É inevitável pensar nas mudanças dos últimos anos, com o trauma pandêmico que modificou e transformou a vida e os processos de aprendizagem, trabalho e consumo. O que parecia uma situação temporária se transformou em um modelo duradouro e a tendência é que não acabe.
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A articuladora da Unidade de Competitividade dos Negócios do Sebrae/CE, Alice Mesquita, confirma que a conectividade deixou de ser uma grande novidade para a população e passou a fazer cada vez mais parte do seu cotidiano, possuindo caráter essencial.
“É preciso ter uma visão sistêmica e estar motivado para compreender desafios e oportunidades dentro da sua área de atuação de forma colaborativa e inovadora.”
O ambiente de compras está cada vez mais atrelado ao virtual, seja através de e-commerce com a expansão dos marketplaces, vendas pelas redes sociais ou atendimento via WhatsApp.
A combinação entre ferramentas, métodos e tecnologias educacionais cada vez mais rápidas e integradas, originou a criação de um novo modelo de planejamento e implantação do ensino em EAD (Ensino a Distância).
Projetos que normalmente levariam anos para serem concluídos foram realizados em semanas e modelos de negócio cujo sucesso dependia de presença física passaram a ser entregues digitalmente.
Assim, uma nova era se iniciou para as empresas, pois a inovação, impulsionada pela crise da pandemia, exigiu criatividade e ação.
Para analisar as tendências, as funções mais demandadas e a ascensão do trabalho híbrido, a Robert Half, consultoria de recrutamento especializado, em parceria com a Burning Glass, apresentou o relatório Demanda por talentos no cenário atual.
Para 95% dos entrevistados, o trabalho híbrido é visto como parte permanente do cenário de empregos. A pesquisa foi feita com 1.500 executivos de empresas no Brasil, Alemanha, Bélgica, França e Reino Unido, a tendência é o chamado anywhere office, ou “escritório em qualquer lugar”, em português.
O Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), indica que o número de negociações trabalhistas com previsão de trabalho remoto cresceu de 284 para 2.738 entre 2019 e 2020. Em termos percentuais, a proporção passou de 1,2% das negociações para 13,7%.
E de acordo com o levantamento do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), de aproximadamente 74 milhões de brasileiros, cerca de 8,2 milhões exerceram o teletrabalho e em torno de 65,9 milhões (89%), o presencial.
A internet e os dispositivos digitais trouxeram a democratização da informação e o ensino também precisou ser adaptado diante da nova realidade. As metodologias que já vinham sendo aplicadas em sala de aula ganharam maior destaque.
De acordo com o levantamento Observatório da Educação Superior: análise dos desafios para 2021, realizado em parceria com a Educa Insights, indicou que 55% dos entrevistados prefere o retorno das aulas presenciais em dias pontuais, priorizando as disciplinas laboratoriais. Do montante total, 38% se mostraram favoráveis ao ensino superior híbrido.
Um outro estudo realizado pela Educa Insights, em parceria com a Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior (ABMES), revelou um aumento de 43% no número de matrículas na modalidade híbrida em 2022, na comparação com o mesmo período do ano passado.
“As empresas de educação também tiveram que se adaptar a esse mercado e transformaram seus métodos de aprendizagem para levar agilidade e flexibilidade, passando a adotar atividades mesclando o ensino presencial com o ensino à distância, focando em soft skills e visão sistêmica”, disse Alice Mesquita.
De bancos 100% digitais à telemedicina, o público já se habituou à ideia de consumir produtos totalmente digitais, isto inclui consultar serviços, realizar compras e pagamentos, e demais tipos de atendimento.
Embora os consumidores não pretendam abandonar a visita a espaços físicos, eles passam a compreender este movimento muito mais como “passeio e lazer” ao invés de “resolução de pendências”, e por isso darão cada vez mais preferência aos negócios que estão bem alinhados a esta mentalidade.
