A corrida de empresas brasileiras para as bolsas de valores americanas pela sua pujança, maturidade e transparência cobra seu preço. Ainda não há sinais robustos de recuperação que depende o controle da inflação dos EUA. A expectativa é que a retomada das perdas seja lenta e se estenda pelo menos até o final do ano.
Quer receber os conteúdos da TrendsCE no seu smartphone?
Acesse o nosso Whatsapp e dê um oi para a gente.
Somente a corretora Avenue Securities iniciou operação em 2018 com 7 mil usuários apenas no primeiro semestre de atividade, passou agora passam de 300 mil contas em sua carteira. Com inflação alta e cheiro de recessão, o sonho americano virou pesadelo com quedas de 20% na Nyse e mais de 30% na Nasdaq, tendência acentuada pelo aperto monetário nos Estados Unidos que reduziu as compras de ativos pelo Banco Central local.
A porta aberta pelo Nubank, entre os mais valorizados, deu passagem a outras tantas empresas, especialmente as de serviços financeiros e de tecnologia, como XP, Stone, PagSeguro, que também registraram valorizações meteóricas. “Uma porta que agora até se fechou diante da desaceleração mundial afastando, pelo menos momentaneamente, outras candidatas brasileiras ou americanas de fazerem novos IPOs”, prevê Guilherme Zanin, estrategista da corretora Avenue Securities, sediada em Miami e criada por brasileiros para facilitar o acesso de investidores comuns ao mercado financeiro norte-americano.
Zanin observa que a queda tem sido generalizada nas bolsas de valores do mundo. Somente Nasdaq caiu mais de 30% e o setor de tecnologia foi o expoente negativo, o mesmo que teve o maior crescimento ao longo dos últimos anos, registrando uma das melhores performances até durante a pandemia. Contudo, com aumento de juros e inflação, as empresas ficaram bastante endividadas por conta de empréstimos mais caros.
Assim, as empresas brasileiras listadas no exterior acabaram entrando na mesma maré baixa em suas cotações. Com isso, Nubank, XP e Stone, do setor financeiro, mas com um foco mais digital, sofreram revés negativo e caíram juntas, principalmente as com ações negociadas no exterior, seja via recibos (ADRs), seja por cotações diretamente listadas no mercado americano.
O que se vê é uma migração de valores para os EUA – não à toa o dólar tem se valorizado ao longo dos últimos meses. “Com o aumento dos juros, os investidores se protegem correndo para ativos de renda fixa, uma forma de remunerar capital no exterior de maneira menos arriscada comparativamente ao Brasil”, ilustra Zanin, o que significa que o dinheiro sai das empresas brasileiras.
O único destaque positivo foi para algumas commodities como o petróleo. Diversas empresas até se beneficiaram, caso de ExxonMobil, Chevron e até a Petrobrás. “Dada a ingerência do governo brasileiro e de diversos problemas na Companhia, a valorização não foi maior”, complementa, ao contrário do que ocorreu com Gerdau e algumas construtoras que tiveram maiores vantagens.
“As causas encontram justificativas nos juros e, no caso específico do Brasil, a explicação lógica está no elevado risco político que se agrava com a eleição”.
Guilherme Zanin, estrategista da corretora Avenue Securities
A expectativa da Avenue é de que o cenário conturbado se mantenha por mais tempo com saída de dinheiro de mercados emergentes impactando nas ações e no câmbio.
Também no olhar da Associação dos Analistas e Profissionais de Investimento do Mercado de Capitais – Apimec Brasil, as recentes quedas que a maior parte das empresas brasileiras experimentou nas bolsas americanas, como as ADRs de Petrobras, Vale e Itau, estão muito relacionadas ao cenário atual não apenas da economia brasileira com problemas fiscais, mas também do cenário internacional de forte retração da atividade.
Isto se deve não só à guerra, mas aos efeitos dos lockdowns na China que provocam desequilíbrio no processo produtivo e, por consequência, uma elevação da inflação no Brasil e nos Estados Unidos. É exatamente por conta disto é que o Federal Reserve vem, de forma significativa, aumentando as taxas americanas de juros e impactando as moedas no mundo, inclusive provocando paridade entre euro e dólar pela primeira vez desde 2002.
Também para Ricardo Coimbra, conselheiro da Apimec Brasil,a recuperação das perdas de valor das ações das companhias brasileiras depende diretamente do sucesso dos gestores americanos no combate à inflação e retomada econômica.
O especialista entende que enquanto isto não acontecer, novos aumentos de juros virão para frear a inflação.
“Isto nos diz que a depender da perspectiva de controle e melhoria dos indicadores, especialmente no mercado europeu e chinês, é possível antever que os preços das commodities voltem a subir no médio e no longo prazos – no final de 2022 e início de 2023 – gerando um processo de recuperação do desempenho das empresas brasileiras com negociação em bolsas americanas”.
Até lá, o compasso será de espera por dias melhores.
O Nasdaq Composite, principal índice de tecnologia dos Estados Unidos, já teve dias melhores. Ao alcançar uma queda de quase 30% (exatos 29,51%), conforme acompanhamento da Economatica, registrou o pior primeiro semestre de sua história. E o pior da história da Nasdaq, só perdendo para os 37,71% negativos por ocasião da bolha do pontocom, no segundo semestre, lembrando também da crise financeira de 2008, quando o tombo chegou a 31,22% no segundo semestre.
Mercado de fusões e aquisições segue em alta mesmo com a pandemia
Da maquininha à Bolsa de Valores: o case de sucesso da Stone Pagamentos