Os MEIs já representam mais de 70% do universo empresarial brasileiro e quase metade das empresas ativas no Ceará. (Foto: Envato Elements)

A face social do empreendedorismo puxado por MEIs

Por: Gladis Berlato | Em:
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Com um secador de cabelos e muita vontade de crescer, Fernanda Santos, aos 24 anos, orgulha-se de ser “dona e proprietária” do Studio Fernanda Santos, na zona leste de São Paulo. Ela, que fazia cabelo em domicílio desde 2018, decidiu empreender a partir da pandemia que tirou seu emprego formal. Montou espaço próprio em sua casa e, com o apoio da Rede Mulher Empreendedora, expandiu o negócio, sendo, inclusive, premiada pelas especializações que buscou. “Coloque foco no seu sonho e não desista”, diz ela.


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Fernanda é apenas uma dentre tantas histórias transformadoras da Rede Mulher Empreendedora, que comemora a marca de 9,0 milhões de mulheres impactadas nos seus 12 anos de atuação. A plataforma, que oferece cursos, mentorias, conteúdos e benefícios, nasceu em 2010 justamente da inconformidade de Ana Fontes, fundadora da RME, com a falta de oportunidades para as mulheres.

A coragem da empreendedora social abriu caminho também para Catiane Fernandes, 38 anos, e sua cozinha profissional para atuar em confeitaria artística em seu atelier de doces. “Me senti mais forte ao encontrar outras mulheres com os mesmos desafios que eu, ou até maiores, mas que estavam seguindo seus caminhos, prosperando em seus negócios”, lembra a empreendedora.

Vulnerabilidade social e o MEI

Para Ana Fontes, fundadora e CEO da RME, essa jornada empreendedora representa um respiro no cenário econômico e social.

“Uma mulher com autonomia econômica é dona da sua vida e de suas decisões e impacta socialmente na família, na educação dos filhos e na comunidade onde vive”.

A RME conta com o apoio de embaixadoras voluntárias que ajudam a alcançar cada dia mais mulheres e tem um marketplace com 1691 empresas cadastradas, além do Instituto Rede Mulher Empreendedora, focado na capacitação de mulheres em situação de vulnerabilidade.

A gerente executiva do Instituto RME, Débora Monteiro, comenta que o além de ajudar as mulheres a escolherem uma atividade para garantirem a sua liberdade individual, também dá suporte no desenvolvimento.

“Temos programas e parcerias para acelerar o processo de digitalização dos negócios e oferecemos apoio financeiro, uma doação de recursos a fundo perdido, para tirar a ideia do papel ou impulsionar a empresa já montada”.

Os novos CNPJs

Por necessidade de sobrevivência ou não, iniciativas femininas e masculinas integram as estatísticas do Ministério da Economia.Apesar da pandemia, em 2020 houve a criação de 3,3 milhões de novas empresas, dos quais 2,5 milhões eram microempreendedores individuais (MEIs), a categoria que mais cresce. Os setores de comércio e serviços correspondem a mais de 80% dos empreendimentosativos no País.

Em 2021, foram abertas 4,026 milhões de empresas no Brasil, mas 1,410 milhão fecharam as portas, deixando, ainda um saldo positivo de 2,615 milhões. E, em 2022, o País segue empreendendo com quase 2,0 milhões de empresas novas somente no primeiro semestre (quase 79% MEIs), bastante concentradas no Sul e Sudeste.

O destaque ficou com a área de serviços com uma presença de mais de 60% representada por atividades de transporte, armazenagem e correios. Evoluíram também serviços relacionados à administração, além de educação, saúde e serviços sociais.

Colchão Social

Para o Analista de Gestão Estratégica do Sebrae Nacional, Kennyston Lago, o segundo semestre, historicamente, tem sido melhor em criação de empresas refletindo fielmente o comportamento da economia que ele classifica como “uma bola de cristal”, especialmente em ano eleitoral e considerando, ainda, as surpresas no cenário internacional.

O que não surpreende, segundo ele, é a efervescência do espírito empreendedor do brasileiro e o advento dos MEIs, considerado um “colchão social”, opção para ter renda ou ampliar renda. No melhor cenário, a expectativa é de fechar o ano com 4,0 milhões de novas empresas em atividade.

O analista do Sebrae observa, entretanto, que é preciso buscar conhecimento para evitar a mortalidade, que chega a quase 20% no caso dos MEIs até dois anos. “Na pressa de empreender, os microempreendedores desconhecem os conceitos básicos de gestão envolvendo formação de preço, margem de lucro, custos fixos e, em geral, misturam as contas pessoais e profissionais”, comenta.

Junta Comercial CE

No Ceará, o movimento de criação de empresas tem sido igualmente crescente, passando de 88.757, em 2020, para 109.836, em 2021, em ambos os anos mais concentrado no segmento de serviços. No primeiro semestre deste ano, o número já chegou a 56.120, mais de 32.000 das quais também na atividade terciária, como mostram os números da Junta Comercial cearense.

Para ovice-presidente da JUCEC, Caio Rodrigues,o arrefecimento da pandemia e a retomada gradual da atividade econômica garantirá que a tendência é de continuado crescimento. “Confiamos em números positivos para o próximo trimestre”, afirma o executivo, que também credita os bons números às ações de simplificação e desburocratização do Governo do Ceará, que criou um bom ambiente local de negócios.

Maior qualificação

Segundo o articulador da Unidade de Inteligência Estratégica do Sebrae-CE, Felipe Melo,a atividade empreendedora é uma realidade que precisa ser cada vez mais qualificada. Nascem muitas empresas, mas muitas ainda desaparecem por falta de preparo. “Mas o que se vê é um cenário de maturidade”, entende ele, com destaque para o Ceará. Enquanto no Brasil 60% das empresas conseguem passar o período crítico de 3 anos e meio de vida, no Ceará este percentual passa dos 66%.

Como agência de desenvolvimento e fomento do empreendedorismo, o Sebrae-CE aplaude as iniciativas empreendedoras,mas alerta para a necessidade de maior competência administrativa para a gestão do negócio, que vai muito além do saber fazer, vender e entregar.

O fato é que o nascimento de tantas empresas, fruto, em boa parte, da necessidade de sobrevivência pela fragilidade do momento econômico, consolidou os MEIs no mercado onde já representam mais de 70% do universo empresarial brasileiro. Entre as causas, Felipe Melo cita a burocracia menor que permite o registro de uma empresa em 28 horas, em média, e a facilitação do crédito na rede bancária de um modo geral, notadamente pela Caixa Econômica Federal.

Das quase 860 mil empresas ativas no Ceará, quase metade, ou 440 mil são MEIs, que respondem por 25 mil dos 40 mil postos de trabalho.

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