O comércio varejista vem passando por profundas modificações desde o início da pandemia de Covid-19, quando o segmento foi impactado pela instauração do lockdown em várias cidades do País. O setor vem enfrentando grandes desafios, seja para o pequeno lojista ou mesmo para as grandes redes de varejo. Com a economia estagnada, ocorreu o aumento dos juros e o crescimento da inflação. Como consequência houve a redução do poder de compra do trabalhador e o aumento do endividamento do brasileiro.
Quer receber os conteúdos da TrendsCE no seu smartphone?
Acesse o nosso Whatsapp e dê um oi para a gente.
O economista José Maria Porto, vice-presidente da Academia Cearense de Economia, explica que muitas empresas do varejo ainda estão estocadas, então há um esforço crescente da categoria para que as vendas atinjam os patamares pré-pandemia, utilizando estratégias de vendas como a realização de promoções e campanhas para estimular a demanda que estava reprimida nos dois últimos anos.
“A tendência das vendas no varejo pode se reverter de maneira positiva, mais próximo do quarto trimestre, com a chegada do Dia das Crianças, ‘Black Friday’, Copa do Mundo, Natal e Réveillon, juntamente com o recebimento do décimo terceiro salário. É necessário esperar e torcer para que essa expectativa seja alcançada. Afinal de contas, a deterioração do poder de compra e o elevado endividamento das famílias ainda desanimam os consumidores e os inibe de ir às compras, principalmente de produtos com maior valor agregado”.
José Maria Porto, vice-presidente da Academia Cearense de Economia
Apesar do período difícil vivido pelo setor varejista em 2020 e 2021, o segmento vem se comportando de maneira positiva em 2022. As perspectivas para o segundo semestre deste ano são ainda melhores se comparadas ao primeiro semestre especialmente, no período de férias que mobilizou fortemente o setor de serviços da cidade, como por exemplo, os segmentos de hotéis, bares e restaurantes.
Em relação as táticas utilizadas pelo comércio varejista para driblar as adversidades da categoria, o diretor da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado do Ceará (Fecomércio), José Éverton Fernandes explica: “setores comerciais distintos adotam estratégias diferentes, uma ferramenta bastante utilizada pelo varejo é a realização de feirões de produtos. Outro canal importante é o comércio digital, que vem crescendo significativamente nos últimos anos”, conclui o diretor.
Além das férias, a realização de grandes eventos, como a Copa do Mundo, Natal, Dia dos Pais, entre outros, prometem aumentar o fluxo de vendas. Essas oportunidades já estão aquecendo o comércio e garantindo bons resultados para o faturamento do varejo.
Na avaliação do economista, Lauro Chaves Neto, professor da Universidade Estadual do Ceará (UECE) e PhD em Desenvolvimento Regional: “o patamar elevado de inflação e a retomada de crescimento dos juros, sem dúvida, prejudica o desempenho do comércio. Porém, acreditamos que até o início do próximo ano já tenhamos condições de retomar o crescimento do varejo e um controle maior da inflação. A partir daí, poderá haver uma nova escalada de redução da taxa de juros aos patamares que tivemos há alguns anos”.
O Produto Interno Bruto (PIB) do Ceará cresceu 1,96% no primeiro trimestre de 2022, em relação ao mesmo período do ano passado. O resultado ficou acima do PIB brasileiro, cujo índice atingiu 1,7%. As informações foram divulgadas pelo Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará (Ipece) em junho deste ano.
Esse crescimento foi impulsionado, sobretudo, pelo setor de serviços, o único que registrou variação positiva de 1,77%. O segmento é o mais pujante da economia cearense, representando 78% da atividade econômica local, resultado acima da média histórica, segundo o analista de políticas públicas do Ipece, Alexsandre Lira.
De acordo com o economista Igor Macedo de Lucena: “a análise do crescimento do PIB vem se multiplicando por cinco, desde o início do ano. Se a expectativa dos economistas, medida pelo Boletim Focus do Banco Central, denotava crescimento próximo de zero no começo deste ano, hoje já existe um consenso de que o Brasil vai crescer aproximadamente 1,9%”, ressaltou.
Entre as atividades que participam do segmento, todas registraram bom desempenho, com destaque para Alojamento e Alimentação (12,56%), Transportes (11,22%) e Comércio (9,58%).
Dados da Pesquisa Mensal do Comércio, divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), apontam que em maio de 2022, as vendas no comércio cearense aumentaram 6,1% comparado com igual período de 2021. Já de abril para maio deste ano, ocorreu uma queda de 1,5%.
