O Marco Civil da Internet define o acesso à internet como essencial ao exercício da cidadania no Brasil. No entanto, ainda existem barreiras de acesso no país. (Foto: Envato Elements)

Internet no Brasil: desigualdade de acesso prejudica o futuro do país

Por: Sara Café | Em:
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Automação, trabalho, ensino remoto e geração de dados estão entre as tendências, já atuais, para o futuro no que envolve a tecnologia.


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Para a Organização das Nações Unidas (ONU) a internet é percebida como um direito fundamental. E o Marco Civil da Internet, instituído em 2014, define o acesso à internet como essencial ao exercício da cidadania no Brasil. No entanto, ainda existem barreiras de acesso, o que pode comprometer as opções de futuro para o Brasil no contexto da transformação digital.

O diretor da Fecomércio/CE, Raniere Medeiros, afirma que essa discussão é importante em um momento em que a população depende da web para conseguir ultrapassar a barreira da desigualdade social.

“Temos que ter políticas públicas que facilitem a infraestrutura e educação para saber navegar e produzir nesse mundo digital.”

A desigualdade das coisas

Nos últimos dez anos, a desigualdade transformou-se em um dos desafios mais complexos e desconcertantes da economia mundial. Para além da má distribuição de renda, as desigualdades se apresentam de várias formas, como gênero, raça, sexualidade, classe e digital.

É fácil compreender a defesa dos estudiosos ao se deparar com dados da disparidade: enquanto o 1% mais rico do mundo acumula mais que o dobro da riqueza de 92% da população, quase metade das pessoas no planeta sobrevive com menos de cinco dólares e meio por dia (US$ 5,50). Os dados são da Oxfam, organização internacional de combate à pobreza e à injustiça social, publicados em 2020.

Além disso, embora a pandemia de Covid-19 tenha atingido todos os países, as consequências foram piores para as nações com maior desigualdade social, como o Brasil, segundo relatório divulgado pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 2021.

De acordo com o documento, a crise desencadeou impactos em todas as dimensões do desenvolvimento humano: na renda, com a maior retração da atividade econômica mundial; na saúde, com um número de mortes acima de 4,5 milhões até setembro de 2021; na educação, com estudantes fora da escola, sem acesso à internet, ampliando desigualdades já existentes.

O relatório constata que, embora seja considerado um país de alto Índice de Desenvolvimento Humano (0,778), o Brasil ainda não conseguiu sanar necessidades básicas da população, o que resulta na existência simultânea de vários “Brasis”.

A Internet é para todos?

Ao buscar entender as razões da desigualdade de acesso, encontramos três fatores básicos: as deficiências da infraestrutura de conexão (que incluem problemas de amplitude, qualidade e distribuição do sinal, além de custo do acesso e dos equipamentos); limitações de acesso a hardware; e deficiências do sistema educacional.

Embora investimentos em qualificação digital possam aumentar significativamente o PIB global e criar milhões de empregos, o abismo digital ameaça deixar o país para trás. “O principal fator que leva ao abismo digital é usarmos ferramentas retrógradas face a uma TI desatualizada, instável e cara”, completa José Lassance de Castro Silva, Presidente da Empresa de Tecnologia da Informação do Ceará (Etice).

Quase 34 milhões de brasileiros nunca acessam a internet; a maioria deles das classes C, D e E. Quase 87 milhões não conseguem se conectar todos os dias. Seis em cada dez só entram na rede com telefones celulares.

Com isso, o país sofre as consequências como o aumento da informalidade no mercado de trabalho, redução da produtividade, atraso no desenvolvimento humano e profissional e redução no acesso a serviços públicos oferecidos cada vez mais por meios digitais.

Esta é a conclusão do estudo “O abismo digital no Brasil”, realizado pela PwC Brasil em parceria com o Instituto Locomotiva e buscou mapear o acesso à internet no Brasil e estabelecer relações entre conectividade e desigualdade socioeconômica.

Raniere Medeiros, diretor na Fecomércio/CE, destaca três pontos importantes para diminuir ou eliminar o abismo digital.

  • Investimento na infraestrutura: “Para isso acontecer, devemos ter uma política de impostos para que essa infraestrutura se torne mais barata para o consumo”;
  • Educação digital: “Uma educação voltada para como utilizar o mundo digital no empreendedorismo e no ensino”;
  • Mundo digital pode melhorar negócios: “se o empresário não faz isso, ele entra no abismo digital (ou não consegue sair dele).”

