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Formação de novos profissionais deve abranger tecnologia e soft skills

A tecnologia, atualmente, pode ser classificada como transversal, permeando diferentes setores e sendo uma importante característica para a economia e para o mercado de trabalho. Nesse contexto, a tecnologia vem influenciando, inclusive, na escolha profissional, em um movimento que já não pode mais ser visto como individual, e sim como uma transição coletiva.


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“Hoje não podemos pensar a sociedade sem o uso dos recursos tecnológicos. Basta ver o número de profissões que foram surgindo nos últimos anos e notar que a maior parte delas são baseadas no uso da tecnologia. Nós precisamos formar as pessoas para o mercado de trabalho com a capacidade de elas se atualizarem, porque daqui a dez anos, por exemplo, vamos ter uma série de novas profissões que hoje não existem”, destaca Joel Rodrigues, professor da Faculdade Senac/CE e líder em Pesquisa e Desenvolvimento do Sistema Fecomércio/CE.

A pesquisa “Projetando 2030: uma visão dividida do futuro”, encomendada pela Dell Technologies e realizada pela entidade norte-americana Institute for the Future (IFTF), corrobora o ponto levantado por Joel. Com base na opinião de 3800 líderes de médias e grandes empresas de 17 países, o levantamento apontou que 85% das profissões da próxima década ainda não foram inventadas. Ainda segundo o estudo, 84% dos líderes esperam que seus funcionários saibam lidar bem com a tecnologia, e 75% dos entrevistados acreditam que as posições de liderança deverão ser ocupadas por nativos digitais.

“Internet das coisas, saúde digital, o próprio conceito de metaverso e o gerenciamento desse espaço, por exemplo, são algumas das áreas que devem crescer ainda mais. Para as ‘profissões do futuro’, é preciso que tenhamos profissionais aptos a desenvolver soluções e as manter. A escola tem que preparar as pessoas para entender como funcionam as tecnologias, e isso deve ser parte do conhecimento básico como antigamente era saber ler, escrever e fazer a tabuada. Hoje já existem modelos pedagógicos que são baseados em tecnologias, inclusive no Brasil”, explica o professor da Faculdade Senac.

A tecnologia como intermediadora

Pensando na relação entre tecnologia e formação desse novo profissional, Sidarta Cabral, gerente da Escola de Gastronomia e Hotelaria do Senac/CE, explica que existem duas vertentes. Uma é a forma como esse profissional vai usar a tecnologia no próprio emprego, e a outra é o recurso tecnológico utilizado ainda durante o processo de aprendizado no curso formador.

“É importante lembrar que a inovação não é só o computador mais potente ou a inteligência artificial, é trabalhar com inteligência e eficácia para resolução de problemas. Por isso que alguns conceitos da inovação são aplicáveis para qualquer área. Ainda assim, a tecnologia aparece como uma facilitadora. Nós vimos, por exemplo, o quanto o empreendedor precisou se digitalizar nesses últimos anos, utilizando ferramentas como os aplicativos e as redes sociais”, pontua Sidarta.

Esse foi um método utilizado por Gilmar Lopes, após concluir o curso de Estética no Senac Cariri. Apesar de não atuar em uma profissão diretamente ligada ao conceito mais difundido de tecnologia, o esteticista reforça a relevância contemporânea da área e como pode alcançar um público ainda maior e ter uma comunicação mais eficaz através de recursos tecnológicos.

“A estética oferece um olhar voltado para o autocuidado e para uma promoção de qualidade de vida. Esse é um fator importante que faz com que ela seja atual e permaneça sendo. A tecnologia pode ser aproveitada de várias formas. Além do trabalho desenvolvido nas redes sociais, como o Instagram, utilizo também sistemas para cadastro de clientes e armazenamento da evolução dos pacientes. Aparelhos e aplicativos como sistemas de computador facilitam muito o controle e estão diretamente envolvidos na busca por bons resultados, porque ajudam a organizar um negócio”, explica Gilmar.

