Pequenas coisas, juntas, podem transformar Fortaleza numa capital sustentável. A produção de energia limpa e renovável é um exemplo. (Foto: Adobe Stock)

Fortaleza: sinônimo de urbanismo com sustentabilidade

Por: Carmen Pompeu | Em:
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Sustentabilidade é a palavra de ordem do momento. O conceito tornou-se um princípio segundo o qual o uso dos recursos naturais para a satisfação de necessidades presentes não pode comprometer a satisfação das necessidades das gerações futuras.


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Trata-se de uma preocupação mundial. A Organização das Nações Unidas (ONU), por exemplo, elaborou uma lista de 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) para 2030, um pacto global assinado durante a Cúpula das Nações Unidas em 2015 por seus 193 países membros, dentre os quais está o Brasil.

Um desses ODS refere-se às Cidades e Comunidades Sustentáveis, que busca, por meio de dez metas estabelecidas (ver quadro abaixo), tornar as cidades e os assentamentos humanos inclusivos, seguros, resilientes e sustentáveis. Por isso, Fortaleza tem trabalhado para cumprir essas metas, e já conta com ações práticas nesse sentido.

Fortaleza: cidade sustentável

De acordo com dados da ONU, até 2030, cerca de 60% da população mundial viverá em áreas urbanas. Atualmente, quase um bilhão de pessoas moram em habitações irregulares. Além disso, as cidades são responsáveis por 75% das emissões de carbono na atmosfera. Portanto tornar as cidades mais sustentáveis e justas é uma questão de sobrevivência do Planeta e da humanidade.

O urbanista Tiago Moreira explica que o processo de urbanização é um fenômeno inevitável. “Nós, seres humanos, somos majoritariamente urbanos. Fortaleza, por exemplo, é hoje um município 100% urbano. Não tem área rural. Assim como Fortaleza, outras cidades também são 100% urbanas. A urbanização vai acontecer. Agora, ela precisa acontecer da forma mais sustentável possível”, adverte.

Mas, afinal, o que torna uma cidade sustentável? Para Tiago Moreira, são pequenas coisas que, juntas, fazem uma diferença muito grande. Ele cita como exemplos o tratamento correto do lixo; a produção de energia limpa e renovável; o consumo consciente; o transporte coletivo satisfatório; a redução do deslocamento casa-trabalho-casa; opções de deslocamentos menos poluentes, dentre outras ações.

Mobilidade

“A gente tem o transporte, infelizmente, ainda muito concentrado no modelo rodoviário, seja para pequenas distâncias, seja para grandes distâncias. As cidades sustentáveis também precisam resolver essa questão do deslocamento”.

Tiago Moreira, urbanista

Segundo ele, a solução seria a pessoa morar próximo ao local de trabalho e, desta forma, utilizar meios de transporte não poluentes, como a bicicleta. “Nos últimos anos, temos em Fortaleza esse sistema de locação de bicicleta bastante disseminado, graças à ampliação das ciclovias”, avalia.

Uma outra forma, aponta o urbanista, é dar robustez ao transporte público. “Por mais que o transporte rodoviário não seja o ideal, ainda assim é melhor. Porque um transporte público funcionando bem faz com que as pessoas optem por deixar o carro particular em casa. É menos um veículo na rua”.

Na opinião do urbanista, a cidade de Fortaleza tem avançado nesse sentido. “A gente que lida muito com o Poder Púbico, até pela natureza do nosso trabalho, percebe o ímpeto dos gestores de melhorar a situação. Estamos muito abaixo do necessário, do ideal. Mas a gente tem dado alguns passos importantes”, avalia Moreira.

Reciclagem

Uma dessas iniciativas é o projeto Re-ciclo, fruto da premiação que Fortaleza recebeu do Desafio Global de Mobilidade Urbana 2019, organizado pela Transformative Urban Mobility Initiative (TUMI), e nasceu da parceria entre a Agência Alemã de Cooperação (GIZ) e o Banco de Desenvolvimento da América Latina (CAF).

No início deste mês, o prefeito José Sarto lançou a nova fase do projeto-piloto, incluindo a coleta seletiva em cinco bairros da cidade. Essa etapa conta com parceria do iFood e execução da startup Solos, que traz o primeiro modelo de inovação aberta do País para a coleta de recicláveis. Essa nova etapa terá duração de 12 meses e atenderá aos bairros: Centro, Praia de Iracema, Meireles, Varjota e Mucuripe. A participação é gratuita e comércios e residências podem solicitar o serviço de coleta seletiva diretamente no site do projeto.

