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Lideradas pelo Magazine Luíza (MGLU3), ações das empresas de varejo despencam no primeiro semestre de 2022

O Ibovespa, índice da Bolsa de Valores Brasileira (B3) composto por 91 ações de 89 empresas, fechou apresentando baixa de 5,99% no primeiro semestre de 2022. Um total de 55 ações das 91 do Índice registrou queda no acumulada no ano. A B3 iniciou a primeira negociação em 2022 com 104.763 pontos e fechou o primeiro semestre com 98.542 pontos. Diante do desempenho nada satisfatório da Bolsa, a perspectiva não é animadora para o segundo semestre, conforme avaliações de economistas.


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O resultado em 2022 já vem de um ano anterior nada bom. Em 2021, as perdas atingiram 11,83%, a primeira queda anual em seis anos, de acordo com levantamento da Economática (plataforma para análise de investimentos financeiros). Em junho de 2022, a B3 passou por maior queda mensal, de 11,5%, isso desde março de 2020, quando teve início a pandemia do Covid-19. As ações das empresas varejistas do Ibovespa foram as que mais perderam no primeiro semestre de 2022, como, por exemplo, Magazine Luíza (MGLU3), que teve queda de 67,59% no preço da sua ação.

Os papéis do Magazine Luiza, que lideram as perdas na B3, despencaram, só em junho, 37,10%, enquanto o acumulado em 12 meses atinge 88,93%. No auge da pandemia, a ação do Magazine Luíza atingiu R$ 27,00, caindo para uma faixa de R$ 3,00. A queda também foi registrada em algumas empresas de tecnologia (Locaweb e Méliuz) e de empresas ligadas ao setor de turismo (Gol, Azul e CVC). Mas, muitas ações da B3 apresentaram excelentes desempenhos, como a Cielo, Eletrobrás, Hypera, BBSeguridade, dentre outras.

Diante da incerteza do mercado de ações, os analistas financeiros acreditam que os investidores optem por “ativos mais defensivos e com menos riscos”. Vários fatores contribuíram para a queda da B3 no primeiro semestre do ano, bem como para ações das empresas de varejo, tecnologia e turismo. Os principais foram: incertezas diante das eleições deste ano; possibilidade de aperto monetário para controlar a inflação; juros altos (inibindo o consumo) – em junho de 2021, a taxa de juros Selic estava em 4,24% e em junho de 2022 atingiu 13,25% -; risco de recessão mundial; guerra entre Rússia e Ucrânia e inflação persistente nas principais economias do mundo.

Daniel Suliano, Doutor em Economia, explica que as ações das empresas de varejo tiveram um boom ao longo do período pandêmico, principalmente em 2020, quando boa parte do setor de serviços esteve fechado e as famílias tiveram que mudar parte de seus hábitos. “Diversas reformas nas casas foram feitas a partir da nova realidade. Para se adaptar ao teletrabalho e as aulas remotas. Escritórios de home-office foram montados e equipamentos para estudos à distância – a lousa digital foi um dos maiores sucessos nesse período”.

Além disso – frisa – foram improvisados equipamentos de ginástica e compra de bicicletas como substitutos de academias; utensílios de cozinhas foram adquiridos para mais refeições em casa por conta do fechamento de bares e restaurantes, dentre outras. Para ele, essas mudanças de hábitos só foram possíveis por conta do e-commerce. Diante desse novo cenário, as empresas de varejo apresentaram um forte desempenho econômico, culminando na valorização de seus papéis negociados na B3.

Mas, a partir de 2022, com o arrefecimento das medidas tomadas para combater a pandemia e a consequente volta ao trabalho presencial, por exemplo, o consumo caiu. Boa parte desses papéis amargam perdas consideráveis na bolsa, com destaque para MGLU3, que apresenta o pior desempenho no mercado acionário brasileiro nesse primeiro semestre de 2022.

“A MGLU3 se tornou destaque por apresentar a maior perda no mercado acionário, mas os papéis do varejo como um todo vêm amargando perdas consideráveis em 2022 diante da conjuntura nacional”.

