A forma que os brasileiros consomem a moda tem mudado. Os dados confirmam que consciência social é a pauta do momento e que, a cada dia, os consumidores questionam mais as empresas sobre seu papel social, além de estarem atentos à sua participação na promoção de uma moda circular e socialmente responsável.
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Nesse cenário, a moda enfrenta o desafio de avançar em direção à sustentabilidade e os impactos negativos do modelo conhecido como fast fashion. Com isso em pauta, a moda sustentável entra com força total, uma alternativa à produção e ao consumo têxtil que se concentra no conceito de redução, reutilização e reciclagem para cuidar das pessoas, do meio ambiente e do produto.
Dados do Pulse of the Fashion Industry 2019, report produzido pela Global Fashion Agendaem parceria com a Sustainable Apparel Coalition e a The Boston Consulting Group, revelou que apenas 20% do lixo da indústria da moda é coletado para reuso e reciclagem, enquanto o restante acaba nos aterros sanitários ou é incinerado.
Com a estimativa de fabricar cerca de 102 milhões de toneladas de roupas e calçados, e de valer algo em torno de US$ 3,3 trilhões até 2030, a indústria da moda tem entendido a importância de se atentar às questões associadas ao meio-ambiente e sustentabilidade, contrabalançando com o crescimento e impactos ambientais, segundo informações do portal IBahia.
Fernando Pimentel, presidente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit), fala sobre a jornada e os desafios da sustentabilidade no mercado têxtil. “A Abit vem trabalhando numa agenda para contribuir para o endereçamento dos desafios setoriais. Estamos vivendo o início de uma jornada, não há nada definido, ninguém tem a fórmula do sucesso. A agenda do meio ambiente é uma agenda irreversível. Temos os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável e as prioridades mapeadas pela Global Fashion Agenda, que envolvem a parte de redução do uso de insumos, a rastreabilidade, combate às mudanças climáticas, ambientes de trabalho seguros e respeitosos, a economia circular, a indústria 4.0, o uso de matérias primas cada vez mais renováveis e sustentáveis e também a questão de trabalho, renda e remuneração. Isso está montado e está dentro do nosso guarda-chuva do nosso Têxtil-2030 e vai balizar o Congresso que teremos agora em novembro”, ressalta.
“A sustentabilidade da moda não é nova, vem dos anos 70. Em função das COP’s, das questões climáticas e os desafios das políticas zero carbono. Na crise do petróleo durante a década de 70, as empresas de olho na necessidade começaram a trabalhar nisso e outras fontes de economia. É um movimento de causa e efeito, e o varejo tem aumentado também a sua demanda pela utilização de insumos mais sustentáveis. O que percebemos sem dúvida nenhuma é uma demanda de consumidores. A biomassa, o tratamento de efluentes, a reciclagem do algodão, o amaciante à base de cupuaçu, são exemplos de novas estratégias em prol dessa jornada verde”.
Fernando Pimentel, presidente da Abit
O presidente da Abit cita que vários investimentos estão sendo feitos com uma maior intensidade. “Por exemplo, uma calça jeans gastava oitenta ou cem litros de água. Hoje, você tem uma redução enorme do uso de água, em alguns casos existem exemplos de quem usa um copo d’água pra fazer um acabamento especial, com o uso de tecnologia a laser. Nesse movimento, são várias frentes de trabalho. O Brasil está bem a frente de uma série de outros países nessa agenda ESG e poderemos ser um dos principais protagonistas da indústria têxtil planetária, considerando esse tripé da energia da bioeconomia em relação às matérias primas renováveis e sustentáveis”, complementa Pimentel.
Com a expansão do e-commerce, por meio do boom do digital, a economia circular chegou com tudo no mercado da moda. Diante deste movimento, não só a indústria tem se reinventado, mas também o consumidor. De acordo com o Google, entre os primeiros semestres de 2019 e 2022, as pesquisas por peças de segunda mão cresceram 572% no Brasil.
Nessa onda, a jornalista Juliana de Fátima decidiu empreender em 2020 com o Rênover Brechó (@renover.brechoo). Ela começou vendendo suas roupas pessoais, as amigas aderiram, o movimento ganhou corpo e está em plena expansão. “Com esse movimento da moda circular, aprendi que muitas vezes aquela peça que para você não faz mais sentido, para outras é motivo de brilho no olhar e para a outra pessoa vai ser novo. A roupa fala sobre quem nós somos, tem todo um significado e ela ganha um valor ainda mais especial quando você faz essa economia circular investindo em peças de um brechó”, explica a empreendedora.
Em sua percepção, Juliana de Fátima afirma que ainda não existe aquela adesão total, entretanto observa que é um movimento que tem crescido muito no Brasil. “Acredito que ainda existe uma jornada a percorrer, mas já temos muitas pessoas atentas a esse consumo. Pesquisas indicam que 60% da geração Z procura antes um produto de segunda mão que um de primeiro uso. A perspectiva é que em 6 anos, esse mercado de segunda mão dobre e, até 2028, 13% dos armários femininos terão peças de segunda mão. De fato, é um caminho sem volta, um movimento que se encontra em plena ascensão” fala a proprietária do Rênover Brechó (@renoverbrecho).
