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Com maior adesão, mercado brasileiro de healthtech está a todo vapor

Scientist researcher engineer doctor wearing ppe equipment analyzing artificial intelligence using augmented reality software during biochemistry experiment in hospital laboratory. Medicine concept

A inovação na indústria da medicina transformou a maneira como os serviços de saúde são percebidos, ofertados e recebidos. Desse modo, surgiram as healthtechs, startups direcionadas exclusivamente para prestação de serviços, que apresentam soluções práticas para problemas do setor saúde, com uso de tecnologia avançada.


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Afinal, o que é uma Healthtech?

Healthtech (Tecnologia da Saúde) é um modelo de negócios com características peculiares que envolve a aplicabilidade da união de conhecimentos médicos e de engenharia para solucionar questões ligadas à saúde.

As healthtechs incluem desde medicamentos, vacinas, dispositivos, modernização de clínicas e hospitais, gestão de entidades públicas, tecnologia de dados, telemedicina, acesso à informação e procedimentos médicos, até o aperfeiçoamento geral dos sistemas de saúde, promovendo maior agilidade no atendimento e segurança aos pacientes.

Existe uma demanda crescente em startups de saúde, devido às suas múltiplas vantagens e acessibilidade, o que motivou os criadores a desenvolver novas ferramentas centradas na área médica e ampliou a possibilidade de colaboração sem precedentes.

O cientista Marcelo Sousa, fundador da Bright Photomedicine, que atua na área de empreendedorismo científico, explica a atuação das healthtechs.”De forma geral, as healthtechs atuam amplamente em todas as áreas da medicina e da saúde, trazendo mais informações, dados e conhecimento, proporcionando a otimização e a inovação na prestação de serviços de saúde e promovendo o benefício dos pacientes e dos diversos profissionais da área”.

Médica interagindo com tela virtual. Foto: Envato Elements

Como os dados agora são captados de forma instantânea, as empresas do setor podem coletar grandes quantidades de informações médicas particulares. Além disso, a convergência de Inteligência Artificial, Big Data, Internet das Coisas, nanotecnologia e robótica está permitindo que os médicos encontrem novos padrões nos dados emitidos e os utilizem para personalizar suas formas de cura.

As healthtechs atuam na prevenção, gestão, diagnóstico e tratamento de doenças, que são as principais áreas em crescimento. Elas estão modificando de forma rápida o tradicional mercado da saúde, atraindo elevados investimentos e múltiplos benefícios para os profissionais do segmento, pacientes e operadoras.

“Essas empresas, muitas vezes, traduzem o conhecimento que é pesquisado e produzido nas universidades e centros de pesquisa, fazendo com que esses conhecimentos possam gerar novas tecnologias e que estas, por sua vez, deem origem a produtos e serviços que passam a ser utilizados cotidianamente na prática clínica e também no atendimento à saúde das pessoas. Dessa maneira, acredito que um dos principais benefícios à saúde que as healthtechs proporcionam é a constante atualização e criação de novas formas de tratamentos, diagnósticos, acompanhamento e gestão da saúde”.

Marcelo Sousa, cientista e fundador da Bright Photomedicine

O Mercado das Healtechs no Brasil

O mercado de healthtechs no Brasil é extremamente amplo e diversificado sendo um dos mercados mais favoráveis para abertura de uma startup de saúde, por estimular o fomento à pesquisa e possuir investimentos do capital privado nas startups nacionais, com uma vasta e rápida adaptação e aceitação dessas novas tecnologias.

A maior parte dos tratamentos e diagnósticos novos precisam passar pela aprovação da Agencia de Vigilância Sanitária (Anvisa) e isso é uma barreira de entrada compatível com qualquer outro país em que se pretenda inovar nesse segmento.

“O mercado de saúde brasileiro possui uma peculiaridade que é justamente o Sistema Único de Saúde (SUS), que configura um importante player, porém ele está localizado no final da cadeia para essas tecnologias. Além disso, esse mercado também se divide no sistema privado, via planos de saúde, que englobam cerca de 25% da população. Então, sempre que se pensa em healthtechs e como essas companhias vão entrar no mercado, obviamente se pensa nos médicos, pacientes, hospitais, entre outros, mas é importante considerar os planos de saúde e também o SUS”, explica o cientista Marcelo Sousa.

