Desde o início da pandemia da Covid-19 até o final do ano passado, os veículos usados e seminovos, no Ceará tiveram uma valorização de 28%. Com a retomada da economia proporcionada pela vacinação em massa da população, de acordo com o Sindicato dos Revendedores de Veículos Automotores (Sindivel), a previsão é que o preço deverá ter uma redução de 10% até o final deste ano, em comparação com os valores praticados em 2021.
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“O preço destes automóveis, inclusive, já baixou 6% no primeiro semestre de 2022, restando uma variação de 4%”, ressalta Desirée Custódio Mota, presidente do Instituto de Desenvolvimento Econômico, Social e Empreendedorismo (Idese). De acordo com ela, apesar da flutuação, a tabela não vai voltar ao patamar de preços registrados antes da pandemia.
A valorização de seminovos e usados foi desencadeada pela falta de insumos, que acabou afetando a produção de carros novos no Brasil e, consequentemente, atrasando a entrega destes. Como reflexo, a procura por carros seminovos e usados aumentou. Mesmo assim, a demanda ainda não se igualou ao período pré-pandemia.
Desirée explica que o setor ainda está se recuperando, no Brasil como todo, tendo registrado uma alta de 2,7% das vendas em julho deste ano, conforme dados da Federação Nacional das Associações de Revendedoras de Veículos Automotores (Fenauto).
Segundo a Fenauto, entidade que representa os lojistas multimarcas, em junho deste ano, houve uma recuperação gradativa do segmento, com a média diária de vendas aumentada para 2,5%.
Com relação ao resultado das vendas de maio, o setor registrou uma variação ligeiramente menor de 2,2%, puxada principalmente pelos segmentos de motos (-6,4%) e Comercial Pesado (-1,7%).
Os segmentos de Auto e Comercial Leve tiveram variações mínimas no período (-0,8% e – 0,7% respectivamente). O acumulado de veículos comercializados passou de seis milhões no primeiro semestre do ano, chegando a 6.027.351 unidades, contra 7.367.947 no mesmo período de 2021, um resultado ainda negativo em 18,2%.
“Como já previsto, esses resultados com variações pontuais ainda podem acontecer, tanto para mais como para menos, até o final do ano”, ressaltou o presidente da entidade, Enilson Sales. “Mas, ao que tudo indica, continuamos na expectativa de um equilíbrio, já que percebemos uma ligeira melhora no ‘estado’ de atenção dos consumidores com relação à economia“, completou.
A presidente do Idese diz que a inserção das mulheres no setor automotivo, ainda predominantemente masculino, é um fator importante para o incremento nas vendas. Desirée afirma que as mulheres estão cada vez mais se inserindo neste tipo de negócio, ocupando espaços na fabricação, venda, manutenção e consumo. O fato é que elas estão alinhadas ao ramo dos possantes. E as mulheres motoristas aumentam ano após ano nas estradas brasileiras, refletindo o empoderamento feminino.
É indiscutível que, na hora da compra, elas sempre tiveram um grande poder de influência. Mas agora uma boa parcela delas passou a dominar tudo o que envolve o universo automotivo, da mecânica ao acabamento. A prioridade é por segurança, conforto, espaço e estética. E os critérios vão muito além do espelho para retocar o batom. Elas buscam espaço para a cadeirinha das crianças; porta-objetos; além de porta-malas amplo para acomodar a bagagem para o passeio de fim de semana. Buscam também por conectividade.
Na hora da venda, se o carro é de mulher ele é mais valorizado. Isso porque as estatísticas mostram que elas são mais cautelosas ao dirigir e se envolvem em menos acidente do que eles. “Quando o carro é de mulher, ele tem uma conservação melhor porque a mulher é mais cuidadosa. Ela fica de olho nas manutenções. Ela geralmente não roda tanto quanto os homens, pois utiliza o carro apenas para ir ao trabalho e voltar”, compara Desirée. E de condutora do próprio veículo, a mulher também passou a dominar o processo de produção, mecânica e comercialização.
“O ramo automobilístico, tradicionalmente, era muito masculino. A mão de obra utilizada era 100% composta por homens. Isso ocorria porque para vender o produto você precisaria ter conhecimento sobre ele, sobre o mercado onde atua”.
Desirée Custódio Mota, presidente do Idese
De acordo com ela, até pouco tempo, as mulheres eram mais presentes em setores administrativos de bancos ou empresas públicas. Por isso a vocação para o automobilismo ficou adormecida. Mas foi a partir da automação do processo de fabricação de automóveis, onde a força física já não se fazia mais tão necessária, que as mulheres começaram a entrar também no setor automotivo. E passaram a dominar conhecimentos de mecânica e técnicas de venda.
Desirée destaca ainda a maior presença feminina nos cursos de engenharia. “Hoje em dia, a própria área da engenharia está mais diversificada. Tem engenharia mecânica, robótica, e as mulheres começaram a se inserir tanto nessa qualificação profissional como também no mercado. Na medida em que a mulher foi conhecendo, se capacitando com relação ao maquinário, ou seja, de como produzir um carro, deixou de ser uma atividade exclusivamente masculina para ser uma atividade mista. Não é que a maioria seja mulher. A maioria ainda é composta por homens”, ressalva a pesquisadora.
Outro fator que tem contribuído para a inserção de mulheres empreendedoras no setor automotivo é o fato de a mão de obra ter deixado de ser “braçal”, passando a ser tecnológica. “Tornou-se uma atividade de maior qualificação, que requer maior especialização, porque envolve a robótica, ou seja, o maquinário e o humano com um nível de qualificação maior”, explica Desirée.
“Não se faz mais necessário a força para se produzir um carro”, completa, comparando com a linha de produção de montagem em série, inaugurada por Henry Ford, no início do século 20, retratada com humor por Chaplin no filme “Tempos Modernos”. Naquele tempo, compara Desirée, o movimento era muito repetitivo, era braçal e em cima de uma série. “Hoje não. A gente produz um carro com muito mais tecnologia, com muito mais conhecimento que a gente chama de soft skill, fazendo com que o carro seja feito com mais qualidade, com mais segurança, com mais garantia e com menos possibilidade de erro humano”, pontua.
As revendas também estão sendo invadidas por elas. Desirée atribui isso ao fato de a mulher ter um maior poder de convencimento, porque estuda mais sobre o produto e fala com propriedade sobre os benefícios dele. Sem falar que a mulher tem empatia, tem uma melhor presença. “E quando a compra é realizada por homens, eles gostam de serem atendidos pelas mulheres”, brinca a pesquisadora.
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