A arquiteta Daniele Ellery conta que conhecer esse mundo de brechós foi uma virada de chave em sua vida. “Todo esse reuso consciente me proporcionou me vestir melhor e me sentir mais bela comigo mesma. Usando roupas de marcas renomadas, que não conseguiria comprar a peça nova. Ao aderir ao brechó, recebi um produto de alta qualidade, caimento, modelagem e pagando um valor que cabe no meu orçamento, e o melhor de tudo, sem perder a elegância. A conta fechou demais, a sensação de satisfação é enorme” comenta.
E investir em brechó tem seus pontos positivos. Gera um movimento do mercado de moda sustentável, a energia circula de forma agregadora e criativa. Daniele Ellery confessa que as roupas usadas a encantam mais que as novas. “Reduzi demais o meu consumo de roupas novas e aumentei as doações do meu closet, funciona como uma cadeia, uma moda circular. Com a minha experiência compartilho com os meus círculos de amizade, e já influenciei amigas e familiares que aderiram ao movimento, espero muito contagiar o mundo com essa moda circular”, ressalta a arquiteta.
A indústria têxtil depende principalmente de recursos não renováveis e é uma das que mais poluem o meio ambiente. O sistema de hoje em dia usa grandes quantidade de recursos naturais, impactando negativamente o meio ambiente e o ser humano. Segundo dados da empresa Ecoassist, por ano são utilizadas 98 milhões de toneladas de recursos naturais. Entram nessa lista o petróleo para produzir fibras sintéticas, fertilizantes para crescer o algodão e produtos químicos para produzir, tingir e fazer o acabamento de fibras e têxteis. A produção de tecido (incluindo o cultivo de algodão) usa em torno de93 bilhões de metros cúbicos de água anualmente, causando escassez de água nas regiões ao redor.
O portal TrendsCE entrevistou Diogo Taranto, Diretor de Desenvolvimento de Negócios no Grupo Opersan, especializado em soluções ambientais para o tratamento de águas e efluentes que explicou como a companhia tem engajado industrias e o mercado de olho em estratégias que visem os cuidados com o meio ambiente. Confira.
Diogo Taranto: O Grupo Opersan incentiva e promove nas definições de seus projetos e rotas tecnológicas a aplicação de reuso de efluentes, usos de fontes de alternativas para captação de água, e utilização de equipamentos de menor consumo energético em todos os setores da indústria e atende também o mercado têxtil.
Ainda no mercado têxtil, sendo este um dos principais setores que contribuem com o lançamento de contaminantes emergentes e microplásticos no meio ambiente, a utilização de tecnologias avançadas através de ozonização, membranas de ultrafiltração e osmose reversa se tornam ainda mais necessárias para mitigação deste grave problema ambiental, que se alastra intensamente dia após dia.
DT: O Grupo Opersan possui cases de grande sucesso na indústria têxtil, dentre eles podemos citar dois: O primeiro para tratamento de efluentes oriundos de uma grande empresa têxtil localizada no polo industrial de Maracanaú (CE) que trabalha com produção, tingimento e lavagens de jeans, muito carregado de índigo, que julgamos ser um dos contaminantes mais severos e complexos para se tratar. Neste case além de tratar os efluentes e lançá-los de acordo com os parâmetros exigidos pelos órgãos ambientais, outra parte do tratamento era encaminhada para reuso e produção de água para encaminhamento aos processos produtivos. O segundo, em outra grande tinturaria localizada na região de Brusque-SC, onde aplicamos tecnologias biológicas aliadas a ozonização final para tratamento de cor no efluente tratado antes de retornar aos rios.
DT: Infelizmente o reuso ainda é encarado em grande parte da indústria como um viés único de redução de custo, que entendemos ser um dos critérios de análise e viabilidade, mas não é o único. Há outros importantes como aumento da exposição positiva da imagem, e realização de um fator social em preservar o recurso hídrico para abastecimento da população. A falta de incentivos governamentais como redução de carga tributária em indústrias que aplicam o reuso, poderia, por exemplo, ser um fator incentivador relevante.
O Grupo Opersan sempre trabalha em seus projetos e clientes para intensificar o uso de instalações e sistemas que contemplem tecnologias que propiciem o reuso, e também junto de Associações como a ALADYR, a ABETRE e o Instituto Trata Brasil, que são outros veículos de divulgação e conscientização empresarial e social para aumento do reuso no Brasil.
“Nosso desejo, não como uma meta, é que todos os nossos projetos contemplem tecnologias avançadas que permitam o reuso da água. Contudo precisamos também estar adequados aos requisitos dos nossos clientes e permanecer sendo competitivos, sem nunca deixar de preservar o meio ambiente e atender rigorosamente as legislações aplicáveis a cada caso”.
Diogo Taranto, Diretor de Desenvolvimento de Negócios no Grupo Opersan
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