Pelo amadurecimento dos últimos anos, o ecossistema de inovação vem ganhando mais força, players e aumentando o volume de negócios. (Foto: Envato Elements)

A potência do ecossistema de inovação no Nordeste

Por: Sara Café | Em:
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Os ecossistemas de inovação brasileiros estão cada vez mais atraindo investidores, empresas e novos negócios que não mais exportam talentos e ideias, mas as desenvolvem localmente. A pandemia de Covid-19 tem contribuído para esse cenário de abertura de novos negócios digitais.


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O país registrou recorde no número de novas empresas abertas em 2020 com 35.423 empresas de tecnologia, uma alta de 210% em relação a 2011, revela estudo da DataHub, plataforma de inteligência de dados. O Brasil também avançou três posições no Índice Global de Inovação (IGI) na comparação com o ranking de 2021 e agora está no 54º lugar entre 132 países.

Esses números indicam que as pessoas conseguiram “sobreviver ao pior” da pandemia de Covid-19, como também aponta a vocação do brasileiro para os negócios.

É o que explica Moisés Santos, consultor de inovação e aceleração de negócios: “startup é o nome que se deu às empresas nascentes nas áreas de tecnologia. Essas empresas encontram um modelo de negócio baseado na escalabilidade, ou seja, elas perceberam que a tecnologia pode desenvolver o negócio e ter um crescimento maior que o tradicional. E elas tem a inovação como core de tudo isso.”

Para Marcus Saraiva, fundador da Cordel Venture, o Brasil – seja por natureza, oportunidade ou necessidade – é um dos países mais empreendedores do mundo. “Pelo próprio amadurecimento dos últimos anos, o ecossistema de inovação vem ganhando mais força e players, e com isso o volume de negócios vem aumentando”, afirma durante o podcast Talks com Ecossistema, iniciativa do Ceará Habitats Digitais e do SebraeLab.

Se no passado a região Nordeste exportava talentos para outras partes do país, hoje, é possível ver um quadro mais concreto sobre o desenvolvimento do ecossistema de inovação regional, com cases de sucesso relevantes, capazes de atrair investimentos, gerar oportunidades, reter os talentos locais e diminuir o antigo “êxodo nordestino” para o Sul e Sudeste do Brasil.

Segundo mapeamento mais recente da Associação Brasileira de Startups (Abstartups), existem hoje 1.171 startups no Nordeste. A grande maioria delas está concentrada nos estados da Bahia, Pernambuco e Ceará. De 2016 passaram de 5 mil para 13 mil startups espalhadas por 692 cidades. Além disso, o número de startups unicórnio (avaliada em, pelo menos, US$ 1 bilhão) subiu para 15.

“O primeiro case que nós temos é a HubLocal, que ficou entre as três startups do ano, segundo a Abstartups. Ao todo, são 18 startups no nosso portfólio, aceleradas pela Cordel, e estão entrando mais 8, então, vamos subir para 25 startups. Provavelmente somos uma das maiores aceleradoras do Nordeste”.

Marcus Saraiva, fundador da Cordel Venture

Pernambuco é líder em inovação no Nordeste

Há alguns anos, Recife vem se destacando como uma das cidades brasileiras mais fortes quando o assunto é ecossistema de inovação. O Índice FIEC de Inovação dos Estados, pesquisa do Observatório da Indústria da Federação das Indústrias do Estado do Ceará (FIEC), confirma essa premissa e aponta Pernambuco como o Estado mais inovador do Nordeste.

O motivo é a criação do Porto Digital, um dos principais parques tecnológicos e ambientes de inovação do país. Há quase duas décadas, o Porto concentra sua atuação nos eixos de software e serviços de Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC) e Economia Criativa (EC), além de atuar também com tecnologias urbanas e o futuro das cidades.

Em fevereiro deste ano, o Porto Digital divulgou um balanço do seu resultado de 2021. Os resultados registraram um aumento de 28,6% no faturamento, alcançando R$ 3,67 bilhões e teve um incremento de 10% no número de colaboradores.

Fruto de parcerias, o parque tecnológico conta com mais de 14.000 profissionais, startups instaladas e empresas de pequeno, médio e grande porte, como a The Digital Strategy Company (TDS Company), além de multinacionais como IBM, Microsoft, Samsung e Unilever

Silvio Meira, cofundador e cientista chefe da TDS Company, afirma que a empresa está presente no mercado impulsionando seus clientes a tornarem-se protagonistas nos processos de transformação. Ele lançou publicamente o desafio de alcançar 30 mil profissionais e R$ 10 bilhões em faturamento em um intervalo de 5 anos. Para alcançar a meta, Meira destacou a importância de se ter estratégia.

“Estamos vivenciando uma economia basicamente digital, e muitas empresas ficarão de fora dessa economia caso não evoluam. Não precisa ser necessariamente uma ruptura, mas sim uma adaptação combinada com evolução”, explica. “O Porto Digital não está pronto porque nada está pronto, porque estamos escrevendo e reescrevendo o tempo todo”, alertou o mestre. 

Articulação de comunidades e conexões

As startups respiram inovação e vivem à base disso. Esse é o negócio delas. Por isso, precisam estar permanentemente em contato com o que existe de mais atual nas suas áreas de atuação. E participar dos eventos de integração proporcionam novas parcerias, negócios e até mesmo fusões.

