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Quebra de safra aumenta preço do algodão

Senões, incertezas e desafios rondam a safra brasileira de algodão. O fato, entretanto, parece não tirar o ânimo de produtores e exportadores e também de analistas deste mercado que continua crescendo, apesar da adversidade climática. Este é o retrato do segmento do algodão brasileiro que mantém posição de destaque na produção (Mato Grosso e Bahia), no consumo e na exportação. E o Ceará ensaia os primeiros passos.


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Trata-se de uma safra que começa a ser colhida e deverá alcançar 2,6 milhões de toneladas. O volume é 10% superior ao da safra anterior, quando foram colhidas 2,35 milhões de toneladas, mas abaixo das 2,8 milhões de toneladas inicialmente previstas. Em live promovida pela Associação Matogrossense de Produtores de Algodão no dia 15 de junho, o presidente da Associação Nacional dos Exportadores de Algodão (ANEA), Miguel Faus, comentou que o aumento não acompanhará a ampliação de 17% da área plantada, em função da estiagem. Do total da colheita, a expectativa da ANEA é de exportar 1,9 milhão de toneladas na safra atual, contra 1,7 milhão de toneladas do ano comercial de 21/22.

Bill Balleden, CEO da Dragontree Commodity Trading e ex-presidente da International Cotton Association (ICA), na mesma live,avaliou que apesar da quebra de 10% por questões climáticas, a safra brasileira de algodão continua crescendo, enquanto a indiana está em queda, da mesma forma que a americana. Mesmo assim, ele teme pelo desequilíbrio na relação oferta/demanda porque praticamente todos chegarão juntas ao mercado, o que torna o desafio nacional ainda maior. “A demanda por algodão deve enfraquecer porque a alternativa mais barata de fibras sintéticas como viscose e poliéster não favorece o algodão”, ponderou.

Os maiores produtores de algodão

Em menos de duas décadas de atividade da Associação Mato-grossense de Produtores de Algodão (AMPA), o Mato Grosso se tornou o maior produtor do Brasil, o que levou o País ao grupo dos cinco maiores exportadores do mundo. Sozinho, o Mato Grosso responde por mais de 60% da produção brasileira e das exportações do País.

Igualmente em destaque, conforme dados da Associação Baiana de Produtores de Algodão (ABAPA), a Bahia tem respondido por 18% a 20% da produção e da exportação brasileira de algodão. Na última safra, a Bahia produziu 517,740 toneladas e exportou 357 mil toneladas gerando divisas de US$ 605,381 milhões.

Malhas e fios

Diante de uma conjuntura de pressão de custos e de margens, o presidente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil (ABIT), Fernando Pimentel, projeta um segundo semestre “eletrizante” para a indústria têxtil no mercado interno. Isso dada a baixa produção dos quatro primeiros meses do ano, com queda de 19,2%, ainda que em cima de uma base fraca. “Mas tenho fé que teremos um segundo semestre razoável com a condução dos negócios na ponta dos dedos”, alertou. Para 2023, Pimentel diz não se aventurar a fazer previsões.

Preço de exportação

O coordenador do Comitê do Algodão da ABIT, Sérgio Benevides, está temeroso com a elevação de preço e até a falta do algodão no mercado nacional, apesar dos recordes de produção que o Brasil vem batendo nos últimos anos. A projeção inicial de 2,0 milhões de toneladas foi superada, da mesma forma que a reprojetada de 2,4 milhões devendo chegar a 2,5/2,6 milhões de toneladas para um consumo interno de 700 mil toneladas. Uma situação aparentemente tranquila com sobra de 1,7 milhão de toneladas.

Ocorre, entretanto, que o Brasil compete com o preço valorizado da exportação que resulta da soma da cotação em Nova Iorque (historicamente em US$ 0,80 e que está por volta de US$ 1,44) acrescida do ágio de 0,20 centavos de dólar. “A indústria nacional terá que pagar o preço de exportação ou importar para não ter desabastecimento”, comenta Benevides. Além do resto do mundo não produtor de algodão, somente a China, a grande importadora, consome algo parecido com o Brasil (720 mil toneladas/ano).

Ameaça dos sintéticos

Como empresário à frente da Companhia Valencia Indústria Têxtil, Sérgio Benevides tem em mente a preocupação com o custo envolvendo o algodão, frete, fertilizante (que quadriplicou em dólar durante a pandemia), com reflexo direto no preço do tecido e nos fios e estrangulando as malharias. Chega, então, a ameaça do fio sintético, apesar da alta do preço do petróleo. Ele lembra que há 50 anos, o algodão respondia por 50% de todas as misturas que são transformadas em fios e tecidos. Atualmente, a presença do algodão não passa de 23 a 24%.

O algodão no Nordeste

Ainda que a produção comercial do algodão no Brasil tenha iniciado pelo Nordeste, em 1790, a partir do Maranhão, atualmente a Região não tem presença relevante no segmento. O custo da terra e a forte presença de outras culturas, como soja e cana-de-açúcar, abriram espaço para o protagonismo do plantio no Mato Grosso e Goiás, na época.

Fora do centro produtor histórico, a Santana Textiles é uma indústria cearense que resolveu apostar na produção de algodão. Em operação desde 1963 fabricando tecidos (jeans) na localidade de Horizonte, entrou na cotonicultura em 2021 produzindo, atualmente, 5% de seu consumo anual de 20 mil toneladas/ano. A iniciativa ganha maior importância na medida em que a Santana Textiles fomenta o plantio de terceiros envolvendo em torno de 15 pequenos produtores da Chapada do Apodi, Brejo Santo e Iguatu.

O diretor de Planejamento, Delfino Neto, diz que “ainda é um experimento que tende a crescer e, quem sabe, em 10 anos, contribuirá para tornar o Ceará um produtor de maior peso, reduzindo a necessidade de importação do Estado, que adquire fora 99% da necessidade”. A produção própria de algodão, segundo ele, é uma estratégia não apenas para diminuir a dependência de abastecimento, mas também para neutralizar um pouco o elevado valor do insumo que chegou a registrar recorde na Bolsa de Nova Iorque.

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