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Complexo de estufas e conhecimento na Holanda garantem alta produtividade agrícola

Mais de 16 milhões de habitantes em 41.528 km² dão à Holanda uma densidade populacional de quase 500 pessoas/km², tornando-a o país mais densamente povoado da União Europeia. Mais de 40% da população está concentrada em cinco cidades – Amsterdã, Roterdã, The Hague e Utrecht. A outra metade da área é ocupada pela agricultura e horticultura, onde é referência para o mundo e para o Brasil com uma produtividade no agronegócio cinco vezes acima da média da Europa e segundo exportador mundial de alimentos, depois dos EUA, com território 270 vezes maior.


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O complexo de estufas visto de cima explica o bem-sucedido modelo agrícola deste pequeno país que pode servir de inspiração para o Brasil na busca por rentabilidade e produtividade agrícolas. Entre os destaques de sua pauta exportadora estão o de maior exportador mundial de batatas e cebolas. Ocupa a segunda posição em se tratando de legumes e responde, também, por mais de 30% de toda a semente de legumes comercializada no mundo. Além disso, o país também está presente com nomes como Shell, Unilever, Akzo Nobel, Philips, Aegon, ING Group, Rabobank, Heineken, TNT e Randstad.

Os diferenciais da Holanda

Para quem vivenciou a realidade local como estudante no curso de Master’s Management Economics and Consumer Studies da Wageningen University & Research (WUR), na Holanda, de 2006 a 2008, o Consultor Legislativo do Senado Federal Fernando Lagares Távora só tem elogios para aquele modelo agrícola. Ele conta que há diferenciais fundamentais que explicam o êxito holandês no agribusiness. O primeiro deles é a infraestrutura, a começar pelo Porto de Roterdã, o maior da Europa e que é totalmente integrado tanto nas cadeias de gás e petróleo como no agronegócio.

“O Porto consegue receber insumos e exportar produtos acabados com plena eficiência”.

Outro fator de sucesso é a logística de distribuição de produtos, que Lagares considera perfeita permitindo que os caminhões saiam carregados e retornem cheios, graças à maximização de todos os modais, o que envolve a organização dos depósitos nos sistemas de armazenamento com técnicas avançadas de acondicionamento. A estes diferenciais, somam-se a integração das cadeias produtivas e a disponibilidade de um “pacote” de financiamento e de marketing baseado em dados de pesquisas e de análises.

O modelo resultou no reconhecimento dos lácteos holandeses, graças à qualidade e à alta produtividade no segmento leiteiro e seus derivados, como os queijos, da mesma forma que os suínos e aves e, ainda, das frutas e flores.

Para Lagares, o Brasil pode alcançar a mesma performance da Holanda com a vantagem da abundância de terras e de água. Ele se anima ao ver produtores brasileiros falando e já aplicando em suas propriedades conceitos avançados de sustentabilidade ambiental, agricultura 4.0 ou digital, gestão de dados, tecnologia de processos, internet das coisas e drones e, ainda, com redução do uso de agrotóxicos.

Aprendendo com a Holanda

O secretário executivo do Agronegócio da Secretaria do Desenvolvimento Econômico e Trabalho do Ceará, Sílvio Carlos Ribeiro, atribui o êxito holandês à força da tecnologia aliada ao conhecimento aplicado. Ele enaltece a parceria de longa data com aquele país que, com escassez de área, soube desenvolver desde a semente e o cultivo protegido por estufas, que garantem maior produtividade com economia de água e de insumos.

“A Holanda hoje é um hub de alimentos com distribuição para o mundo”, afirma o secretário, dizendo que o Ceará tem aprendido muito sobre tecnologia de cultivo protegido. Graças a esta proximidade – o Porto de Roterdã detém 30% do capital do Porto de Pecém – o Ceará terá um Centro de Cultivo Protegido, em Barbalha, na região do Cariri. O projeto, já licitado, contará com a consultoria da Universidade de Wageningen e do conhecimento de seus 120 pesquisadores, a exemplo dos que já operam em países como China, Quênia, Abu Dhabi e Dubai.

O local, até então produtor de cana-de-açúcar e banana, agregará maior valor passando a produzir tomate, pimentão, folhosas, flores e mirtilo, já produzidos em Ibiapaba. Confiante com a diversificação, o secretário diz que além de horticultura e floricultura, a área acolherá também a piscicultura, especialmente de tilápia. “Conhecimento é a questão central para avançarmos em toda a cadeia do agronegócio”, comenta ele, apostando fortemente no cultivo protegido e na tecnologia de produção “sem solo”, como fazem as fazendas urbanas verticais paulistas.

Terras valiosas

A ideia tem total apoio do presidente da Federação da Agricultura do Ceará (FAEC), Amilcar Silveira, que elogia a decisão do governo de transformar o espaço ocupado por uma usina de álcool em um centro de conhecimento, um polo de inovação que trará bons resultados para a economia do Estado.

O presidente da FAEC lembra que o Ceará pode ampliar em muito os 70 hectares de estufas para a floricultura com agregação de valor à produção e com o uso racional de recursos hídricos e de terras com ganhos de produtividade e economia de insumos. “Estamos ainda engatinhando em cultivo protegido”, disse Amilcar Silveira, acreditando que esta tecnologia pode triplicar a produtividade do tomate plantado na região de Ibiapaba, de onde sai 8% dos tomates do Brasil.

“Estamos em um mundo em transformação onde as parcerias em inovação são fundamentais”.

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