A oferta de leite, que já estava reduzida desde meados de 2021, se acentuou nos primeiros meses deste ano. E não é somente a entressafra que explica a inflação dos lácteos no Brasil.
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Embora o litro de leite UHT tenha atingido valor superior a R$ 8,00 em alguns estabelecimentos, com a chegada do inverno e da redução do nível de chuvas em boa parte das regiões produtoras, o produto já seguia em alta nos últimos meses.
Além disso, a entressafra acentuou a escassez de leite no mercado. Nos últimos dois anos, houve uma alta de 62% nos custos para o produtor, gerando uma elevação de 43% no preço ao consumidor.
O aumento do preço do produto não está sendo suficiente para cobrir os custos de produção, o que reduziu os lucros e levou o produtor a diminuir a oferta, reduzindo a alimentação do gado leiteiro.
Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revelaram em pesquisa referente à compra de leite pelos laticínios no primeiro trimestre do ano uma baixa de 10,51%, quando comparado ao mesmo período de 2021.
Essa foi a quarta queda consecutiva em um período de três meses e a maior em uma avaliação trimestral desde o início da pesquisa, em 1997.
No início da entressafra a partir do segundo trimestre, a expectativa é que os números repitam o cenário de escassez do trimestre anterior.
Porém, vislumbra-se para o próximo trimestre algum crescimento na oferta, motivada pela chegada das chuvas e também por uma recuperação nas margens de lucro do produto.
Embora ainda seja difícil mensurar o impacto causado devido à escalada de preços que vem acontecendo desde meados do ano passado, impactando a rentabilidade dos produtores.
De janeiro a junho de 2022, houve um recuo de cerca de 3,8% no preço médio do leite pago ao produtor, comparado ao mesmo período de 2021.
Entre os insumos que mais subiram de preço, destaca-se os fertilizantes e os combustíveis, afetados pelo conflito armado entre Rússia e Ucrânia no leste europeu.
No entanto, o insumo que mais tem encarecido para o produtor é o volumoso, que registrou alta de 51% na comparação de maio deste ano com o mesmo mês do ano passado.
A principal razão desse aumento, é a Rússia ser a maior exportadora de insumos como ureia e cloreto de potássio usados para produzir silagem e adubar pastagens. Até mesmo a elevação do custo do frete marítimo internacional entra nesse cálculo.
No Brasil, o leite é um produto sazonal, com períodos definidos de safra e entressafra, que também afeta a alta dos preços dos lácteo durante o outono/inverno.
Do outo lado, ocorre deflação do preço com o crescimento da oferta no período de primavera/verão. Os dados do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de novembro do ano passado a janeiro deste ano, durante a safra, revelam que os laticínios tiveram redução de preço ao consumidor, o que é considerado normal.
As coisas começam a sair do padrão da normatividade com a alta das commodities, revertendo a tendência de preços baixos a partir de fevereiro, em plena safra. Esses preços costumam ser volúveis, pois a demanda por produtos derivados do leite também oscila no decorrer do ano.
Com a inflação alcançando dois dígitos afetada pela pandemia de Covid-19, a atenção se dirige para os produtos alimentícios, que causam maior impacto na população de baixa renda e o leite assume seu protagonismo.
O índice do Global Dairy Trade (GDT) – plataforma mundial que realiza leilões de lácteos – recuou um pouco, mas segue em patamares elevados (US$ 4,6 mil/t) desde que alcançou seu maior valor em fevereiro, o equivalente a US$ 4,630/t. Os índices do GDT mostram que em dois anos, a tonelada do Leite em Pó Integral oscilou de US$1,9 mil a US$ 5,3 mil.
Para os pesquisadores e analistas do Centro de Inteligência do Leite (Cileite/Embrapa), a crise na economia que diminuiu o poder de compra da população está evitando que a crise de oferta torne os preços dos lácteos mais elevados.
Ainda assim, o leite não pode ser visto como “principal vilão” da inflação de alimentos. Segundo dados do IPCA, entre os produtos de origem animal (carne, frango, ovos e laticínios), leite e derivados são os que apresentaram menor alta nos últimos dois anos.
Para os integrantes do Cileite/Embrapa, a gestão de custos nas fazendas que produzem leite tem sido desafiadora. A queda observada na oferta do produto mostra exatamente isso. O resultado é a pressão pela modernização tecnológica e ampliação de investimentos no setor.