A geração de energias renováveis tem crescido no país, sobretudo no Ceará, protagonista nesse segmento em 1996, quando da instalação, na Praia Mansa, no Mucuripe, do primeiro Parque Eólico, na época sem qualquer regulamentação. No ano passado, o Estado voltou a ser protagonista, desta vez com a assinatura do primeiro Memorando de Entendimento (MoU) com a empresa australiana Enegix Energy visando a futura indústria do hidrogênio verde (H2V). Ao mesmo tempo deu início ao estudo na direção de políticas públicas para a cadeia do H2V e também para transformar o Porto do Pecém num Hub para o mundo. Desde então, 21 MoU foram assinados com empresas brasileiras e internacionais, envolvendo mais de US$ 20 bilhões.
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O Governo do Ceará, a Universidade Federal do Ceará (UFC), a Federação das Indústrias do Estado do Ceará (Fiec) e o Complexo Industrial e Portuário do Pecém (CIPP) assumiram compromisso de apoiar os empreendedores. As informações são de Fernando Antunes, professor da UFC e cientista Chefe em Energia no Programa Ciência e Inovação em Políticas Públicas da Fundação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico (Funcap). Ele afirma que o Ceará partiu na frente e hoje reúne todas as condições para alavancar seu potencial energético e alcançar, de forma mais célere, o crescimento sustentável, tanto econômico como social.
Atualmente, mais da metade da energia do Ceará é produzida pelas fontes renováveis, exatos 58% (somatório da eólica e solar), segundo a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). O Ceará passou de um estado 100% consumidor para exportador de energia elétrica – observa Fernando Antunes. “As energias renováveis passaram a ser vistas como as fontes de energia para descarbonização do planeta, que é a tendência mundial (acordo de Paris, COP26 e etc.). Associado a essa realidade, os custos de produção de energia elétrica a partir das fontes renováveis, solar e eólica, têm caído a preços inferiores que das fontes hidráulicas. Este fato coloca o Brasil, o Nordeste e, sobretudo o Ceará, no foco da descarbonização” – garante.
Com a criação e o avanço do Hub H2V, as perspectivas são promissoras para o setor energético cearense, já que a transição da matriz energética é uma realidade. E isso abre, evidentemente, a possibilidade de novos investimentos no Ceará. Fernando Antunes, inclusive, ressalta que o estado tem vários atrativos, o que o torna mais viável para investimentos: elevado potencial de energia eólica onshore (94 GW) e offshore (117 GW); elevado potencial de energia solar (643 GW) com prioridade em extensas áreas degradadas (194 GW) e condições apropriadas do Porto do Pecém para sediar um Hub de H2V.
Além disso, ele destaca que o Ceará é o Estado com condições fiscais e administrativas confiáveis para o estabelecimento de parcerias com instituições públicas ou privadas – “há muito tempo que o Ceará, independente da cor do governo de plantão, é bem administrado. Isso é algo impagável”. Além disso, tem universidades e institutos tecnológicos de reconhecida credibilidade; qualidade da mão de obra e rede de ensino médio e superior com capacidade de atender a demanda da nova cadeia produtiva.
Ele afirma que dados do Atlas Eólico Solar mostram que o potencial do Ceará em energia solar é de 643 GW, de eólica onshore (em terra) é de 94 GW e off-shore (no mar) é de 117 GW. Este potencial de energia renovável traduz-se em cerca de 2,5 GW em parques solares e 2,8 GW de parques eólicos. O Plano Decenal de Expansão de Energia (PDE 2031) traz importantes investimentos em linhas de transmissão – LT para o Ceará: Nova SE de 500 kV em Morada Nova – reforçando a capacidade de conexão para a região leste do Ceará; Linha de 500 kV interligando a SE Quixadá com duas novas SE’s de 500 kV em Crateús e Teresina IV – expandindo a capacidade de conexão para novos projetos de Energia Solar no Sertão Central do Ceará, induzindo o programa Renda do Sol pelo Governo do Ceará; e seccionamentos na Linha 230 kV Milagres – Banabuiú -, reforçando a capacidade de escoamento de geração na região Sul do Ceará. Estas obras serão contempladas nos próximos leilões de concessão de transmissão e comporão os reforços necessários para a consolidação do Hub do Hidrogênio Verde do Ceará.
Para o analista de Políticas Públicas do Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará (Ipece), Witalo Paiva, é possível avaliar a contribuição da atividade de geração de energia ao desenvolvimento econômico sob duas perspectivas: uma focando no seu produto, a energia que é produzida; outra, avaliando-a como uma atividade econômica propriamente dita. Especificamente para o caso cearense, a contribuição da geração de energia para desenvolvimento do estado reside principalmente no seu papel como uma atividade econômica, como produtora de bens e serviços, ampliando renda e empregos.
No que diz respeito a energia produzida – explica -, a ocorrida em território cearense deve atender à demanda local e de todo o país, uma vez que “temos um sistema integrado nacionalmente, e terá um papel importante como insumo essencial para atividades econômicas e para o bem-estar da sociedade. Soma-se a isso o fato de sua produção ser ambientalmente sustentável, o que amplia o seu retorno social.” E essa contribuição ao desenvolvimento do país e do próprio estado é clara e relevante, especialmente numa perspectiva de longo prazo, com as restrições ambientais se tornando ainda mais intensas.
Ter uma energia originada em uma fonte sustentável, tanto em termos econômicos como ambiental, é um ativo poderoso – garante Witalo Paiva, acrescentando que, adicionalmente aos ganhos já citados, o Ceará e sua economia podem ganhar muito com o desenvolvimento da atividade econômica de geração de energia no Estado. “Temos observado nos últimos anos que esta atividade tem ganhado relevância em termos de participação e de contribuição para o crescimento da economia estadual”.
Seu potencial tem se revelado e para ampliá-lo e aproveitá-lo de forma efetiva é preciso favorecer o desenvolvimento, não apenas da geração em si, mas de toda cadeia de valor associada à atividade, ampliando os negócios associados, os bens e serviços ofertados localmente de forma competitiva, absorvendo tecnologia e favorecendo a inovação, entre outros pontos. É nesta perspectiva que os ganhos para a sociedade cearense podem ser ampliados – conclui o analista de Políticas Públicas do Ipece.
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