Assim como no resto do mundo, o mercado de healthtech no Brasil se encontra em plena expansão. O número de startups de saúde registrou um aumento de 16,1% no país, entre 2019 e 2022, segundo levantamento realizado pela plataforma de inovação Liga Ventures e pela consultora PwC com 596 empresas de 35 categorias do setor.

O relatório aponta ainda que as startups tiveram um crescimento médio de 21,21% em seus times, resultando em cerca de 3.813 empregos. Esse valor foi impulsionado, segundo a pesquisa, principalmente, pelas startups de psicologia, que criaram cerca de 23,52% das novas oportunidades. O número total de colaboradores também aumentou mais de 50% em 17,38% das startups avaliadas.

Médicos cientistas conduzindo experiência com DNA (Foto: Envato Elements)

O professor Abraão Freires Saraiva Júnior, fundador e coordenador do Centro de Empreendedorismo da Universidade Federal do Ceará (CEMP-UFC), analisa a importância das healthtechs para o mercado da saúde.

“Essas empresas de base tecnológica cumprem um papel relevante dentro do setor saúde. Uma categoria que vem se destacando é a inteligência de dados. Imagina os grandes planos de saúde, quantos dados, quantos pacientes na casa de milhões são atendidos. Significa que trabalhar com esse tipo de inteligência permite uma maior assertividade, direcionamento, aperfeiçoamento nos tratamentos e agilidade nos atendimentos. Existem também startups voltadas para telemedicina, setor que cresceu durante a pandemia e facilitou o atendimento aos pacientes. Enquanto isso, a educação para a saúde atua na formação, desde o nível técnico, passando por pós-graduação e também pela educação corporativa para profissionais de saúde”.

Atualmente, são 747 empresas ativas no mercado, considerado o maior polo de saúde na América Latina e o sétimo no ranking global. De acordo com o Ministério da Saúde, o segmento médico movimenta cerca de 10% do Produto Interno Bruto (PIB) nacional.

Estados Unidos, Brasil, México e Chile são os países que mais concentram startups de saúde. Seus recursos são aplicados em inovação tecnológica direcionada para o aprimoramento dos processos de gestão, de atendimento e de tratamento em clínicas, hospitais e laboratórios.

“A importância dessas empresas é indubitável para o país. Nós temos um grande déficit em termos de balanço comercial, ou seja, importamos vários insumos do setor de saúde, na casa dos bilhões de dólares, e só isso já traz oportunidades para gente investir nessa área. Outro fator, até mais evidente foi o que vivenciamos durante a pandemia, com a escassez de insumos básicos, como máscaras, e equipamentos avançados, como os respiradores mecânicos para salvar vidas. Tudo isso faltou na hora mais urgente, o que demonstra a importância de fortalecer o setor da saúde no país”.

Professor Abraão Freires Saraiva Júnior, fundador e coordenador do CEMP-UFC

Outro ponto trazido pelo professor Abraão se refere ao envelhecimento da população brasileira e o consequente aumento da demanda por serviços e recursos nas diferentes modalidades na área da saúde. Além disso, a pandemia de Covid-19 também trouxe à tona a piora na saúde mental dos brasileiros, com a multiplicação de transtornos relacionados ao isolamento social imposto em várias cidades durante esse período.

Entre os nichos que se destacam no mercado nacional de healthtech estão os cuidados com idosos e mulheres, psicologia, nutrição, gestão de processos, equipamentos, exames e diagnósticos, saúde no trabalho, novos medicamentos e tratamentos, tecnologia de dados, telemedicina, educação para saúde, planos e financiamentos.

Em 2020 o setor de healthtech recebeu investimento superior a US$ 325 milhões, sendo que praticamente 70% do montante foi destinado para startups em fases de seed e pré-seed, que são as etapas de captação de clientes que pagam pelos produtos ou serviços prestados.

Embora as primeiras healthtechs brasileiras tenham surgido na década de 1990, em 2010 o número de empresas desse ramo ainda não passava de cem. No entanto, a pandemia de Covid-19 gerou a necessidade urgente de se conciliar o distanciamento social com a avaliação médica e apenas nesse período, o segmento registrou alta de 118%, saltando de 248 startups em 2018, para 542 em 2020, segundo o relatório emitido pelo Distrito Healthtech Report 2020.