Ao fazer parte do curso durante o período da pandemia, Gilmar conta que o ensino à distância foi uma ferramenta utilizada para que o conteúdo teórico fosse adiantado e, assim, os alunos tivessem a bagagem necessária para as aulas práticas. Sobre a vertente do uso da tecnologia durante o ensino e capacitação, Sidarta Cabral, gerente da Escola de Gastronomia e Hotelaria do Senac/CE, aponta que o EAD já era uma tendência antes mesmo da pandemia, e que, hoje, a instituição foca em oferecer um modelo híbrido aos alunos.

“Com a maior utilização do ensino à distância, houve até algumas declarações sobre o fim da aula presencial. No entanto, o retorno presencial foi muito comemorado. Entendendo isso, o Senac oferece um formato flexível onde há o ensino presencial, mas com parte desse conteúdo online. São conteúdos e atividades que estão lá não apenas de forma complementar, mas devem ser partes integrantes do conteúdo”, aponta o gerente.

A formação do futuro: competências técnicas e emocionais

Além de possibilitar o ensino à distância, a tecnologia também fez com que muitas empresas tivessem um impacto menor durante a pandemia, já que, em vez de ser interrompido, o regime de trabalho aderiu ao home office. No entanto, Sidarta destaca que essa modalidade também deve ser “ensinada” durante a formação do profissional. “Nós trabalhamos com o conceito de desenvolvimento de competências, incluindo as socioemocionais ou soft skills. Para o home office, é necessário desenvolver características como autonomia, autogestão e didatismo, porque existe o lado positivo, da comodidade, mas tem o lado negativo também. O principal lado negativo foi viver esse processo de ansiedade das pessoas que não estavam prontas para essa cultura organizacional diferenciada. Se a pessoa não tiver autogestão, ela tende a se perder e pode não dar os resultados que a empresa espera”.

Em pesquisa realizada pela empresa prestadora de serviços de tecnologia Globant, divulgada em 2020, 84% dos funcionários admitiram sofrer alterações no sono desde o início do trabalho em modo home office. Além disso, entre os 900 colaboradores que responderam à enquete, 67% apontaram que não conseguem separar trabalho e vida pessoal, e 49% acreditam que tiveram uma queda no rendimento.

Em relação à produtividade, outro levantamento, produzido pela Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo (FEA-USP) e pela Fundação Instituto de Administração (FIA), indicou um número bem diferente, onde 81% dos entrevistados apontaram ter um rendimento no home office igual ou maior ao do presencial. Ainda assim, também é possível ver o lado desfavorável citado por Sidarta. De acordo com a mesma pesquisa, 45% dos funcionários assumiram que estão com uma carga horária superior às 44 horas semanais estabelecidas pela legislação.

Joel Rodrigues, professor da Faculdade Senac/CE e líder em Pesquisa e Desenvolvimento do Sistema Fecomércio/CE, também acredita que as instituições de ensino têm um papel fundamental na preparação técnica e emocional dos futuros profissionais. “Nós precisamos de instituições de ensino que ajudem os estudantes a criar autoconfiança, a ter um desenvolvimento integral. Precisamos cada vez mais valorizar a aprendizagem ao longo da vida. O normal vai ser viver ‘fora da caixa’ e fora da zona de conforto, porque os ciclos de inovação estão cada vez mais curtos. A escola tem um papel primordial porque ela também tem que se adaptar a essa evolução, desenvolvendo novas metodologias de ensino baseadas no aluno, para que o aprendizado ocorra de forma individualizada”.

“A convergência entre o ambiente virtual e o ambiente real vai gerar um potencial enorme em termos de novas profissões e novos interesses, por isso, a educação precisa se adaptar. O nosso maior desafio é criar pessoas que sejam cada vez mais humanas em um ambiente cada vez mais virtual”, finaliza Joel.

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