Para especialistas, os serviços financeiros no Brasil têm estado à frente da digitalização, da transformação digital e dos ganhos de produtividade. (Foto: Envato Elements)

Digitalização democratizou acesso dos brasileiros a serviços financeiros

Por: Gladis Berlato | Em:
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O advento dos bancos digitais, a consolidação do pix e a pandemia aceleraram o processo em curso do acesso remoto de investidores e de correntistas a serviços financeiros em geral. Ao mesmo tempo, multiplicaram-se os golpes exigindo cada vez mais inteligência para blindar as finanças dos brasileiros. Ainda assim, este mercado só faz crescer com a junção da criatividade com a tecnologia.


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Pelo menos é o que relatam especialistas e corretoras de valores que perceberam o interesse – e a necessidade – dos brasileiros em preservar suas finanças diante da pandemia. “Todos ficaram mais conectados até em função do home office que abriu espaço para novos hábitos”, analisa Tiago Siqueiros, CTO da Guide Investimentos.

Fraudadores especializados

Entre as maiores corretoras do mercado brasileiro e com escritórios em todo o País, a plataforma aberta de investimentos percebeu que junto com os clientes vieram os fraudadores que exploram as vulnerabilidades do ecossistema das corretoras e bancos e que são especialistas no mercado financeiro e em tecnologia.

O fato exigiu mais do que investimentos em hardware. “Usamos a ciência de dados, construindo algoritmo com o Big Data para identificar operações fraudulentas a partir de movimentos fora do comportamento padrão”, explica Tiago Siqueiros. A Comissão de Valores Mobiliários (CVM), que regula o setor, inclusive, está reforçando a vigilância sobre as corretoras, obrigando-as a ampliarem a diligência sobre seus sistemas.

Ao mesmo tempo, segundo a Guide, é necessário que os investidores e correntistas se associem a este esforço protegendo seus dados. Tanto as corretoras como os bancos, através da Federação Nacional do Bancos (Febraban), tomaram a iniciativa de trocarem informações sobre fraudes ou estratégias de fraudadores em grupos de whatsApp para agilizar uma solução e evitar a concretização de operações observadas como atípicas, tais como troca de senhas, troca de endereços de e-mail ou compras anormais de papéis.

Inteligência artificial

Como aplicativo de crédito digital, a fintech Jeitto, fundada em 2014, aposta na inteligência artificial como principal tecnologia por trás de sua análise de risco. O aplicativo, que conta com mais de 1 milhão de clientes, recentemente lançou o Empréstimo Jeitto, que também é 100% digital.

Os algoritmos desenvolvidos pela fintech analisam e preveem o comportamento de pagamento dos seus clientes, utilizando dados alternativos para aprovar limites de crédito e empréstimos saudáveis, de acordo com cada perfil de cliente. Cristiane Maiato, CTO do Jeitto,explica que a digitalização já vinha crescendo. E que para oferecer um produto totalmente digital, como é o objetivo do aplicativo, precisa ter suporte integral de segurança nas transações.

“A pandemia só acelerou o processo”, garante ela, o que explica o fato de trazer para o mundo digital ações até então só possíveis presencialmente. Caso do projeto, em fase de lançamento, de antecipação do saque do FGTS de maneira digital.

“Trazemos para a mão do nosso cliente a possibilidade de fazer um saque antecipado do FGTS, mas sempre com total segurança”, afirma, lembrando que o consumidor-alvo do Jeitto é das classes C, D e E que, muitas vezes, está tendo a primeira oportunidade de acesso ao crédito, o que exige simplicidade e transparência nas operações.

