Os empresários cearenses do setor de material de construção (atacado e varejo, chamados de “matcon”) estão otimistas quanto as vendas em 2022, apesar da inflação em alta e dos juros elevados. O segmento, que depois de dois anos (2020 e 2021) de muito aquecimento passou por estabilidade nos seis primeiros meses deste ano, espera reação neste segundo semestre.
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Mas, para 2023 não arriscam fazer previsões. É uma grande incógnita, pois o mercado está muito atrelado a fatores internos e externos, como, por exemplo, a política econômica a ser adotada pelo próximo presidente e a guerra entre Rússia e Ucrânia, além da perspectiva de recessão mundial.
A cadeia produtiva da construção (construção, indústria de materiais, comércio de materiais, serviços, máquinas e equipamentos e outros) é forte no Brasil. Para que se tenha uma idéia de sua importância, a contribuição (participação) com o Produto Interno Bruto (PIB) nacional foi de 6,3% em 2019 e de 5,9% em 2020 (queda registrada em consequência das ações de combate a pandemia do covid-19).
Nesta cadeia produtiva, é o setor de construção que detém maior participação em termos de percentual: 56,6% em relação ao PIB. A arrecadação tributária (receita) da cadeia, em 2020, totalizou R$ 189,4 bilhões (impostos sobre produção e importação e sobre renda e propriedade).
O presidente da Associação dos Comerciantes de Materiais de Construção do Ceará (Acomac/CE), Lavanery Campos Wanderley, observa que, no primeiro semestre de 2022, o “matcon” ainda foi afetado pela falta de mercadorias, o que provocou constantes aumentos nos preços de produtos.
As vendas foram estáveis nos primeiros seis meses, mas o setor, neste segundo semestre, já colhe bons frutos. E isso é consequência do trabalho realizado pela indústria, pelas empresas do comercio de material de construção e também em função de políticas públicas, além de outros fatores.
Ele acredita em um maior aquecimento no segundo semestre de 2022, resultado que pode ser semelhante, inclusive, ao de 2019, antes da pandemia da Covid-19. No entanto, para 2023, não é possível vislumbrar qualquer perspectiva.
“É uma grande incógnita. Consequência do cenário de instabilidade mundial. Contudo, temos fé, pois sempre é possível enfrentar as adversidades e, assim, promover resultados similares a 2022”.
Para Cid Alves, presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Maquinismos, Ferragens e Tintas de Fortaleza (Sindimac) e do Sindicato do Comércio Varejista e Lojista de Fortaleza (Sindilojas), o setor de material de construção cearense está crescente em comparação com 2020. Naquele ano, as vendas caíram com o fechamento dos estabelecimentos comerciais, das indústrias, das rodovias, do transporte de modo geral. Então, ocorreu desabastecimento. “Mas quem tinha produto vendeu rapidamente após o período de fechamento, de lockdown”.
Em 2022, ele acredita que os números vão ser positivos, bem superiores aos de 2021, uma vez que o setor está abastecido, não existindo falta de produtos. O otimismo vem em decorrência de mais dinheiro em circulação por conta do Auxílio Brasil do Governo Federal; do saque aniversário do FGTS; do pagamento do 13º salário (nos âmbitos federal, estadual e municipal), dentre outros.
“Tudo isso proporciona maior poder de compra, o que vai impactar em toda a cadeira da construção. E isso chega em boa hora, quando não há falta de material de construção. Este ano está sendo bom e com certeza nos haveremos de vender em quantidade bem acima do ano passado”.
Cid Alves, presidente do Sindimac e do Sindilojas
Para 2023, o empresário também afirma que só existem incertezas. “É quase impossível fazer uma previsão, pois muitas decisões podem atingir diretamente o setor, positivamente ou negativamente. Se a política macroeconômica continuar, sem ocorrer mudanças significativas, a gente tem certeza que passaremos por crescimento”.
“Na economia tudo pode mudar” – ressalta, acrescentando que ninguém sabe qual vai ser o contexto do novo comandante da economia brasileira. Pode ser que a taxa de juros continue a subir. Neste caso, quanto mais elevada, mais o setor sofre, já que se trata de bens duráveis, que é o caso dos materiais de construção e, de forma geral, até de manutenções, de reformas e a instalação de novos imóveis no Brasil.
Matcon foi destaque no Ceará
O “matcon” sofreu, em 2020, no primeiro momento, forte impacto em decorrência do lockdown, medida tomada como forma de combater a pandemia da Covid-19. Porém, explica Lavanery Campos, o setor de construção foi estabelecido como essencial, transformando a expectativa para toda a cadeia produtiva. No decorrer do ano, o comércio de material de construção cresceu e se tornou destaque na economia, não só do Ceará, mas de todo o Brasil, comportamento semelhante verificado em muitos outros países.
