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Mulher empreendedora: autonomia financeira no combate à violência doméstica

Por: Sara Café | Em:
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A violência contra a mulher ainda é uma realidade cruel no Brasil. É o que comprova os dados de uma pesquisa do Instituto Datafolha, encomendada pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) e divulgada em junho de 2021. O levantamento apontou que uma em cada quatro mulheres acima de 16 anos haviam sofrido algum tipo de violência no último ano no país, durante a pandemia de Covid-19.


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Isso significa que cerca de 17 milhões de mulheres (24,4%) sofreram violência física, psicológica ou sexual no último ano. A porcentagem representa estabilidade em relação à última pesquisa, de 2020, quando 27,4% afirmaram ter sofrido alguma agressão. Desse total, 25% apontaram a perda de renda e emprego como os fatores que mais influenciaram na violência que vivenciaram em meio à pandemia. Ainda segundo o FBSP, em meio ao isolamento social, o Brasil contabilizou 1.350 casos de feminicídios, um a cada seis horas e meia. O número é 0,7% maior comparado ao total de 2020.

E segundo o Anuário Brasileiro de Violência Pública, a cada oito minutos uma mulher sofre violência sexual no Brasil e se levarmos em conta que muitos casos de agressão não chegam a ser registrados, o número tem chances de ser ainda mais alarmante.

Nesse contexto, as organizações da sociedade civil, como o Instituto Rede Mulher Empreendedora (IRME), são de extrema importância na busca por igualdade de oportunidades e no combate ao preconceito, exclusão, racismo, violência doméstica e outras problemáticas que carecem de soluções urgentes.

A IRME foi criada pela publicitária Ana Fontes, em 2010, a fim de compartilhar dicas e conteúdos sobre gestão para mulheres que empreendem ou desejavam abrir seu próprio negócio. Depois de conseguir tirar do papel sua ideia e entre tantas histórias de superação que já ouviu, uma marcou Ana profundamente. Uma das empreendedoras da Rede contou que havia também se separado do marido. O relato, a princípio, causou um desconforto, “mas ela logo justificou que o término tinha sido positivo, pois colocou fim a um relacionamento abusivo, marcado por violência física”, afirmou Ana.

Relacionamentos abusivos e independência financeira

De acordo com o DataSenado de 2021, 46% das mulheres em situação de violência doméstica não denunciam porque dependem financeiramente do agressor. Levantamentos sobre o assunto mostram ainda que um dos fatores de risco à mulher em situação de violência é a conduta do agressor de impedi-la de trabalhar ou estudar.

Por isso, o IRME realizou a 6ª edição de uma pesquisa anual, estudo exclusivo e de referência no Brasil, que aborda temas do universo empreendedor feminino e traz ainda perspectivas sobre o perfil dessas mulheres e a relação com seus negócios. Entre maio e junho de 2021, cerca de 2.400 mulheres participaram do levantamento online.

A pesquisa revelou que 34% das mulheres ouvidas sofreram algum tipo de agressão em relações conjugais e ainda apontou que, ao empreender, 48% delas conseguiram sair desses relacionamentos abusivos e até violentos.

De acordo com Ana Fontes, fundadora e presidente da Rede e do Instituto Rede Mulher Empreendedora, o estudo confirma o sentimento evidente das mulheres que empreendem. “De forma geral, as mulheres se sentem mais independentes, confiantes e seguras quando têm uma geração de renda própria, permitindo que ela mude sua condição dentro de relacionamentos abusivos”, afirma.

Os números comprovam que a independência financeira auxilia muitas mulheres a se libertar de relações tóxicas e que o empreendedorismo feminino vai muito além da geração de renda. O estudo também revelou que 81% das mulheres consultadas concordam que empreendedoras têm mais autonomia na vida, e por isso são mais independentes em suas relações conjugais e 72% avaliam que são totalmente ou parcialmente independentes financeiramente.

Embora o diagnóstico da pesquisa demonstra o potencial transformador da realidade de mulheres em contextos de violência, ele traz também os empecilhos mais comuns para as empreendedoras, como a venda dos produtos e serviços e o acesso a recursos financeiros e crédito. “Mesmo com autonomia e independência financeira, as mulheres ainda têm dificuldade em conseguir acesso a crédito. 47% das empreendedoras que participaram da pesquisa e que solicitaram crédito tiveram seus pedidos negados. Essa conta não fecha, não é mesmo?”, explica Ana.

Capacitação para o empreendedorismo

Um levantamento do Sebrae identificou que as mulheres já correspondem a 51% dos empreendedores iniciais. E as empresas chefiadas por elas estão concentradas principalmente em quatro áreas de atuação: restaurantes (16%), serviços domésticos (16%), cabeleireiros (13%) e comércio de cosméticos (9%). A maior parte trabalha dentro de casa (35%).

Abrir o próprio negócio envolve muitos desafios. Por isso, o IRME já capacitou mais 200 mil mulheres por meio de uma série de iniciativas com foco nos grupos mais vulneráveis, desde o ano de 2019 até o início do mês de outubro de 2021. Um dos programas liderados pelo Instituto é o Potência Feminina, que tem apoio do Google.org e oferece três trilhas de conhecimento: empreendedorismo, empregabilidade e tecnologia. Mais de 35 mil empreendedoras já foram certificadas pelo programa.

Outra iniciativa é o Ela Pode, focado em apoiar mulheres na recuperação da autoestima, através de capacitações com foco em habilidades como liderança, como falar em público, educação financeira, negociação e letramento digital. Liderado pelo Google com apoio da Rede Mulher Empreendedora, o programa Cresça com o Google, realizou diversas edições ao longo de 2021, cinco delas dedicadas especialmente às mulheres: desenvolvimento de carreira, empreendedorismo, tecnologia, retorno ao mercado de trabalho, além de uma edição dedicada às mulheres pretas.

“Acreditamos que quando investimos em mulheres, elas contribuem dando um retorno à sociedade. Elas investem na educação dos filhos, no bem-estar das comunidades onde vivem e na construção de um mundo mais igualitário”, finaliza Ana Fontes, fundadora da Rede Mulher Empreendedora e do Instituto RME.

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