira vez desde o início da pandemia, a associação informa que 100% das operadoras realizaram vendas para destinos internacionais.
Isso ocorre devido à abertura de fronteiras e ao número crescente de países que estão flexibilizando restrições para brasileiros, além do avanço da vacinação em território nacional. Esses fatores geraram um índice de 72% dos embarques internacionais em outubro tendo origem de novas vendas (no mês anterior esse indicador esteve em 62%).
América Central, Caribe e Europa foram as regiões mais vendidas e entre os destinos, os destaques foram para Cancún, Portugal, Paris e Estados Unidos, mostrando que as recentes aberturas de fronteiras já começaram a mudar as preferências de viagens para fora do Brasil, já que por muitos meses destinos da Ásia figuraram neste ranking.
Em relação às viagens de estrangeiros para o Brasil, Medeiros diz que há um descompasso entre o retorno dos voos domésticos e internacionais, o que justifica o ainda baixo número de estrangeiros vindo para o Brasil. “Existem mais brasileiros indo do que turistas vindo. Isso ocorre também não estamos na época de alta temporada para quem vem de fora, que é normalmente no meio do ano (julho e agosto). Enquanto temos cerca de 70% dos voos domésticos já tendo retornado, aproximadamente 25% dos voos internacionais retornaram. Acredito que essa retomada ficará para 2022 e que, com a temporada de kitesurf chegando em julho, o Ceará terá um volume muito grande de estrangeiros”.
Previsões para o futuro
Seja pelas restrições sanitárias criadas pela pandemia, seja pela questão do câmbio e da valorização do dólar frente ao Real, o cenário imaginado para o futuro próximo é de fortalecimento do mercado interno com mais viagens ocorrendo dentro do próprio país, enquanto as viagens para o exterior e de estrangeiros para o Brasil devem demorar um pouco mais para alcançarem os patamares pré-pandêmicos.
“Antes da pandemia, tínhamos um número histórico no Brasil de cerca de seis milhões de turistas estrangeiros vindo para o país por ano, enquanto aproximadamente 18 milhões de brasileiros viajavam para o exterior anualmente. Se fôssemos fazer uma balança comercial, estaríamos com um déficit violento. Porém, agora parte desses 18 milhões que iam para fora estão viajando pelo Brasil”, defende Alexandre Pereira, secretário de Turismo de Fortaleza. Para ele, o turismo voltará com força em dezembro e janeiro, mas o turista estrangeiro demorará um pouco mais para retornar ao Brasil, por volta do final de 2022.
“Para esse novo recomeço é necessária uma parceria entre governo federal e empresas que desenvolva um projeto para o novo turismo mundial que receba o turista da melhor maneira possível com atrativos e equipamentos turísticos e com a hospitalidade que o brasileiro tem. Temos uma cadeia produtiva do turismo que precisa ser ligada à uma cadeia de apoio (infraestrutura, iluminação urbana, rodovias, saneamento básico, sinalizações claras, policiamento etc.) nos destinos a serem visitados”, analisa Carvalho Filho.