Segundo o prefeito José Sarto, a projeção é de que, no período de um ano, sejam coletadas 350 toneladas de resíduos e ocorra uma geração de renda estimada em R$ 370 mil para os catadores associados, proporcionando uma renda fixa de R$ 1.100 por mês para cada catador, além dos valores recebidos pela venda dos resíduos.

“Fortaleza parte mais uma vez na frente para ser essa cidade pedagogicamente educada em reciclar o seu lixo, fazer a diferenciação, em parceria com os trabalhadores e as trabalhadoras dessa área da reciclagem”.

José Sarto, prefeito de Fortaleza

A intenção é que o projeto seja expandido para toda a cidade. A meta da Prefeitura de Fortaleza é avaliar os resultados e ampliar o projeto para todos os bairros, atingindo uma taxa de reciclagem de 50% em oito anos. Atualmente o Brasil recicla, em média, menos de 4% dos seus resíduos.

“Depois da fase piloto, em que algumas associações de catadores testaram os triciclos elétricos, entramos agora numa fase estruturada, com atendimento pela internet e com a coleta feita por associações parceiras que vão operar os triciclos. Serão 10 triciclos nos cinco bairros, mas, dependendo do engajamento da população, podemos aumentar a quantidade”, diz Sarto.

Energia limpa e renovável

Uma outra meta é a produção da própria energia, de forma limpa e renovável. “Aqui no Nordeste, a energia eólica e a solar são fontes que a gente tem em grande quantidade. Claro que são energias que também produzem impacto no meio ambiente. Mas impactam de forma muito menos agressiva que a usada majoritariamente”, afirma o urbanista Tiago Moreira.

De acordo com ele, as empresas também podem e devem contribuir com esse processo. O urbanista cita como exemplo a construtora onde trabalha, a MRV. A empresa tem optado por ações que gerem menos impacto na natureza. Uma dessas ações é adoção de placas fotovoltaicas nos empreendimentos. Outra é a inclusão de bicicletas compartilhadas e de ponto de recarga para carros elétricos.

A prefeitura também tem se preocupado com essa questão e criou um grupo de trabalho para analisar propostas de incentivo à Geração de Energia Distribuída para Fortaleza. Para o vice-prefeito Élcio Batista, é hora de deixar para trás os combustíveis fósseis: “É fundamental esquecermos os combustíveis fósseis para enfrentar o aquecimento global e a crise climática”.

Composto por representantes do poder público, da academia e da iniciativa privada, o grupo tem como missão a realização de estudos, discussões e propostas que viabilizem a criação e implementação do Programa Fortaleza Solar, que deverá promover o desenvolvimento sustentável por meio da adoção de mecanismos que utilizam fontes alternativas de energia.

Segundo Élcio Batista, Fortaleza é a sexta cidade do Brasil em geração de energia de modo distribuído. “São dados como esse que comprovam a vocação energética da chamada Terra do Sol, para difundir o consumo eficiente de energia, viabilizar a geração distribuída de energia elétrica e incentivar o aproveitamento energético de resíduos”, pontua.

Educação

Uma outra frente para a construção de uma Fortaleza mais sustentável tem sido a educação das novas gerações. A Prefeitura de Fortaleza, por meio de parceria entre o gabinete da vice-prefeito e a Secretaria Municipal da Educação (SME), começou, neste mês de setembro, o projeto Fortaleza Futuro Sustentável em 12 Escolas de Tempo Integral da Rede Municipal de Ensino.

A ação prevê um cronograma semanal, no qual cerca de 120 estudantes do 8º e do 9º ano de uma unidade escolar terão a oportunidade de participar de rodas de conversa e de jogo interativo mediado pelo vice-prefeito Élcio Batista. A partir de um quiz, os adolescentes serão incentivados a pensarem seus projetos de vida em sintonia com a construção de uma Fortaleza mais sustentável, integrada, criativa e acessível.

“O ponto de partida e de chegada das políticas públicas são as pessoas. A educação é uma forte aliada na difusão da importância do Planejamento Urbano Sustentável, tendo como base os ODS da ONU, a Nova Agenda Urbana, o plano Fortaleza 2040, a compreensão do selo da Unesco, e de Fortaleza, enquanto Cidade Criativa do Design. Nesse sentido, queremos semear no presente, junto a jovens líderes, a construção de um futuro sustentável para todos e todas”.

Élcio Batista, vice-prefeito de Fortaleza

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