Desde março de 2021, o Banco Central tem elevado a taxa de juros por conta da pressão inflacionária. Adicionalmente, a invasão russa à Ucrânia piorou as condições de oferta das commodities, pressionando ainda mais a inflação. Juros altos e inflação elevada deterioram as condições do mercado de crédito, o que impactou diretamente no varejo e, por conseguinte, nas ações das empresas negociadas.

O economista deixa claro que o cenário político, diante de uma eleição presidencial, também adiciona cautela as decisões de investimento por conta da incerteza. Essa, por sua vez, tem elevado os prêmios de risco dos papéis de renda fixa tornando mais atrativo para os investidores vis-à-vis as ações, que por sua própria natureza é um investimento de alta volatilidade no curto prazo.

“Nos últimos anos, outras concorrentes internacionais desse setor, como Amazon e Shopee, além do Mercado Livre, estão despontando no e-commerce. Essas empresas não têm papéis negociados na B3 e, portanto, seu bom desempenho recente não impulsiona o mercado acionário brasileiro.

Cenário adverso para empresas de varejo

Para Allísson Martins, professor de Economia e Finanças da Universidade de Fortaleza (Unifor), a bolsa realmente no primeiro semestre teve uma performance bastante negativa, consequência de vários fatores. Ele concorda que o cenário adverso ocorreu diante da perspectiva de recessão global, com atividade econômica em queda, isso em função de crises, de tensões geopolíticas, que vem reverberando na inflação, que gera preços bem elevados. 

Diante de tal realidade, as autoridades monetárias elevaram os juros, na tentativa de controlar a inflação mediante queda do consumo. Todo esse cenário desfavorável – observa – replicou na Bolsa de Valores, na chamada renda variável ano Brasil. A B3 apresentou um resultado negativo bem intenso no primeiro semestre deste ano, em particular as empresas de varejo, que sofreram bastante.

“As empresas de varejo foram alvejadas justamente pela inflação e pela elevação da taxa de juros. Ocorreu, portanto, queda do consumo. O orçamento familiar, já muito comprometido com a alta da inflação, que tem causado perda do poder de compra, foi impactado mais ainda com a alta dos juros, que inibiu consideravelmente a compra a prazo (parcelamento), sobretudo de bens como eletrodomésticos, já que os juros estão impraticáveis”.

Perspectiva para o segundo semestre

O professor de Economia entende que o cenário de elevação de juros deve permanecer por algum tempo. Essa curva de juros em ascensão, em alta, deva permanecer até o primeiro semestre 2023. “Pelo menos é essa a expectativa de mercado, que estima certo arrefecimento no médio prazo, lá para o segundo semestre de 2023.
Ele chama a atenção para o fato de ações de empresas ligadas a outros setores terem passado por altas no primeiro semestre, como, por exemplo, ligadas ao segmento elétrico, bem menos sensível a volatilidade existente na renda variável.

“Também algumas empresas ligadas ao agronegócio apresentaram valorização. As commodities, com preços em ascensão, trazem perspectivas de retornos positivos. Então é um setor para investidores ficarem aí no radar. São setores interessantes, que apresentam uma maior resiliência no mercado financeiro”.

Allísson Martins, professor de Economia e Finanças da Universidade de Fortaleza (Unifor)

Ao contrário do que se dizia antigamente – “se você não conhece o mercado de ações, é melhor não arriscar, não investir” –, ele acredita que tal afirmação não é mais válida, pois “essa forma de pensar hoje em dia não traduz a realidade, já que atualmente existem mecanismos sofisticados no mercado financeiro. Perdas são inevitáveis, pois não existe garantia, até porque ações é um investimento de renda variável, que pode tanto subir como cair”.

De acordo com Allísson Martins, hoje existem, por exemplo, fundos de ações muito mais sofisticados, carteiras de ativos, que fazem o investidor ter mais tranquilidade, pois é uma forma de se defender de grandes oscilações. Mas é claro que o investidor está sujeito a perdas, como também a ganhos. E, caso o investimento seja feito a longo prazo, o retorno em bolsas de valores são, digamos, interessantes.

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