A procura por energias limpas e renováveis, especialmente a eólica e a solar (fotovoltaica), tem crescido no Brasil a cada ano. A demanda por esses tipos de energias é uma realidade que atinge vários setores da economia, que são atraídos pelos benefícios que elas proporcionam. É uma tendência mundial disseminar a importância de atitudes sustentáveis, valorizando os empreendimentos.
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Como forma de driblar os gastos altíssimos com a conta de energia elétrica, muitas empresas estão optando pela energia de módulos solares (fotovoltaica). A economia é significativa. Outra novidade Hidrogênio Verde, onde o Ceará é pioneiro, pois partiu na frente para tornar-se um importante hub de produção e exportação de Hidrogênio Verde.
Geração própria de energias limpas
De acordo com a Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (ABSOLAR), o Ceará (posição de setembro de 2022) ultrapassou 39,3 mil conexões de geração própria de energia solar em telhados e pequenos terrenos. A região possui 436,7 megawatts (MW) em operação nas residências, comércios, indústrias, propriedades rurais e prédios públicos. A Entidade afirma que no estado a geração própria de energia solar já tem a atração de mais de R$ 2,4 bilhões em investimentos, gerando mais de 13,1 mil empregos e uma a arrecadação de mais de R$ 596,6 milhões aos cofres públicos.
Somadas todas as fontes de energias (biomassa, eólica, fóssil, hídrica, nuclear e solar), a capacidade atual outorgada no Brasil é de 280.222.662,22 kw (capacidade fiscalizada é de 185.477.059,01 kw), total distribuído entre 21.810 empreendimentos nos 26 Estados e o Distrito Federal, de acordo com o último levantamento (setembro/2022) da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). A maior fonte geradora, claro, são as usinas elétricas, com 55,62% do total outorgado, seguido pelas termelétricas, com 24,39%; eólicas, com 12,10%; e a fotovoltaica, com 3,36%.
Tendo como parâmetro a potência outorgada total brasileira (280.222.662,22 kw), o Ceará ocupa a nona colocação no ranking nacional, com 12.666.418,10 kw, com 299 empreendimentos, responsável por uma participação 2,84%. O primeiro lugar é ocupado por Minas Gerais, que é seguido pela Bahia, São Paulo, Pará e Rio Grande do Norte.
No caso específico do Ceará, que tem potência outorgada de 12.666.418,10 kw (fiscalizada de 5.272.085,78 kw), a maior geração está por conta da energia fotovoltaica (140 empreendimentos), com 5.470.504,00 kw; a termelétrica (31 empreendimentos), com 3.635.576.10 kw, e a eólica, com 2.506.440,00 (128 empreendimentos). No entanto, se o cálculo for realizado pela potência fiscalizada, a eólica tem maior percentual, de 47,54%; a termelétrica 39,14% e a fotovoltaica 13,31%.
O consultor de Energia da Federação das Indústrias do Estado do Ceará (Fiec), Jurandir Picanço, afirma que o Ceará tem importante papel na transformação da matriz.
“Quando falamos em matriz energética, além da produção da eletricidade, que já é muito renovável, outras atividades são dependentes de combustíveis fósseis: aquecimento industrial, gás de cozinha e, principalmente, o transporte. O Ceará tem condições ótimas para essa transformação, mas nesse propósito é indispensável o estabelecimento de políticas nacionais que estimulem o processo de descarbonização da economia. Espero que o Ceará esteja sempre à frente, mas é um processo que tem que permear todo o país”.
Para ele, a indústria hoje implantada terá, necessariamente, que se adaptar a esse novo momento de eliminação das emissões de carbono. Atualmente, os custos com o hidrogênio verde são muito elevados. No entanto, as indústrias que estão no Nordeste terão condições favoráveis pela facilidade das energias limpas.
“Novas oportunidades industriais surgirão em decorrência da transformação (energética). Se esse pioneirismo do Ceará se consolidar, teremos muitas conquistas a comemorar, pois o estado tem condições privilegiadas nesse mercado de hidrogênio verde, que está em seu nascedouro”.
O atrativo principal cearense são os abundantes potenciais de energias renováveis eólica e solar que se estendem por toda região Nordeste. Porém, ele cita outros fatores que se somam ao principal atrativo: posição geográfica próxima dos principais mercados, com destaque a União Europeia; existência da única ZPE em operação e o Porto do Pecém, que já tem infraestrutura para atender à exportação de hidrogênio verde. “Ao anunciar essas condições ideais para um hub de Hidrogênio Verde no Ceará, players internacionais dos setores de energia e gases vieram conferir. E, constatando tais condições, interessaram-se em desenvolver seus projetos no Complexo do Pecém”.
Jurandir Picanço garante que o Ceará colocou o Brasil no mapa mundial do hidrogênio verde. Desde então, outras iniciativas se desenvolveram em vários estados, mas o Ceará é de longe o hub de maior importância no território brasileiro. Além das condições ideais já citadas, ele chama a atenção para o fato do Porto de Pecém ter administração compartilhada pelo Governo do Estado e o Porto de Roterdã. “Ocorre que o Porto de Roterdã quer se transformar no principal porto para importar o hidrogênio verde para a União Europeia. Ou seja, tudo se soma a favor para o sucesso desse grandioso projeto”.