No Brasil, o volume de vendas do varejo variou 0,1% frente a abril, na série com ajuste sazonal. Foi o quinto mês seguido com variação positiva. O aumento na média móvel do trimestre foi de 0,7%. O economista Igor Lucena avalia o cenário da seguinte forma: “quando a gente faz uma comparação com o período pré-pandemia, há um crescimento de 4% neste ano de 2022. Agora, com dados de junho, o crescimento é de 6,1% em relação a 2021. Ou seja, há de fato uma recomposição do consumo das famílias em relação ao varejo. Apesar de vivermos em um momento inflacionário, a expectativa é de que deverá haver um crescimento do comércio varejista para esse segundo semestre”, sintetiza.
A pesquisa revela ainda que do mês de janeiro até maio, o setor acumulou avanço de 7,5%, embora no acumulado do ano, o crescimento do setor varejista no Brasil seja de 1,8%. Considerando a inflação no mesmo período, o crescimento real do setor foi negativo em 2,3%.
Se contarmos os últimos 12 meses, o segmento apresentou uma queda no seu volume de vendas de -0,4%. Na série sem ajuste sazonal, o comércio variou -0,2% frente a maio de 2021, a primeira taxa negativa após um trimestre de altas.
“Os prejuízos do comércio, desde o início da pandemia, e que se emendou com o início da guerra entre Rússia e Ucrânia precisam ser revertidos com o aumento do poder aquisitivo da população, a redução do desemprego, uma reforma tributária que seja justa e simplifique a carga de tributos dos trabalhadores. Por outro lado, também houve nesse período, uma constante modernização das empresas comerciais, e uma crescente digitalização de todos os processos e de todos os atendimentos ao cliente”.
Lauro Chaves Neto, professor da UECE e PhD em Desenvolvimento Regional
O e-commerce (comércio on-line) surgiu para participar de forma definitiva da jornada do consumidor, a partir da necessidade de reconfiguração do comércio e do relacionamento com os clientes, que ficou mais urgente a partir de 2020. Isso fez com que a maioria das empresas investissem mais em tecnologia, criando canais próprios ou aderindo a marketplaces, que são plataformas colaborativas de vendas pela Internet.
Atualmente, está sendo ampliada a rede de integração entre os pontos de venda físicos e digitais que vai demandar boa parte dos investimentos do setor varejista. De acordo com levantamento da Neotrust em 2021, no Brasil o e-commerce registrou um faturamento recorde de R$ 161 bilhões, um aumento de 26,9% em relação a 2020.
O número de pedidos aumentou em 16,9% com 353 milhões de entregas. O ticket médio também mostrou crescimento de 8,6% em 2021 se comparado ao ano anterior, atingindo a média de R$ 455 por compra.
“Não há dúvida de que o setor do varejo que mais se destacou nos últimos três anos foi o varejo intersetorial relacionado ao e-commerce. Quando a gente fala de e-commerce, não estamos falando somente desse grande sistema de tecnologia, mas também das estratégias aprimoradas de logística. Como exemplos do crescimento desse setor, podemos citar lojas de material de construção que fazem entregas em 24h, supermercados, distribuidores de bebidas, métodos que estão tornando a experiência do cliente mais rápida e mais prática, por meio de uma sólida logística que deve se intensificar por um fator social”.
Igor Macedo de Lucena, economista
Segundo a projeção da Neotrust, a receita do e-commerce deve aumentar em cerca de 9% até o final de 2022, alcançando um faturamento recorde de R$ 174 bilhões. Apesar de um aumento positivo, fatores como a inflação, a alta do dólar e a projeção pessimista do PIB nacional podem impactar de maneira negativa a ascensão do comércio on-line.
A expectativa é que os pedidos pela Internet cresçam em 8%, totalizando 379 milhões de compras. Já o ticket médio deve se manter estável, com crescimento de cerca de 1%, estimado em R$ 460 por pessoa.
O segmento que mais deve expandir é o de eletrônicos, em 21%, seguida de eletroportáteis, em 19%, de alimentos e bebidas, que deve subir até 18%. As categorias com maior faturamento devem ser telefonia (R$ 32,4 bilhões), eletrodomésticos (R$ 23,7 bilhões) e eletrônicos (R$ 18,6 bilhões).
De acordo com a Associação Brasileira do Varejo (ABV), as vendas devem ter um aumento de até 12% no segundo semestre deste ano, em relação ao primeiro, que também foi movimentado por datas comerciais.
“Dado que sazonalmente o segundo semestre no comércio varejista é muito mais aquecido que o primeiro e também haverá ainda nesse período, as Eleições e Copa do Mundo, a expectativa é de crescimento acentuado na atividade comercial. Além das datas comemorativas anuais, as Eleições deverão injetar R$ 5 bilhões na economia nacional, juntamente com a grande euforia de consumo que a Copa do Mundo proporciona. Por conta desses eventos, mesmo com as adversidades de preços elevados e alta dos juros, ainda temos uma demanda reprimida por dois anos para dar vazão”.
