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Mundo vive inflação global e taxa para 2022 é o dobro da projetada pela OCDE

O mundo vive uma inflação global e as perspectivas de queda do custo de vida e de crescimento da economia não são nada otimistas para 2022 e o próximo ano. A realidade inflacionária é causada por vários fatores, sendo os principais a excessiva injeção de recursos causada para o combate a covid-19 nos últimos dois anos da pandemia; os lockdowns das principais economias, sobretudo na China, em consequência do vírus, e a deflagração da guerra entre Rússia e Ucrânia, em 24 de fevereiro. O Brasil, claro, não foge à regra e tem a quarta maior inflação anual do mundo (11,73% medida pelo INPC de maio) no ranking de dez países, de acordo com dados da Austin Rating (instituição brasileira que atua como classificadora de risco de crédito).


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Para Silvia Matos, pesquisadora do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre/FGV) e coordenadora do Boletim Macro Ibre, as perspectivas para o crescimento e para a inflação global têm piorado devido à guerra na Ucrânia, cujos efeitos se sobrepuseram aos da pandemia, dos quais os países vinham se recuperando. Em particular, as projeções para a inflação indicam uma taxa de quase 9% nos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) neste ano, o dobro do projetado alguns meses atrás.

Ela explica que a escassez de oferta de alguns produtos devido à guerra adiciona pressão inflacionária. “Destacam-se os mercados de commodities, que tiveram seus preços ainda mais elevados. Para enfrentar este quadro de aumento e de persistência da inflação têm levado ao aperto da política monetária em diversos países. O movimento de subida de juros está se generalizando, e as condições monetárias internacionais estão ficando bem mais restritivas que o previsto pelo mercado. Um cenário negativo para os países emergentes”, ressalta a economista.

A pesquisadora do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre/FGV) diz também esperar um menor crescimento mundial, mas com uma inflação global ainda bem persistente. E isso dificulta o controle da inflação também no Brasil. De fato, as medidas de núcleo de inflação continuam bem elevadas e pressionadas. “Esperamos uma taxa de inflação acima de 5% no ano que vem devido à volta de impostos sobre combustíveis neste ano. E com isso, o Banco Central pode ter que não apenas subir mais a taxa de juros, mas também mantê-la em patamar mais elevado por um tempo para prolongado. Com isso, o crescimento do ano que vem será penalizado”, conclui.

Inflação global e elevação de preços

O analista de Políticas Públicas do Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará (Ipece), Daniel Suliano, afirma que a elevação dos preços dos alimentos e da energia, aliada ao agravamento contínuo dos problemas da cadeia de suprimentos, deixa claro que a inflação global ainda vai atingir patamares mais elevados do que previsto há meses. Ele observa que as novas projeções da OCDE revelam que o impacto global que a guerra está tendo sobre a alta dos preços é o maior dos últimos 40 anos na Alemanha, Reino Unido e Estados Unidos.

Tendo como base dados da OCDE, o Daniel Suliano ressalta que a economia mundial vai passar por desaceleração, com crescimento de 3% para este ano e para o próximo, taxas abaixo das projetadas no final de 2021. “Esse menor crescimento atinge muitos países da Europa, que estão diretamente expostos à guerra por meio de importações de energia e fluxos de refugiados. Os países em todo o mundo estão sendo atingidos pelos preços mais altos das commodities elevando a pressão inflacionária e redução da renda real, prejudicando ainda mais a recuperação”.

Ranking mundial

No ranking da OCDE, que engloba as principais economias mundiais (fazem parte 38 países: Alemanha, Austrália, Áustria, Bélgica, Canadá, Chile, Colômbia, Coréia, Costa Rica, Dinamarca, Eslováquia, Eslovênia, Espanha, Estados Unidos, Estônia, Finlândia, França, Grécia, Hungria, Irlanda, Islândia, Israel, Itália, Japão, Letônia, Lituânia, Luxemburgo, México, Noruega, Nova Zelândia, Países Baixos, Polônia, Portugal, Reino Unido, República Checa, Suécia, Suíça e Turquia), as projeções para 2022 se mostram bem acima das de 2021. Os países emergentes são os mais impactados pelo processo inflacionário. A Turquia, por exemplo, tem uma projeção de mais de 70%, enquanto a Argentina acima dos 60% para este ano. “Rússia e Ucrânia são fornecedores em muitos mercados de commodities, respondendo por cerca de 30% das exportações de trigo, 20% de milho, fertilizantes e gás natural e 11% para petróleo. Essas commodities aumentaram acentuadamente após o início da guerra”. Além disso, a OCDE alerta para o risco de uma crise alimentar.

Inflação no Brasil

O Brasil já sofre com os impactos da inflação desde o segundo semestre de 2020, período no qual as principais economias mundiais iniciaram o processo de reabertura, após a primeira onda da Covid. Essa escalada de preços proseguiu em 2021. No Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), índice oficial para a meta de inflação do Brasil, os três principais grupos – transportes, alimentação e habitação – encerraram 2021 com altas de 21,04%, 7,94% e 13,05%, respectivamente. Já o IPCA fechou em 10,06%, valor de quase o dobro do teto da meta, que foi de 5,25%.

Em 2022, similarmente as outras economias do mundo, a Guerra da Ucrânia segue adicionando combustível à inflação. O Banco Central vem elevando a taxa básica de juros desde março de 2021, mas as projeções seguem em alta correndo-se o risco de em 2022 encerrar novamente na casa dos dois dígitos. A inflação impacta a todos, mas de forma heterogênea. Os mais prejudicados são aqueles com menor poder aquisitivo.

Para finalizar, Daniel Suliano frisa que a inflação no Brasil segue disseminada. Com base no Índice de Difusão, indicador que mede o grau de contaminação dos preços em todos os itens do IPCA, cerca de 70% dos preços segue em alta, reforçando a tese que a inflação é persistente. Particularmente, destaca-se o preço dos combustíveis, que seguem em forte elevação desde o ano passado. Sendo insumo básico na cadeia produtiva de suprimentos da economia, a alta dos combustíveis reverbera nos demais setores.

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