O setor foi impulsionado pela elevação do consumo, pois muitos realizaram melhorias em imóveis, como residências, postos de combustíveis, hospitais, farmácias e clínicas, além da aquisição de uma segunda moradia (novas construções). Boa parte do aquecimento foi decorrente dos recursos de governo aportados para os mais carentes, que transpassaram por toda a economia do país, alavancando o “matcon”.
Já em 2021 – lembra o Lavanery Campos – a pandemia ainda apresentava número alarmante de vítimas. Porém, as atividades econômicas voltaram fortemente, sobretudo para o setor de construção. A procura por materiais foi elevada, superando toda a expectativa do segmento. E isso ocasionou a falta de matéria prima e, consequentemente, a escalada de preço de produtos, já que a lei da procura e oferta impera nessas ocasiões, ditando o preço.
As taxas de juros em 2021 para o mercado imobiliário foram atrativas, contribuindo em muito para o aquecimento de toda a cadeia,
“Até mesmo chegando a ter falta de estoque (de apartamentos, casas, residências de modo geral). A indústria da construção chegou, inclusive, a aumentar a velocidade e o volume de incentivos em unidades habitacionais”.
Lavanery Campos Wanderley, presidente da Acomac/CE
Desde o início da pandemia os produtos mais vendidos (maior demanda, giro) são pisos, as louças sanitárias, tintas, telhas e, claro, o cimento. São itens básicos que atendem a todo tipo de construção, todos os níveis de classes sociais. Cid Alves acrescenta à lista itens elétricos e hidráulicos.
Setor varejista cresce 4,4% em 2021
Dados da pesquisa da Associação Nacional dos Comerciantes de Material de Construção (Anamaco) revelam que o setor de varejo de material de construção registrou, em 2021, faturamento de R$ 202,31 bilhões, segundo dados de levantamento realizado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV/ Ibre).
O resultado representa elevação real de 4,4% quando comparado com 2020 (R$ 150,55 bilhões). Em 2020, o setor registrou crescimento de 11% (R$ 132,06 bilhões). Mesmo diante do resultado de 2021, a Associação diz que as estimativas para 2022 são incertas.
As incertezas são em decorrência dos seguintes fatores: desaceleração do crescimento, altas taxas de desemprego, nível de endividamento elevado das famílias, alta taxas de juros, além das incertezas típicas de um ano eleitoral.
A Anamaco, inclusive, acredita que o faturamento do varejo de lojas de material de construção pode recuar entre 1% e 1,5% este ano em relação ao ano passado. No Ceará, em 2021, houve um crescimento de 35,8%, nas vendas do setor varejista de material de construção.
Indústria de material de construção está otimista
Depois de considerar julho como regular, os empresários das indústrias de materiais de construção estão otimistas para o setor em agosto. É o que revela a pesquisa realizada pela Associação Brasileira da Indústria de Materiais de Construção (Abramat), na nova edição do Termômetro da Indústria de Materiais de Construção, que é realizada com lideranças do setor.
Embora a maioria (70%) tenha considerado julho como razoável, cerca de 20% apontaram como bom. Para agosto de 2022, o otimismo é grande, pelo menos na expectativa: 40% das empresas associadas estimam resultado bom, enquanto 50% regular.
A publicação da Abramat também traz informações sobre o nível de utilização da capacidade instalada da indústria de materiais de construção. Em julho, a utilização da capacidade industrial foi de 76%, na média das empresas associadas, 2 pontos percentuais abaixo em relação a junho de 2022, e queda de 4 pontos percentuais em relação a julho de 2021.
Já as pretensões de investimento em julho de 2022 apresentam leve crescimento, com aumento de 1 ponto percentual em relação ao mês anterior, refletindo a retomada dos investimentos projetados para este ano, com 75% das indústrias de materiais indicando que devem investir nos próximos 12 meses, seja para aumento da capacidade produtiva, seja na modernização dos meios de produção. Em julho do ano passado, este indicador era de 71%.
Ainda de acordo com a Abramat, o faturamento das indústrias de materiais de construção apresentou leve alta em julhona comparação com o mês anterior, conforme a nova edição da sua pesquisa Índice, elaborada pela FGV com dados do IBGE. O estudo indica que, em julho de 2022, o faturamento deflacionado das indústrias de materiais de construção registrou leve aumento de 0,4% em comparação com junho.
Já na comparação com julho de 2021, registrou-se queda de 3,3%, o que configura a menor diferença interanual desde que a comparação passou a ser negativa em setembro de 2021. Com esse resultado, o faturamento da indústria de materiais de construção fica 7,8% abaixo do verificado no mesmo período de 2021. A diferença para 2021 já começa a se reduzir. Apenas nos últimos meses do ano, o sinal deve voltar a se inverter. A projeção de crescimento ainda para 2022 é de 1%.
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