Apesar do velho carnê ainda ter espaço no mercado – recentemente relembrado por Luiza Trajano, conselheira do Magazine Luiza -, o cartão de crédito deverá continuar reinando no mundo do consumo. Outros diferentes meios de pagamento, como bônus e promoções, marcam os novos tempos de orçamento curto para garantir os negócios diante de um consumidor mais atento e seletivo.
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Para Merula Borges, especialista em Finanças da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL), o fato se deve, basicamente, ao aumento da “bancarização” dos brasileiros. Isto tem a ver com o surgimento dos bancos digitais e, também, ao que ela chamou da atratividade dos “bancões”, em especial a Caixa Econômica Federal, que alcança mais as classes “D” e “E”.
Com base na pesquisa “Comportamento do Consumidor no Uso do Crédito”, realizada pelo SPC/CNDL, a especialista em investimentos e risco pela Fundação Getúlio Vargas e em Gestão de Negócios pelo IBMEC não prevê crescimento significativo nas compras pelo crediário. Isso por conta das novas tecnologias dominadas principalmente pela atual geração que utiliza modalidades como Pix, que compra nos marketplaces e paga parcelado pelo celular. Sabe-se que 60% das transações via internet são parceladas e 56% utilizam o cartão de crédito.
O fato é que o varejo dispõe de alternativas de acesso às compras e que, segundo a CNDL, o grande diferencial está na criatividade dos varejistas em personalizar o produto e aperfeiçoar o atendimento para fidelizar sua clientela, evitando sacrificar as margens para continuar pagando salários em dia.
Há, também, o cartão de crédito de lojas ou empresas em geral, os Private Labels, que impulsionam negócios graças a recursos próprios ou lastreados por bancos e financeiras parceiras. Dados da Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo (SBVC), já em 2019 (último acompanhamento disponível), mostraram que este tipo de transação cresceu 16%. Trata-se de uma alternativa oferecida aos consumidores sem acesso ao crédito e sem conta em banco.
Ao mesmo tempo, é um mecanismo que cria vínculo deste consumidor com a marca. Há quem defenda o cartão corporativo como um caminho que democratiza o crédito. Para os pequenos varejistas, ele se apresenta como uma oferta adicional e dedicada de financiamento de estoques.
No Ceará, a realidade é a mesma. Num mês sem grandes apelos de consumo, como agosto, o Dia dos Pais chegou em boa hora, contando, ainda, com os reflexos da injeção de recursos no mercado. Para Cid Alves, presidente em exercício do Sistema Fecomércio Ceará, o momento é favorável para o aumento das vendas neste início de segundo semestre.
“Estamos em viés de crescimento e há uma expectativa de que o mercado siga aquecido”.
Isto se deve aos reflexos da antecipação do pagamento do 13º salário no setor público, à restituição de Imposto de Renda e ao saque do FGTS. Levantamento do Sistema Fecomércio, através do Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento do Ceará (IPDC), mostra que o tíquete médio dos presentes no Dia dos Pais ficou entre R$151,00 e R$200,00, com pagamento com cartão de crédito (46%) e em dinheiro (41,4% dos entrevistados).
Quem vivenciou intensamente os reflexos da pandemia em suas rotinas foi a Associação Brasileira de Supermercados (ABRAS), segmento relevante no consumo nacional com suas 93 mil lojas e 3,1 milhões de empregados diretos e indiretos. Junto com o auxílio emergencial veio a mudança de hábitos do consumidor, que buscou melhor preço em produtos e marcas, o que garantiu o aumento de 3,04% nas vendas em 2021.
“O comportamento do mercado nos levou a intensificar as ofertas, o que exigiu a busca de novos fornecedores introduzindo novas marcas nas gôndolas”.
Márcio Milan, vice-presidente Institucional e Administrativo da ABRAS
A carne bovina foi substituída por frango, cujo consumo per capita passou de 42,8 Kg para 46 Kg, acompanhada pela carne suína (15 Kg em 2020 para 17 Kg em 2021 e 19 Kg neste ano).
O óleo de soja da categoria Premium, por exemplo, que representava 41% do consumo total, caiu para 36% neste ano, enquanto as marcas de baixo valor ganharam participação de 55% para 59%. “Este movimento nos fez ver a necessidade de adequação e nos levou à oferta de novas e mais acessíveis marcas”, ponderou Milan, acrescentando que também as formas de pagamento nos supermercados ganharam novas feições com o ingresso de alternativas mais ágeis, como os meios eletrônicos.
“Os brasileiros perderam o medo de pesquisar, comprar e de pagar pela internet”.
Com crescimento do consumo de 2,20% no primeiro semestre, a ABRAS prevê para o ano a continuidade do crescimento graças aos recursos extras injetados na economia (ampliação do Auxílio Emergencial, Vale Caminhoneiro, Vale Táxi, Vale Gás, antecipação do Imposto de Renda, redução do preço da gasolina), já que a expectativa é de que entre 50% e 60% dos recursos sejam destinados à cesta de consumo. O setor também aposta em bons negócios com a Black Friday, a Copa do Mundo e as festas de fim de ano, o que levou a entidade a reprojetar a meta de crescimento do ano de 2,8% para 3,0% e até 3,20%.
Frente a um novo consumidor, os shoppings centers também oferecem ofertas e promoções, cada um a seu jeito para chamar público e vendas: o Shopping ABC, de Santo André, ofereceu aos pais cinema para levar os bebês, o Floripa Shopping criou a grua de prêmios para o Dia dos Pais, o Mooca Plaza sorteou motos, o Via Parque promoveu yoga, feira do livro no Auropa Shopping, mágica no São Gonçalo Shopping e tardes dançantes no Carioca Shopping.
Após ter experimentado em 2020 uma queda no faturamento sem precedentes em sua história e ter crescido 23,6% em 2021, o segmento projeta ampliar as vendas em 13,8% neste ano, aproximando-se dos níveis pré-pandemia. Conforme o Censo Brasileiro de Shopping Centers 2021-2022, elaborado pela Associação Brasileira de Shopping Centers (Abrasce), trata-se de um universo de 112 mil lojas com faturamento de R$ 159,2 bilhões em 2021, puxado em mais de 50% pelas regiões Norte (+29,4%) e Nordeste (+25,8%).
“Os últimos meses foram de resultados positivos o que traz ainda mais ânimo ao setor para este segundo semestre”.
Glauco Humai, presidente da Abrasce
A indústria automotiva, indicador relevante do comportamento da economia, também intensificou ofertas e promoções. Segundo o presidente da Associação Nacional de Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Márcio de Lima Leite, julho fechou com 218.950 unidades produzidas, um crescimento de 7,5% sobre junho e de 33,4% sobre julho de 2021. Para cumprir a meta de produzir 2,3 milhões de veículos no ano, mais do que os esforços de vendas, o setor trabalha para normalizar o fornecimento de semicondutores, além de torcer para a queda dos juros e para a garantia de financiamentos.
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