Entre janeiro e abril de 2022, o Brasil somou 761 transações envolvendo fusões e aquisições – juntamente a outras modalidades como investimentos privados, capital de risco e aquisição de ativos – de empresas, de acordo com dados divulgados pela Transactional Track Record (TTR), uma plataforma de tecnologia financeira. Embora a economia do país ainda enfrente um período de instabilidade, o M&A (Mergers and Acquisitions, na sigla em inglês) é visto com bons olhos para o desenvolvimento das corporações.
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“As empresas precisam crescer e, para isso, elas têm duas formas. Organicamente, através de investimentos de capital de giro, ou através das aquisições. Como há uma taxa de juros alta, faz mais sentido, nesse momento, buscar oportunidades de fusões e aquisições”.
Marcelo Castello, sócio da Verk Investimentos.
Isso explica, inclusive, a alta de negociações mesmo durante a pandemia. Em 2021, o relatório da TTR apontou 2560 negócios envolvendo fusões e aquisições no país. Foram 1691 registros em 2020, 1660 em 2019 e 1282 em 2018, o que comprova o crescimento do número de transações nos últimos anos. Entre os setores com maior destaque estão tecnologia, financeiro, varejo e saúde. Em relação a 2020, o número de fusões e aquisições envolvendo empresas do ramo tecnológico cresceu 67%.
Considerando os valores envolvidos, o estado de São Paulo sediou as maiores movimentações, alcançando quase R$ 463 mil. O Rio de Janeiro vem na sequência, com R$ 265 mil. Somando cerca de R$ 58 mil aparece o Ceará, na terceira colocação. De acordo com dados da PwC Brasil, em 2021, as transações globais envolvendo M&A movimentaram cerca de US$ 11,8 bilhões.
Ainda que o momento seja favorável, é preciso avaliar qual o objetivo da empresa ao avançar nas negociações. Um foco bem estabelecido é fundamental para otimizar os ganhos da organização.
“Em empresas que atuam no mesmo setor, mas em etapas distintas do processo, a fusão empresarial pode gerar a verticalização. Ou seja, todas essas etapas passam pelo controle de uma mesma gestão. Assim, a empresa consegue diminuir sua dependência de outros envolvidos e pode criar uma produção ainda mais focada no mesmo objetivo. Com isso, é possível agilizar e facilitar a troca entre essas etapas de produção. Também [é possível citar] a economia de escala e escopo. Operações como essa podem ajudar empresas a ter economias na produção ao fabricar grandes quantidades, o que interfere na escala e na relação de custo médio por unidade e volume produzido”, esclarece Dener Lippert, CEO da V4 Company, em artigo publicado no portal InfoMoney.
Além disso, Dener traz o ganho em expertise e tecnologia como motivadores de novas aquisições. O ponto também é defendido por Ênio Arêa Leão, diretor do Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças (IBEF) do Ceará.
“Uma empresa, quando quer entrar em uma região nova, precisa montar uma equipe e uma estrutura, além de buscar clientes. Mas isso tem um custo muito alto, porque a curva de crescimento é lenta. Quando eu opto por comprar um negócio que já tem um mercado relevante naquela região, é um caminho mais rápido. Além de comprar o mercado, outro motivo para fazer uma aquisição é comprar o conhecimento. Comprar, por exemplo, um processo produtivo, uma tecnologia, ou mesmo um ativo, como uma fábrica”, destaca o diretor.
Ênio explica, ainda, que dentro da “aquisição de conhecimento” citada está envolvida, principalmente, a aquisição de pessoas. “Quando eu compro uma empresa, o grande ativo que eu estou olhando, na verdade, é a capacidade das pessoas que trabalham ali. É como se eu tivesse pagando um pedágio para trazer aquela equipe para trabalhar comigo”.
Por isso, é fundamental que os funcionários da empresa responsável pela aquisição também sejam incluídos no processo. O diretor do IBEF-Ceará pontua que o setor de Recursos Humanos é uma parte muito ativa no mercado de M&A, fazendo com que atuais e futuros funcionários compreendam a cultura da empresa e a finalidade das negociações.
Para Marcelo Castello, sócio da Verk Investimentos, é necessário que a empresa tenha uma estrutura mínima para pensar em fusões e aquisições. Por isso, o especialista lista alguns pontos que devem ser levados em consideração pelos empresários:
Ari de Sá Neto, CEO da Arco Educação, concorda que uma boa governança é essencial para a estabilidade da companhia. “Muito mais do que um elemento de cobrança, os órgãos de governança se tornam elementos que ajudam a melhor gerir qualquer companhia, seja identificando oportunidades, como novas avenidas de crescimento, inovação e tendências de mercado, como também os desafios que precisam ser enfrentados, relacionados, por exemplo, a crise econômica mundial ou ruptura nos sistemas de distribuição e logística.”
“Acredito, também, que esses mecanismos de governança tranquilizam os investidores minoritários, no sentido de que eles estão apostando em empresas que têm mecanismos de controle sólidos e que garantem organização e transparência”, pontua o executivo da empresa cearense, conhecida por fazer aquisições desde startups, como a Eduqo, até sistemas completos de ensino, como o Positivo, adquirido em 2019 por 1,65 bilhão de reais.
Victor Moreira, diretor do Grupo Oto, também reforça alguns pontos que o empreendimento leva em consideração antes de uma aquisição. “Analisamos o potencial de crescimento daquela organização, aumento de market share e sinergias geradas, principalmente sinergias voltadas para as áreas que não são nosso negócio, como compras, RH, suprimentos e demais setores administrativos”, explica Victor, destacando que a projeção para o futuro é continuar com crescimento orgânico e inorgânico, incluindo análise de novos mercados na oncologia e alto investimento, também, na área da cardiologia, com uma das maiores tecnologias do Norte-Nordeste.
Para Ênio Arêa Leão, diretor do IBEF-Ceará, também é possível destacar pontos que devem ser observados pelo empresário que está disposto a vender a empresa. “Existe tanto a venda total de negócio quanto a parcial. Vender uma empresa não é um fim, porque ou eu tenho a liquidez para desenvolver outros projetos, ou eu vou me juntar com um novo sócio para fazer essa empresa crescer”.
“Então, é muito importante, ao vender uma empresa de forma parcial, saber que o preço não é o único indicador. Deve ser considerado, principalmente, quem está comprando. Essa é a grande dificuldade para quem vende, porque é uma transação que se faz uma ou duas vezes na vida. Por isso, esse empresário, geralmente, não tem a experiência necessária para fazer uma operação como essa”, completa o diretor, ressaltando que a dica de buscar um especialista nesse tipo de transação é útil e deve ser praticada por compradores e vendedores.
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