Isso contribuiu para uma transformação muito rápida das healthtechs voltadas para o atendimento à distância por meio da telemedicina, categoria que, de acordo com uma pesquisa da consultoria de saúde Mercer Marsh, expandiu mais de 300% desde o início da pandemia no Brasil em 2020.

A telemedicina reúne de forma integrada fatores como informação médica, atendimento, transmissão de diagnóstico e acompanhamento. O serviço prestado de forma remota, por meio de plataformas e aplicativos, ultrapassa as barreiras geográficas e possui custo inferior se comparado ao sistema presencial, além de oferecer maior agilidade e segurança no atendimento.

A HealthTech Mining Report, uma plataforma de inovação para startups, empresas e investidores que desejam expandir seus negócios, aponta ainda quais são as 10 maiores startups do ramo, considerando elementos como quantidade de funcionários, notoriedade, investimento captado e faturamento. São elas: Sanar, Vitta, Dr. Consulta, Memed, CMtecnologia, Magnamed, Labi, Consulta Já, Vittude e SIM.

O que as grandes corporações podem aprender com as startups de saúde

As startups de saúde possuem forte impulso empreendedor e são as principais responsáveis pela inovação tecnológica do segmento. Algumas das áreas onde as grandes empresas podem aprender com as healthtechs inclui desenvolvimento de produtos, gestão de dados e suporte técnico.

As healthtechs oferecem tecnologia para acelerar os processos produtivos em grande escala, garantindo maior qualidade e segurança. Para que essa inovação possa se expandir e alcançar as grandes corporações, essas empresas precisam estar abertas às transformações do setor, com disciplina financeira e comercial. A parceria entre companhias tradicionais e healthtechs pode viabilizar a cooperação tecnológica para aprimorar o atendimento das necessidades do mercado.

Voltadas para expansão de seus negócios, as startups trazem respostas mais imediatas às demandas de grandes redes de clínicas e hospitais, por exemplo. Nesse percurso, estão os fomentos na relação com os players de cada categoria, com as healthtechs, universidades e centros de pesquisa. Além disso, é possível adquirir ou se fundir a startups de saúde, permitindo que se crie uma área de inovação permanente na companhia, ou até mesmo um hub de inovação.

Médicos utilizando óculos de realidade virtual. (Foto: Envato Elements)

De acordo com a análise do professor Abraão, o Brasil possui dois grandes trunfos que uma startup apresenta, os quais visam uma grande corporação. O primeiro é a busca incessante por inovação, pois as startups têm no seu conceito e no seu cerne o desenvolvimento e a execução de um modelo de negócios inovador. Então, uma corporação na área de saúde que queira inovar, encontra na startup a condição adequada de fazê-lo.

Outro fator destacado pelo professor é a questão da agilidade. Ele explica que, por trabalhar em um ambiente de incertezas, a startup precisa ser ágil para se adaptar, testar soluções, aprender com erros e fazer correções de rotas de maneira ágil. Enquanto as empresas de grande porte, devido sua história, apresentam uma burocracia interna que dificulta os processos, deixando-os mais lentos.

“A startup é uma forma de ‘hackear’ um sistema que muitas vezes é mais moroso dentro de uma corporação já estabelecida, para desenvolver novos processos, novos produtos, novos modelos de negócios. Por isso, essa troca é importante e cada vez mais, tem sido fortalecida pelas grandes corporações em diferentes áreas de atividades econômicas. E a gente pode destacar na área da saúde também”, conclui o professor.

Para o cientista Marcelo Sousa, as grandes corporações precisam aprender com as startups no sentido de apresentar maior agilidade, flexibilidade e capacidade de inovação. Ele acredita que mais do que simplesmente tentar copiar uma startup dentro de uma empresa grande, é importante realizar trabalhos de parceria, de contratação de serviços e de inovação externa para que o processo de modernização aconteça.

“Então, há tanto uma questão de estabelecer uma maior interação, parcerias e contratação de serviços, quanto também uma questão de aprender com as startups a fazer testes rapidamente, antes de começar a desenvolver uma nova tecnologia. Portanto, esse é um método mais ágil e mais assertivo para desenvolvimento de inovação que as startups, de um modo geral, fazem melhor que as grandes corporações, mas que as empresas grandes podem também fazer e têm muito o que aprender com as startups nesse tipo de modelo e metodologia”.

Marcelo Sousa, cientista e fundador da Bright Photomedicine

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