Internet no interior

Com R$ 40 mil, o empreendedor José Roberto Nogueira, fundador da Brisanet, começou seu negócio em Pereiro, no interior do Ceará. Hoje, o negócio permite que moradores de mais de um milhão de residências de mais de 150 cidades de todo o Nordeste se conectem ao mundo em alta velocidade e por fibra óptica.

Os equipamentos de tecnologia e fabricação própria permitem que a Brisanet ofereça conexão também em cidades afastadas a custos acessíveis para a população. “O semiárido tem uma necessidade extrema da internet. Não tem cinema, shopping, mas tem internet. E nós já somos a principal operadora do Nordeste, dentro e fora das capitais, inovando sempre”, afirma José Roberto.

O Presidente da Etice concorda sobre a importância de vivermos em um mundo conectado, onde todos têm acesso à internet e informação ou pelo menos devem ter. “Internet com qualidade chegando em qualquer lugar significa desenvolvimento tecnológico satisfatório impulsionando a educação, o turismo, o comércio e a inclusão social.”

Tecnologia 5G

Agora imagine, o dia em que um médico consiga fazer, em tempo real, uma cirurgia em um paciente que está em outra cidade, ou ainda, a possibilidade de pegar uma carona em um carro autônomo e sem motorista. Parece um filme de ficção científica, certo? Mas são apenas as possibilidades que a chegada do 5G nos traz.

Após um longo capítulo entre disputas geopolíticas, questões comerciais e um leilão muito esperado, o 5G estreou no Brasil em julho deste ano. Brasília foi a primeira capital do país a oferecer o serviço.

Segundo José Lassance, o principal impacto será caracterizado com a alta performance e agilidade nas respostas solicitadas através de requisições à internet e sistemas corporativos. “Acredito que nos primeiros meses, o 5G estará disponível para as classes A, B e uma parte pequena da classe C, tendo em vista o custo desta tecnologia.”

Mas o custo das outras tecnologias 4G e 3G tende a ficar mais barata e, assim, crescer o acesso à internet das classes menos favorecidas. Portanto, todos serão beneficiados, diminuindo a desigualdade deste acesso.

“Eu acredito que o Ceará seja um dos melhores do Brasil ou esteja entre os três primeiros, mas para chegar a um nível de 5G está longe, mas não impossível, pois já temos um cinturão digital e várias empresas fornecendo internet no interior do Estado”.

Raniere Medeiros, diretor na Fecomércio/CE

A tecnologia conta com uma infraestrutura totalmente nova e exclusiva, oferecendo uma internet com alta velocidade com um baixo tempo de resposta e alta confiabilidade. Também permitirá a interconexão de equipamentos e dispositivos, possibilitando o acesso a produtos inovadores e utilidades domésticas, desenvolvendo a chamada Internet das Coisas (IoT).

“Esses serviços serão possíveis com o 5G, como isso vai demorar um pouco eu digo que o impacto ainda é pequeno. Mas para baixar um filme e músicas, as pessoas vão ter um impacto enorme de velocidade, mas tem que analisar o custo benefício disso”.

Raniere Medeiros, diretor na Fecomércio/CE

Os ganhos que o 5G promete trazer para o país poderão elevar o Produto Interno Bruto (PIB) em US$ 1,2 trilhão até 2035. A tecnologia deve resultar no aumento da produtividade, no desenvolvimento de novas soluções, abertura de novos negócios e na queda nos custos de produção.

Acesso à internet, comunicação e representatividade

Com o avanço das tecnologias da informação e transmissão, a sociedade vem buscando meios de se apropriar e pautar os meios de comunicação através das mídias livres e das redes de comunicação comunitária.

Especialistas garantem que todo esse movimento acontece como forma de defesa e empoderamento de classes e de grupos que não se veem representados no espaço público. É na internet que muitas discussões sociais estão ocorrendo e alcançando milhões de pessoas, marcas, entidades e grupos.

Vários assuntos como feminismo, questões indígenas, direitos LGBTQIA+, racismo, conceito familiar, preconceito, religião, visões políticas e até mesmo a quebra de paradigmas sociais estão ganhando projeção nas principais plataformas de comunicação digital. “O conceito de representatividade está ganhando um espaço cada vez maior na Internet. Durante muito tempo, as pessoas não se viam representadas nos meios de comunicação tradicionais. E a internet trouxe a possibilidade da existência de conteúdos voltados para diversos públicos, onde todos podem acessar as manifestações desses grupos e aderirem ou não a suas ideias, conceitos e práticas”, defende Raniere Medeiros.

“Essa é a essência da representatividade. A internet ajuda porque se torna democrática, popular e inclusiva”.

José Lassance de Castro Silva, Presidente da Etice

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