José Éverton Fernandes, diretor da Fecomércio
O funcionamento pleno do comércio e a flexibilização das medidas sanitárias têm, de fato, incentivado os consumidores a irem às compras. E essa é uma das maneiras de medir as projeções de crescimento até o final do ano. Para o economista Igor Lucena: “o aumento das expectativas positivas do Brasil devem puxar também o varejo para cima. Além disso, o país bate recorde em exportação. O desemprego está em queda dentro do ciclo econômico nacional e as contas públicas estão bem organizadas. A perspectiva de crescimento da razão dívida PIB que era algo em torno de 94% no pós-pandemia, na verdade está em 79%. Ou seja, há espaço também para investimentos públicos dentro desse contexto”, avalia.
De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), as vendas do comércio tiveram a primeira alta depois de dois trimestres de queda, rodando 2,6% acima do volume pré-Covid. Houve ainda um crescimento constante do varejo ao longo dos últimos meses, em função do Dia das Mães e Dia dos Namorados. O presidente da Câmara dos Dirigentes Lojistas (CDL) de Fortaleza, Assis Cavalcante, também faz uma previsão otimista.
“As campanhas promocionais como o ‘Liquida Fortaleza’ e o ‘Natal de Prêmios’ que acontecem nesse segundo semestre, juntamente com mega eventos como as Eleições e a Copa do Mundo, prometem aumentar ainda mais o fluxo de vendas e contribuem para o escoamento das mercadorias estocadas nos dois últimos anos. O avanço da vacinação contra Covid-19 e o pagamento do auxílio emergencial pelo Governo Federal, também colaboram para aquecer o setor varejista”.
Assis Cavalcante, presidente da CDL de Fortaleza
Os números da economia brasileira no primeiro trimestre, por exemplo, vieram positivos com o crescimento acima do inicialmente projetado por analistas e pelo mercado financeiro, mas dentro das projeções mais recentes.
Então, a tendência é que o volume de vendas que começou a acelerar já a partir das férias de julho, quando a cidade recebeu um grande fluxo de turistas, continue a crescer nos próximos meses.
O setor empresarial brasileiro ficou diferente no período de pandemia. Não por acaso, uma pesquisa feita pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), em 2021, revelou que 31% dos pequenos negócios mudaram o funcionamento e precisaram se adaptar para manter a saúde financeira durante a Covid-19.
Enquanto um levantamento da PwC divulgado este ano, que analisou o desempenho de quase três mil líderes empresariais no País e no mundo, apontou que o planejamento é precário para 98% das empresas.
Atento a essas dificuldades do setor empresarial, o executivo Marcos Freitas, especialista em gestão de pequenas e médias empresas, passou a ministrar cursos e conferências voltadas para gestão de negócios por todo o Brasil.
O autor do Best Seller “Coragem para Crescer” acredita que a pandemia acelerou a transformação da mentalidade empresarial e expõe a importância dos líderes conhecerem suas equipes e participarem ativamente da gestão dos processos de forma reflexiva, madura e engajada.
As conferências ministradas pelo executivo abordam as principais tendências do mercado. O objetivo, é fazer os grupos de empresários repensarem e adequarem suas estratégias de negócio, a fim de expandir suas vendas e aprimorar sua gestão. Sobre a perspectiva para o segundo semestre deste ano, Marcos Freitas avalia:
“Estamos entrando num segundo semestre desafiador, e ninguém sabe como vai ser o cenário político e a economia. Para isso, nós empresários precisamos dar as mãos, andarmos juntos para melhorarmos nossos negócios, profissionalizando nossa gestão, criando times fortes e montando diferenciais que nos destaquem dos nossos concorrentes. Só existem dois caminhos para o crescimento de empresas que é o da profissionalização e o da centralização através de pessoas competentes”.
Marcos Freitas, executivo, palestrante e criador do método APN
Atento aos desafios enfrentados pelos empresários brasileiros, o executivo decidiu criar o Método de Alta Performance nos Negócios (APN), que resgata a importância dos resultados nas empresas e já contribuiu na aceleração de mais de 13 mil companhias de todo o Brasil.
Marcos defende que é necessário que a empresa se prepare para crescer e que toda a gestão deve ser revisada e transformada para que a empresa possa atingir a alta performance. O intuito é alcançar a meta de crescimento de lucros, engajamento da equipe e de uma empresa autossustentável.
Para isso, a metodologia APN está alicerçada em ferramentas de gestão e finanças, partilhadas através de cursos, consultorias e mentorias. O principal evento é homônimo à metodologia, o APN. “Não importa aquilo que se tem para vender, não devemos pensar como empresários, e sim como clientes. Devemos focar naquilo que eles querem comprar, aí está a fórmula do sucesso”, ensina Marcos.
Para o executivo, os empresários brasileiros estão mais atentos e dispostos a fazer a diferença em seus negócios, de forma estratégica, estruturada e assertiva. “Eles entendem que todo esse período foi bastante desafiador, mas que é possível, sim, mudar, potencializar resultados e, principalmente, crescer”.