Ele conclui ressaltando que os investimentos previstos são bilionários na produção da energia renovável e do hidrogênio verde, o que causará um grande impacto na economia e na geração de empregos. Porém, muitas outras oportunidades surgirão na cadeia de valor que se estende à produção de “produtos verdes”, ou seja, com tecnologias que reduzam a pegada de carbono.
“Assim, teremos o aço verde, o cimento verde, o fertilizante verde, etc. Produtos que hoje utilizam combustíveis fósseis em larga escala e que terão de se atualizar para a nova economia de baixo carbono. Essas atividades, que se forem atraídas para o Ceará, transformarão a estrutura econômica e social do Estado. Tudo isso ocorrerá gradativamente até o horizonte de 2050, ano em se espera eliminar as emissões de gases de efeito estufa”.
Para o diretor Técnico do Sindicato das Indústrias de Energia e de Serviços do Setor Elétrico do Estado do Ceará (Sindienergia-CE), Daniel Queiroz, optar pela energia limpa é um caminho sem volta e quem não seguir este caminho, além de estar fora do jogo, vai estar contribuindo negativamente em relação a sociedade, com os ecossistemas. “Estamos no melhor dos momentos, pois estamos conseguindo que as duas questões se encontrem: a da ecologia e da economia. Sustentabilidade, assim, passa a ser algo que tanto vai para o caixa da empresa, da indústria, como para as boas práticas de utilização de recursos para uma melhor eficiência, trazendo menos impactos para o ambiente e para a sociedade”.
“É um caminho único (optar pelas energias limpas) a ser tomado. Quem não tiver tomando tais medidas estará́ fora do jogo nos próximos anos. A adesão do empresário com relação às energias limpas tem sido cada vez maior, pois ele está cada vez mais consciente e presente e sabe que o caminho é verde e rentável”.
Ele entende que o assunto energia limpa deixou de ser um tema só discutido por engenheiros e passou a ser importante questão discutida nos conselhos de administração das empresas e das indústrias. A maneira como a indústria se relaciona com a sua energia hoje é o que vai definir se ela estará competitiva diante do mercado nos próximos cinco anos – acredita. Queiroz explica que já existem empresas que estão, inclusive, “revendo seu posicionamento estratégico; revendo as instalações de novas unidades de acordo com o custo da energia”.
Impactos do uso de energias limpas na cadeia produtiva
No momento que a empresa tem uma oferta de energia renovável, uma energia mais barata, ela vai optar por essa nova fonte. E isso impacta na maneira de como vai se relacionar com toda a sua cadeia produtiva. Ele frisa que adotar hoje uma postura energética não é só́ uma situação ecológica, mas também é uma situação econômica: “faz bem a empresa, faz bem a comunidade onde ela está́ instalada, ou seja, a toda a sociedade”.
Sem adiantar o nome da empresa, ligada ao setor de cerâmica, Queiroz exemplificou o quanto é importante optar por uma energia mais barata e seu impacto nos custos. Ele conta que a empresa em questão gastava, por ano, R$ 1,5 milhão com energia tradicional, isso sem levar em consideração as variações das bandeiras (amarela, vermelha 1, vermelha 2 e os reajustes). Ela decidiu por colocar energia solar e passou a pagar R$ 400 mil (73,33% a menos), poupando, desta forma, R$ 1,1 milhão/ano. “Uma redução excelente. E a medida, inclusive, trouxe também outro grande benefício: acelerou a imagem positiva da empresa perante a comunidade (meio ambiente, social e governança – ESG).
“Esse R$ 1,1 milhão poupado, que antes iria para o pagamento de energia, passou para o caixa da empresa, reforçando suas estratégias, seja para o pagamento de salários, pagamento antecipado de fornecedores, na compra de novas máquinas, dentre outras. É a melhor maneira de captar recurso barato, economizando dinheiro. As energias limpas vêm demonstrando todo o poder que elas têm. O Sindienergia atua em conjunto com os seus associados e demais órgãos, como Fiec, Senai, Sebrae e IEL, no apoio para o desenvolvimento do setor, promovendo um ambiente de melhoria continua, a fim de que o mercado energético cearense se destaque cada vez mais”.
Em agosto de 2022, de acordo com o novo boletim da Aneel, o Brasil ultrapassou os 185 gigawatts (GW) na capacidade de geração. Desse total em operação, 83,26% correspondem a usinas que geram a partir de fontes renováveis, como a água dos rios, os ventos e a luz solar. As usinas solares e eólicas também respondem pela maior parte da expansão verificada em agosto, de 650,14 megawatts (MW). Mais da metade (57%) da potência agregada à matriz elétrica no mês provém de usinas solares fotovoltaicas, e 220,15 MW (34%), de eólicas. É a segunda melhor marca do ano, superada apenas pelo mês de julho, no qual entraram em operação 708,78 MW. Em 2022, até 31 de agosto, houve crescimento de 3.706 MW na capacidade das usinas. O ano de 2022 conta com novas usinas em 16 estados das cinco regiões brasileiras. Os estados com maior expansão na capacidade de geração elétrica são, em ordem decrescente, Bahia (671,67 MW), Minas Gerais (610,40 MW) e Rio Grande do Norte (521,14 MW).
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