O conceito de comunidade envolve um grupo de pessoas empreendedoras, startups e empresas com esse mindset, com experiências diversas que se reúnem para trocar ideias, falar sobre os problemas que precisam solucionar, criando um ambiente de conexão voltado para a inovação, o engajamento e a colaboração de forma direcionada ao bem comum.

Nesse sentido, as comunidades de startups têm ganhado cada vez mais adeptos, como o Jerimum Valley em Natal; Caju Valley, em Aracaju; Sururu Valley, em Maceió; e o Rapadura Valley aqui no Ceará. Todas elas têm como objetivo fortalecer as relações do ecossistema de inovação, oportunizando visibilidade e conexão.

Com mais de 100 startups ativas, o Rapadura Valley assume o desafio de ajudar a acelerar a inovação do Nordeste. De acordo com Mário Alves, um dos líderes da comunidade, esse trabalho de todos os players está se consolidando de forma natural e com base em uma visão de muita colaboração.

“A partir do momento que você tem uma ideia inovadora no Estado do Ceará, especialmente em Fortaleza, você já faz parte do Rapadura Valley. Para quem tem interesse, nós mandamos um formulário a fim de mapear as pessoas que querem fazer parte da comunidade e a partir daí adicionar nos grupos de WhatsApp. Não existe um filtro, uma triagem ou processo seletivo, qualquer pessoa que entra, faz parte”.

Mensalmente a comunidade se reúne no Conexão de Milhões, evento onde os empreendedores, as pessoas de negócios em startups que estão buscando se posicionar e mostrar seu diferencial, tem a oportunidade de fazer seu pitch e mostrar seu produto/serviço para alguém. “É uma troca valiosa onde você pode encontrar um parceiro de negócios, buscar conhecimento e se diferenciar no mercado”, conclui Mário.

A primeira comunidade de startups a ganhar espaço no Estado facilitou o desenvolvimento de outras que foram surgindo, como o Kariri Valley, da região de Juazeiro do Norte, Crato e Barbalha, fortalecendo o empreendedorismo inovador em todo o Ceará.

Moisés Santos detalhou a importância do senso de comunidade para o bom funcionamento do ecossistema empreendedor. “Todos os negócios têm fases, e para cada uma delas é importante ter as pessoas conectadas. As startups passam por grandes momentos: ideação, encontro do mercado, organização interna para tracionar e, dependendo dos investimentos que ela receber, vai ou não acelerar”, explicou.

Hubs de inovação no Ceará

De acordo com a Abstartups, Fortaleza é a terceira maior capital em número de iniciativas do Nordeste, possui 53,14% de suas startups em fase de operação e 50% tem como mercado alvo o B2B.

Nos últimos 4 anos, houve um aumento considerável de empresas que começaram a perceber a inovação como uma estratégia de crescimento. Por isso, o consultor de novos negócios, Moisés Santos, teve a iniciativa de organizar um “Mapeamento do Ambiente de Incentivo ao Empreendedorismo no Ceará”, elaborado pelo Ambiente Local de Empreendedorismo (ALE).

“Naquele momento, como consultor no Banco do Nordeste, a gente estava implementando o Hub de Inovação e precisávamos de informações para entender o cenário de inovação no Ceará. E como não tínhamos isso, eu tomei pra mim a responsabilidade. O mapeamento mostra todos os entes, os parceiros, essa cadeia de conexões que possibilita que o empreendedor saia daquele momento de ideação para a aceleração.”

Para que as empresas inovadoras se desenvolvam, nos últimos dois anos, ampliou-se o crescimento dos Hubs de Inovação, que são locais que conectam empresas com todo esse cenário de desenvolvimento, de conexão com startups e transformação de cultura organizacional baseada em inovação.

“No Ceará, o primeiro foi o Hub do Banco do Nordeste. Nós também temos a Elephant, que é um coworking mas também funciona como um hub; temos o Hub Cumbuco na Caucaia, que trabalha com sustentabilidade; o Hub de Inovação do IEL; o BS Innovation Hub; a Ninna Hub; Habitat de Inovação do Senai, dentre outras iniciativas. No Cariri, nós já temos dois hubs ativos, o Cuida Digital e o Garagem, da Faculdade Paraíso”, confirma.

Diante da evolução do ecossistema de inovação, o Ceará foi destaque na maior premiação de empreendedorismo da América Latina, o Startup Awards de 2022. No dia 19 de setembro, os indicados de todas as categorias, inclusive a “Startup do ano”, foram anunciados. Ao total são 21 categorias e 15 representantes cearenses indicados ao prêmio.

Marília Diniz, Head de aceleração de startups, diz que presenciar a evolução do ecossistema de inovação cearense é um sentimento indescritível. “E pensar que em 2017, quando comecei, tínhamos bem menos iniciativas e startups de destaques, bem menos hubs e programas de aceleração. Tínhamos o estigma de que ninguém se ajudava e hoje temos uma associação de hubs a caminho, eventos em conjunto e iniciativas sendo pensadas em grupo. Ainda temos muito a evoluir, claro! Mas com o esforço de todos, vamos crescer cada vez mais”.

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