Inclusão financeira

Eduardo Alves, sócio da PwC Brasil, entende que mais do que conhecimento digital, o Brasil precisa de educação financeira para permitir um maior avanço na utilização plena dos serviços. “A população brasileira foi forçada a se adaptar”, afirma ele, para quem, educação é o caminho até mesmo para a inclusão financeira. Exemplifica citando dados da pesquisa “O abismo digital no Brasil”, elaborada pela PwC em parceria com o Instituto Locomotiva. O estudo mostra que o Brasil está entre os 10 piores do mundo no aprendizado de matemática e tem fraco desempenho em leitura no Exame Pisa.

“No Brasil, 95,7 milhões usuários de celulares têm planos pré-pagos, o que limita o crescimento do volume de serviços financeiros”. 

Embora os bancos brasileiros tenham um bom posicionamento em relação aos aspectos tecnológicos, para avançar é preciso considerar a disponibilidade de infraestrutura tecnológica, velocidade na adoção de novas tecnologias, cultura de inovação, qualificação técnica de liderança e plataforma de oferta de serviços digitais. “O adequado ambiente de inovação nos Estados Unidos permite que serviços financeiros evoluam com mais facilidade e faz do modelo americano uma referência”, ilustra.

“Se a modernização tecnológica dos bancos fosse acompanhada da educação financeira de seus clientes, teríamos o cenário adequado para que a indústria financeira acrescente ainda mais para o empreendedorismo e melhoria na qualidade de vida de seus clientes, já que existiria mais pressão para que necessárias mudanças acontecessem neste mercado”.

Eduardo Alves,sócio da PwC Brasil

Para ele, as fintechs contribuíram para movimentar o mercado, da mesma forma que o Pix. E o 5G, que acaba de chegar, precisa ser ofertado de maneira mais equânime para evitar o aumento da desigualdade. Às instituições financeiras caberá, segundo Alves, garantir não apenas a evolução tecnológica dos seus serviços, mas também a leitura adequada da necessidade de seus clientes. “O mercado financeiro é cada vez mais importante para formação de empreendedores e para o financiamento de sonhos”, assegura.

Inflação como aprendizado

Ênio Arêa Leão, vice-presidente do Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças (IBEF-CE),concorda com a evolução da digitalização do mercado financeiro porque combina benefícios como redução de custos e melhora a experiência do cliente a um baixo custo. A evolução, a seu ver, foi puxada, basicamente, pela necessidade de redução de custos no que o Banco Central teve papel relevante como catalisador regulatório e por ter liderado o projeto do Pix, que trouxe mudança importante ao mercado e foi rapidamente aceito.

Ele atribui a boa performance digital do sistema financeiro brasileiro à elevada e persistente convivência com a inflação e correção monetária, fato que demandava muita rapidez no processamento de dados, o que exigiu muito investimento em tecnologia de ponta.

No olhar do IBEF, o futuro parece promissor com um longo caminho pela frente. Basta comparar com a China, por exemplo, onde a moeda digital está bem à frente e onde o consumidor usa muito o celular para pagar suas contas. “O mundo acelera e nos surpreende a cada dia”, afirma.

Desafio da confiabilidade

Na visão de Lauro Chaves Neto, assessor econômico da Federação das Indústrias do Ceará,os serviços financeiros no Brasil têm estado à frente da digitalização, da transformação digital e dos ganhos de produtividade. A seu ver, o Brasil tem um dos sistemas financeiros mais completos do mundo em termos de universalização e de alcance. Porém há um enorme gargalo pela excessiva concentração em poucos e grandes bancos que adquiriram os pequenos e médios bancos nas últimas décadas.

Até nisso a digitalização e as novas tecnologias podem contribuir para aumentar a concorrência entre os bancos, graças à criação dos bancos digitais, muitos já com porte e volume de operações significativo.

“Isso contribui para que as pessoas físicas e jurídicas possam ter acesso a serviços financeiros cada vez melhores e a custos mais reduzidos por conta da concorrência e da digitalização”.

O desafio será o de manter a confiabilidade diante de um cenário que enfrenta muitos golpes e ataques de hackers, o que exigirá redobrada atenção à segurança financeira dos sistemas de controles.

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