Com isso, traz à tona a possibilidade de as lojas repensarem a experiência do cliente, já que de acordo com o The Economist, 50% das lojas físicas no mundo inteiro irão fechar. Porém, o comércio não será prejudicado.
A articuladora do Sebrae/CE afirma que o momento é positivo. “Para os pequenos negócios essa é uma oportunidade para atingir o que a loja física não consegue alcançar. Mas é preciso cuidado na gestão por serem duas atividades com operações diferentes, sendo uma operação na loja física e outra no e-commerce.”
Entre agosto de 2019 e agosto de 2020, o número de lojas virtuais no Brasil cresceu 40,7%. Dados de uma pesquisa realizada pela Ebit/Nielsen mostram que o faturamento das lojas online cresceu 47% no primeiro trimestre de 2020. O setor ainda pode crescer 26% em 2022 e alcançar um faturamento de R$ 110 bilhões.
“É preciso escolher o canal adequado para a venda online, os meios de pagamento e transporte de forma a levar segurança para o consumidor. É importante atentar para a legislação que rege o e-commerce e ter uma equipe preparada para o atendimento online e suporte ao cliente, sem se desligar do marketing que vai impulsionar as vendas”, conclui Alice Mesquita.
Embora desafiador, analistas avaliam que o processo de adaptação ao modelo híbrido foi surpreendentemente rápido: reuniões virtuais, compartilhamento de documentos e assinaturas eletrônicas figuraram entre as novidades a dividirem mentes e braços com tarefas domésticas e relações familiares.
Para quem trabalha com tecnologia, a hibridização já não é mais novidade. “Estou remoto desde 2020, como muitos por causa da pandemia, embora eu tenha experimentado trabalho híbrido entre 2015 e 2018 quando eu atuava em startups”, confirma Leonardo Silveira, desenvolvedor de software da Jobsite, empresa de serviços e consultoria de TI de Nova York.
A Microsoft publicou ano passado o estudo Índice de Tendências de Trabalho 2021, que entrevistou mais de 30 mil pessoas em 31 países sobre rotina de trabalho e produtividade. Entre sete conclusões, o relatório faz uma boa síntese sobre o futuro: entre remoto e presencial, os profissionais querem agora o melhor dos dois mundos.
Segundo a pesquisa, 67% dos colaboradores entrevistados desejavam ter mais contato pessoal após a pandemia, 73% faziam questão da opção de home office para continuar na empresa e 66% dos líderes afirmaram que suas empresas estavam considerando redesenhar seus escritórios para o trabalho híbrido.
Mas é importante ter em mente que a implementação exige cuidados, e que nem todos os negócios estão preparados ou têm perfil para isso. É preciso equilibrar e encontrar a solução que vai trazer mais bem-estar e produtividade para as pessoas do negócio.
A fusão entre o físico e o digital têm suas vantagens, mas também é preciso lidar com o outro lado da moeda. Com a popularização deste modelo de trabalho, se tornaram mais comuns problemas como falta de infraestrutura, gastos inesperados, excesso de horas trabalhadas, sobrecarga de estresse, além dos efeitos da desigualdade socioeconômica.
“Para mim o modelo remoto é agridoce, porque de vez em quando faz falta a presença física das pessoas. A vantagem principal é não perder tempo em deslocamentos e a desvantagem é que na prática eu moro no trabalho, e por vezes a essa hora que ia pro trânsito, agora é mais trabalho.”
Leonardo Silveira, desenvolvedor de software da Jobsite
Depois desses dois anos, uma realidade se impôs. A inovação e a busca pela criatividade passaram a fazer parte do planejamento estratégico das instituições atentas às necessidades dos consumidores. Porém não há mais espaço para retrocesso.
“Nesse período surgiram vários modelos de negócios focados no digital e e-commerce. Mas podemos destacar outros negócios que também foram evidenciados como a utilização de espaços compartilhados, utilização de energias renováveis, foco na diversidade e inclusão, negócios voltados à sustentabilidade, economia solidária e inovação”, explica Alice Mesquita.
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