Medição de batimentos cardíacos e aferição da pressão arterial são, atualmente, alguns dos serviços propiciados e facilitados pelo uso dos gadgets. “Gadget” pode ser definido como um dispositivo, em geral eletrônico, como smartphones, smartbands e smartwatches. Equipamentos como esses vêm participando cada vez mais ativamente do setor de saúde no Brasil.
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Entre abril de 2020 e março de 2021, a Xiaomi chegou a atingir 950% no aumento nas vendas de balanças – também consideradas gadgets –, em algumas regiões do país. Além disso, a empresa chinesa teve picos nas vendas das smartbands, como afirma uma publicação do Portal IG. A prática mais frequente de exercícios físicos em casa, em virtude da pandemia, foi listada como o principal fator do crescimento.
“O uso dos gadgets na saúde é um processo importante de evolução da sociedade, que está passando por uma transformação digital, e a gente precisa, também, ficar muito atento principalmente, enquanto Governo, para garantir que isso não aprofunde as desigualdades de acesso. Mas, de fato, a potencialidade disso é muito grande para otimizar o atendimento”, destaca Uirá Porã, assessor especial de Inovação da Escola de Saúde Pública do Ceará e coordenador do Laboratório de Inovação no SUS Ceará.
A head de saúde e doutora em Engenharia Elétrica, Liselene Borges, elenca, em um artigo para o Instituto Venturus, as principais diferenças entre os tipos de gadgets que podem ser usados na saúde. “Os gadgets de prevenção são, em geral, aqueles que utilizamos para monitorar a nossa rotina, validando nossos comportamentos a fim de garantir nosso bem-estar e prevenir futuras enfermidades. Fora os medidores de batimento cardíaco, também incluiria os contadores de passos, os controladores de ingestão de água e os medidores de ondas cerebrais”. Até mesmo os dispositivos de detecção de poluição no ambiente podem entrar nesse tópico.
“Os gadgets de diagnósticos ou acompanhamento são muito úteis para que doenças possam ser diagnosticadas, assim como para o acompanhamento de pacientes que possuem algum tipo de enfermidade que precisa ser controlada”. De acordo com Liselene, alguns exemplos são o medidor de glicemia, o detector de presença de glúten em alimentos e o de detecção de queda, útil principalmente para idosos, além de gadgets como o que analisa o ciclo menstrual.
Ainda segundo a engenheira, o terceiro tipo abrange os gadgets de tratamento. “São os utilizados para tratar enfermidades de maneira temporária ou permanente. Em geral, estes gadgets são prescritos por um profissional especializado. Exemplos clássicos deste tipo seriam o aparelho auditivo, o marca-passo e o medidor de insulina”, explica.
Para Uirá Porã, a introdução desses equipamentos na rotina de pessoas comuns também auxilia os profissionais da área da saúde. “É diferente chegar em um posto de saúde, em uma consulta médica, e, ao invés de só falar o que eu estou sentindo, fornecer para o profissional o acesso a dados detalhados do meu batimento cardíaco na última semana, por exemplo. Isso vai aprofundar muito a possibilidade de personalização, de chegar ao melhor diagnóstico e ao melhor tratamento para cada pessoa”.
Healthtechs em alta
Healthtechs são startups que aliam saúde e tecnologia. De acordo com o Portal Distrito, o número de healthtechs cresceu cerca de 400% entre 2018 e 2021 no Brasil, passando de 248 para 981. O portal Future Health destaca, também com base em dados do Distrito, que foram US$ 260,7 milhões investidos no setor entre janeiro e outubro do ano passado.
Marcelo Toledo, CEO e um dos sócios da Klivo, concorda que o momento é de expansão. “O mundo das fintechs – empresas que empregam tecnologias no setor financeiro –, por exemplo, teve um boom por volta de 2012, quando o número de investimentos feitos nesse segmento foi muito grande. E, se for comparar, isso ainda não ocorreu na saúde. Por isso, a tendência é que eles aumentem cada vez mais”.
A Klivo é uma empresa de monitoramento para pacientes crônicos e oferece três principais dispositivos, como explica Marcelo, em uma abordagem que considera high-tech e high-touch. “O primeiro dispositivo lançado foi um glicosímetro, um aparelho de monitoramento que a gente fornece para os diabéticos. Além disso, estamos terminando de integrar outros dispositivos com a nossa plataforma, e eles vão auxiliar o segmento da obesidade. É uma pulseira, onde eu consigo monitorar atividades físicas, e uma balança”.
“Além disso, a gente tem três partes tecnológicas no nosso produto. Um aplicativo, que é a interface de contato dos membros com dados e hábitos deles e com os medicamentos que eles utilizam. Temos os dispositivos que monitoram essas pessoas à distância, e a gente tem, também, um backoffice, que é um sistema que registra todas essas informações e geram insights para o nosso time clínico”, pontua o CEO.
Ainda segundo Marcelo Toledo, o autodiagnóstico não chega a ser um problema, porque os gadgets ajudam, principalmente, no autoconhecimento. “Quando se fala em doenças crônicas, estamos falando de pessoas que precisam conviver com isso durante 24 horas por dia. Nós conseguimos empoderar essa pessoa e ajudá-la a cuidar da própria saúde. Hoje, um diabético pode conhecer muito melhor como gerenciar a saúde dele, entendendo como o próprio corpo reage em relação aos alimentos e em relação à insulina, por exemplo. A pessoa precisa sim entender esses dados. Para isso, existem dispositivos que vão auxiliar essa pessoa a ter mais liberdade e conseguir viver sem precisar ficar ligando para o médico ou indo no hospital. Mas esses mesmos dispositivos também vão auxiliar e indicar os momentos nos quais ela precisa recorrer a um profissional, porque, obviamente, o entendimento de como ajustar uma medicação ou como solicitar mais exames só um médico pode oferecer”.
Além das healthtechs, a saúde pública também segue investindo nos gadgets. Uirá Porã destaca, ainda, uma das iniciativas que vêm sendo desenvolvidas no Felicilab. “No laboratório, a gente fez parte do desenvolvimento do capacete Elmo (equipamento de respiração assistida, criado em abril de 2020, que auxiliou no tratamento de pacientes com insuficiência respiratória causada pela Covid-19), que não chega a ser um gadget mas é um dispositivo para a saúde. Agora, estamos desenvolvendo o Elmo 2.0, e eu posso dizer que ele já começa a entrar na definição de gadget, porque vai justamente ter um conjunto de sensores que podem se conectar, seja aos equipamentos médicos, seja ao celular do médico, para poder agilizar esse processo de cuidado”.