“Não posso respirar, não posso mais nadar / A terra está morrendo, não dá mais pra plantar…”, este é um pequeno trecho da letra de “Xote Ecológico”, de Luiz Gonzaga e Aguinaldo Batista , lançada em 1989), que é uma defesa do meio ambiente, questão que vem ganhando cada vez mais atenção do mundo nos últimos anos.
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Tanto é verdade que foi criado o mercado de crédito de carbono,também conhecido como o “mercado que tenta salvar o planeta”. Tem como pano de fundo o compromisso de preservar florestas e oceanos para diminuir as emissões de gases na atmosfera.
E isso tem movimentado o sistema de compra de crédito por países e empresas para compensação das suas emissões. O mercado de crédito de carbono (Florestal ou Azul) é um negócio lucrativo que tem atraído investidores.
“Em apenas três anos, de 2018 a 2021, houve uma valorização de 187% nos contatos futuros de unidades de carbono negociados no Sistema de Comércio de Emissões da União Européia (EU ETS).”
O valor de um crédito de carbono (equivalente a uma tonelada de emissão) era de € 16,06 em 2018. Já em abril de 2021, o preço passou para € 46,00. E a tendência é aumentar mais ainda. No Brasil, segundo o Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS), o mercado de carbono pode movimentar US$ 167 bilhões até 2030 e US$ 347 bilhões até 2050.
Além disso, o Brasil pode vir a ser exportador de créditos, já que tem grande potencial. Diante dessa realidade, o país, após 12 anos, finalmente publicou o decreto nº 11.075, de 19/05/2022, para regulamentar no mercado de carbono, cujo conteúdo foi alvo tanto de elogios como de críticas. Com o decreto é esperado que o país já tenha um mercado regulado de créditos de carbono em atividade a partir do primeiro semestre de 2025.
Mas, apesar do potencial, o mercado de carbono brasileiro, em relação aos demais países do mundo, ainda está engatinhando. Pelo menos na visão de Luís Ernesto Arruda, cientista-Chefe do Meio Ambiente da Secretaria do Meio Ambiente do Ceará e professor do Instituto de Ciências do Mar (Labomar), da Universidade Federal do Ceará (UFC).
“O mercado de crédito de carbono pode vir a ser uma ferramenta eficiente para reduzir as emissões de carbono e restaurar áreas degradadas, assim como em gerar benefícios pela inclusão da população em projetos de conservação/restauração.”
Para o sócio da V1 Capital e head de Investimentos e Derivados, Rafael Meyer, o decreto que regulamenta o mercado de carbono no Brasil proporciona, de certa forma, benefícios para as empresas. O foco principal do decreto, de acordo com o Governo Federal, é a exportação dos créditos. Especialmente para países e empresas que precisam compensar emissões para cumprir com os seus compromissos de neutralidade de carbono, que é uma meta estabelecida até 2050.
“O nosso país tem potencial para de se tornar um grande player do cenário de crédito de carbono. Um dos maiores geradores e exportadores de crédito carbono do mundo, conciliando a preservação com a monetização dos ativos e aí criando uma agenda sustentável dentro do ciclo produtivo” – frisa. No entanto, no decreto, que já era esperado pelo mercado há 12 anos, ainda existem muitas brechas e algumas singularidades se comparado a outras experiências internacionais.
Como exemplo, Rafael cita como fazer um projeto de crédito de carbono com a linha de base setorial, tal como prevê o decreto. Para ele, esse é o principal desafio técnico. “Essa questão vai trazer uma longa discussão, principalmente no meio político. Então, poderão ainda ter mudanças no decreto, a fim de que fique 100% alinhado com a expectativa do mercado”.
Rafael explica que, atualmente, existem várias empresas comprometidas com a minimização das emissões de carbono e a redução dos demais impactos ambientais em suas cadeias de produção. E isso tem chamado cada vez mais atenção por parte dos investidores, principalmente por conta da política de Environmental, Social and Governance (ESG), que é basicamente a sigla que representa as empresas que estão de acordo com a agenda de cuidados com o meio ambiente, social e governança por parte das empresas.
“Dos 425 investidores globais entrevistados na recente pesquisa feita pelo BlackRock, 54% acreditam que cada vez mais os investimentos vão ser pautados por agendas ESG. O mesmo estudo aponta que as alocações em ativos sustentáveis, como crédito de carbono, devem dobrar nos próximos anos e representar 37% dos ativos sobre gestão até 2025.”
No Brasil ainda não é possível investir diretamente em crédito de carbono via Exchange Trades Fund (ETF), porque o principal ETF hoje é KraneShares Global Carbon, que são negociados na bolsa dos Estados Unidos. No Entanto, o BTG criou um veículo que possibilita os investidores brasileiros a terem acesso a um certificado de operação estruturada atrelado a esse ETF, que tem como aplicação mínima R$ 1 mil. Uma boa alternativa para quem buscar aliar a renda fixa com potencial de retorno da renda variável, já que protege 100% do capital alocado, caso o ativo passe por desvalorização.
A oferta de fundos que dão acesso a mercado de carbono tem crescido, segundo a Reset, como por exemplo, a XP (com o fundo Trend Carbono Zero), Safra (fundos Safra Direct Carbono) e Vitreo (Vitreo Carbono), que lançaram veículos para investir nos mercados regulados de CO2 da Europa e dos Estados Unidos.
A origem dos créditos de carbono ou Redução Certificada de Emissões (RCE) ocorreu com o Protocolo de Kyoto, acordo estabelecido entre países cujo objetivo é estabilizar as emissões de gases de efeito estufa lançadas na atmosfera até 2050 (meta para a neutralidade). Foi criado em 1997, ratificado em 1999 e passou a vigorar a partir de 2005. O protocolo definiu metas para a redução da emissão de gases que agravam o efeito estufa, estabelecendo quantidade e prazo para cada país. Os créditos de carbono são certificados que comprovam que uma tonelada de dióxido de carbono (CO2) deixou de ser lançada na atmosfera.
Gabriel Medina está de olho no crédito de carbono
Mirando os créditos de carbono dos oceanos, o surfista campeão mundial Gabriel Medina – junto com o empreendedor Ricardo Siqueira e ao Multifamily Office Carpa – lançou, em junho, um fundo de venture capital calcado em “media for equity”. Batizado de Kauai Ventures – em homenagem a uma ilha do Havaí –, o fundo tem como meta investir, ainda este ano, em cinco startups que operem no segmento da Web3. Os cheques serão de US$ 1 milhão a US$ 5 milhões, podendo ser na forma de mídia, dinheiro ou um misto dos dois.
A Kauai está em conversas com empreendedores para investimentos de pre-seed em projetos de fantasy games de surfe e créditos de carbono. “O crédito de carbono que as pessoas mais conhecem e investem é aquele derivado da preservação das florestas. A gente tá olhando pros chamados ‘blue carbon’, que vêm da preservação dos oceanos e valem quatro vezes mais” – afirma Ricardo.
Fonte: Brazil Journal
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