Quase 12 mil km separam o Brasil do Catar que, num território de apenas 11,5 mil km² conta com apenas 2,3 milhões de habitantes com a respeitável renda per capita de US$ 127,523. Esta deverá ser a Copa do Mundo mais distante e cara da história para os brasileiros, que precisam desembolsar pelo menos R$ 20 mil por um “pacote” mediano. Nos lares e bares, a torcida movimenta os negócios principalmente de camisetas, bebidas, alimentos e televisões.
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A distância e o valor não desanimam o mercado que aposta no evento como impulsionador de negócios. Dados do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) projetam uma movimentação de R$ 1,8 bilhão apenas no varejo em função da Copa, o que é 7,9% superior à receita apurada no Brasil em 2014. Além disso, o IBGE estima a criação de 25 mil vagas de trabalho com o evento.
O varejo nacional, que vinha registrando sucessivas quedas de atividade dada a crescente inflação e juros altos, recuperou o ânimo. Entidades representativas de classe estimam aumento de vendas acima de 10%, especialmente no ramo de eletroeletrônicos, leia-se televisões e refrigeradores. A Associação Brasileira do Varejo (ABV) e a Federação das Câmaras de Dirigentes Lojistas de São Paulo, por exemplo, estimam aumento de até 12% nas vendas no período do mundial.
No Rio de Janeiro, pesquisa do Clube dos Diretores Lojistas (CDL-Rio) e do Sindicato dos Lojistas do Comércio (Sindilojas-Rio), mostrou que 80% dos 350 lojistas fluminenses ouvidos apontaram as TVs de 65 polegadas como as preferidas dos consumidores em suas compras. Para garantir bons negócios, a estratégia passa por promoções, descontos e flexibilização no prazo de pagamento. A estimativa é de chegar a um aumento de vendas de televisores de 10% somente em outubro e novembro.
Impacto mais amplo
No Ceará, o clima é ainda mais otimista. As projeções da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Ceará apontam para aumentos de 20% e até 23% nas vendas. O vice-presidente do Sistema Fecomércio-CE, Cid Alves, entende que por ser realizada longe e ser cara para os brasileiros assistirem de perto, a Copa no Catar está impulsionando as vendas não só de televisores, mas de freezers, refrigeradores e frigobar. Como presidente do Sindicato dos Comerciantes de Materiais de Construção do Estado e do Sindilojas Fortaleza, ele observa que o impacto positivo alcança outras áreas, como a de alimentos e bebidas, além de materiais de construção, com as pequenas obras de melhorias, e as utilidades domésticas e descartáveis.
O crescimento de vendas, entende ele, neste ano em especial de Copa do Mundo, ganhou o reforço da Black Friday, cujas promoções serão antecipadas em uma semana (início em 14 de novembro) e que, por conta da proximidade com a Copa, deverá superar em 15% a 20% o aumento de vendas normalmente propiciado pelo Natal.
“Os eventos, somados à deflação consecutiva de três meses e ao benefício do Auxílio Brasil, resultarão em um 2022 com fortes motivos para comemorações”.
Para ovice-presidente da Associação Brasileira de Supermercados (ABRAS), Márcio Milan, o aumento de consumo nos lares brasileiros medido regularmente pela entidade tende a ser ainda mais robusto com a Copa do Mundo, que sempre gera maior movimentação nas compras, mesmo sendo realizada distante do Brasil. “Na conjuntura econômica até aqui, o crescimento das vagas de emprego formal, o aumento no valor dos benefícios sociais, como o Auxílio Brasil, e a queda nos preços dos alimentos contribuíram para o crescimento do consumo”, afirma Milan, para justificar o aumento acumulado no ano de 2,6%, também sem projetar o tamanho do impacto direto da Copa.
Turismo à parte
A exceção fica com o turismo,pelo menos na visão do presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis (ABIH-CE), Régis Medeiros. Ele explica que a Copa do Mundo não é positiva para o turismo doméstico nacional porque as pessoas assistem aos jogos com seus grupos de amigos e familiares e não planejam viajar. Exceto no caso da Copa do Mundo do Brasil, por razões óbvias de geração de negócios diretos em várias cadeias de atividades, todas as demais provocam uma queda no fluxo turístico interno.
No caso específico do Catar, a movimentação externa também não é relevante para Medeiros. “Jogo tira foco de viagem em qualquer lugar onde houver torcedores apaixonados pelo esporte”, garante. Ele concorda que, independentemente de Copa do Mundo, o turismo no Ceará está retomando com boa consistência, em algumas vezes até superando o período anterior à pandemia em se tratando de ocupação hoteleira.
Com aproximadamente 33 mil leitos, os hotéis do Estado deverão fechar com uma ocupação média em 2022 entre 67% e 69%, com destaque para os turistas nacionais, que respondem por 90% do movimento. Em se tratando dos 10% de hóspedes do exterior, eles chegam atraídos pelo kite surf. “O velejar mudou o perfil do turismo cearense, especialmente no Litoral Oeste”, ilustra o presidente da ABIH-CE.
Igualmente, pelo olhar da Associação Brasileira das Operadoras de Turismo (Braztoa), não só a Copa, mas por conta do período pós-pandemia – com índices mais seguros de vacinação que flexibilizaram os protocolos sanitários – estão estimulando a demanda por viagens. A projeção é de um crescimento de 60% até o final do ano, não necessariamente envolvendo o Catar como destino. O cenário traçado deve ultrapassar, inclusive, o recorde histórico de 2019 (R$ 136,7 bilhões).
Sobe e desce
Com suas características de bom e mau humor, o mercado financeiro deverá registrar oscilações com os jogos. Especialistas comentam que o fato é que as negociações diminuem e se refletem no volume e valor transacionado. Às vezes até paralisam.
O especialista em Investimentos da XP investimentos, Bruno Viriato, por exemplo, diz que a movimentação de negócios vai além das bebidas e artigos esportivos, diretamente impactados. “Empresas listadas em bolsa de valores destes setores aumentam seu faturamento e, consequentemente, elevam o valor das ações”, comenta. Este é o lado bem-humorado do mercado.
Mas ele lembra que todo e qualquer investimento possui um risco maior ou menor. E exemplifica: “se um torcedor mais arrojado estiver aplicando seu dinheiro em uma companhia de multimídia, que teve seu serviço digital interrompido durante um jogo, ele vai perder”, finaliza.
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