pesquisas no mar

O equipamento criado a partir desta parceria é acoplado na borda da prancha de kitesurf e contém filtros que podem revelar contaminantes no mar. (Foto: Envato Elements)

Parceria une ciência e esporte aquáticos para desenvolver pesquisas no mar

Por: editorial | Em:
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Um dispositivo inovador que consegue coletar dados para monitorar as águas oceânicas. Essa é a proposta do Kite4Science, iniciativa de alcance global, que pode ser utilizada para identificação em laboratório, por meio de DNA ambiental, do número de vertebrados e espécies encontrados no mar.


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O equipamento é um cilindro azul acoplado na borda da prancha de kitesurf que não oferece qualquer resistência durante o velejo e nem atrapalha os movimentos dos atletas em água. Ainda contém filtros que podem revelar contaminantes como metais pesados (chumbo, mercúrio), pesticidas, hormônios, microplásticos e outros.

A grande vantagem da iniciativa para a Ciência é que os pesquisadores ganham poderosos aliados na conservação e saúde dos oceanos, uma vez que aumenta o esforço amostral a partir de um velejo simples ou nos mais demorados e extensos, como os chamados downwinds. Cinco kitesurfistas se candidataram como voluntários e os pesquisadores devem divulgar ainda neste ano o resultado dessas coletas.

O instrumento foi desenvolvido em parceria com o Instituto de Ciência do Mar (Labomar-UFC), Laboratórios Associados de Inovação e Sustentabilidade (LAIS-UECE), o Instituto Winds for Future, Instituto Federal do Ceará (IFCE) e o Instituto Desenvolvimento, Estratégia e Conhecimento (IDESCO).

O professor Sales Ávila (LAIS-UFC) destaca que “a ideia pode ser usada em qualquer lugar do mundo onde exista a prática de kitesurf, o que pode gerar um movimento global e voluntário de monitoramento oceânico.”

Recorde mundial no Kiteparede

A praia de Cumbuco, em Caucaia (CE), recebeu mais de mil kitesurfistas em setembro deste ano, durante o evento Kiteparede, quebrando o recorde de maior número de atletas velejando ao mesmo tempo, 884 surfistas.

A prova foi acompanhada por uma comissão julgadora do Guinness World Records 2022 e, para a contagem oficial, a comissão levou em consideração os atletas que fizeram o percurso no tempo determinado em raias que variam de 2k a 5k.

“O momento foi de muita emoção. Diversas vezes eu chorei na água vendo a imagem de tantas pessoas reunidas por um objetivo. Caucaia bateu um novo recorde e é um orgulho fazer parte disso”.

Alex Neto, atleta profissional de kitesurf

O Kiteparede fez parte da programação do Festival Winds For Future 2022 e chamou a atenção global sobre questões ambientais, como o aquecimento global e a poluição dos mares. Também foi a primeira ação do dispositivo Kite4Science, onde os atletas puderam colaborar com o projeto instalando o filtro e selando a parceria entre ciência, cidadania e esporte.

”A energia foi simplesmente indescritível e sem nenhum tipo de acidente ou intercorrência. Reunimos participantes de mais de 30 países diferentes nas águas do Cumbuco nesta edição e superamos a meta de mil pessoas ao mesmo tempo no mar”.

Mariana Zonari, uma das idealizadoras do KiteParade

Esporte, sustentabilidade e economia oceânica

O esporte tem uma forte relação com o desenvolvimento sustentável. Por isso, muitas organizações esportivas estão investindo em campanhas e eventos de sustentabilidade, resultado de uma preocupação mundial com a utilização eficiente dos recursos naturais.

A indústria de eventos atrai turistas, mas também atrai cientistas, empreendedores e investidores, promove negócios, altera a cara do ecossistema e amplia a rede de relacionamento global. O Winds for Future (W4F) e o Ceará Global, por exemplo, têm a capacidade de apoiar o processo de internacionalização da economia do Ceará a um custo muito baixo.

Rômulo Soares, membro do Conselho Estadual do Meio Ambiente, praticante de kitesurf e co-fundador do Winds For Future, afirma que o Ceará deve olhar para o mar e, com isso, adicionar novos vetores de desenvolvimento à sua economia.

“No nosso Estado temos uma série de vantagens e oportunidades ligadas ao mar: a localização geográfica, um hub de dados global através de cabos submarinos, o espaço aéreo e o turismo ligado ao ecossistema singular de dunas, praias com águas quentes e fortes ventos, ideais para o kite, o surf e o windsurf”.

A praia do Cumbuco, que é a meca do kitesurf e sediou o Festival W4F, reuniu pessoas de mais de 20 países conectadas a empresas, sociedade, governos e academia. E eventos como esse, quando são realizados em cidades diversas, vibrantes, ensolaradas e costeiras, são excelentes para fazer conexões e atrair criativos e inovadores.

“Creio que o Ceará pode assumir um papel de liderança brasileira no aproveitamento da economia do mar graças às vantagens geográficas e naturais que detém. A aposta consistente na indústria do turismo, a criação do hub aéreo em Fortaleza e o desenvolvimento de uma série de ações conectando esporte e ciência facilitam o sucesso desta aposta. Em resumo: juntos, governo e sociedade civil, podem muito mais”, finaliza.

Segundo a personal trainer Juliana Marques, as pessoas que praticam atividades físicas têm relações mais estreitas e de maior responsabilidade com o meio ambiente. Ela passou a adquirir práticas sustentáveis na sua rotina, fundamental para ampliar o engajamento das pessoas em torno do assunto.

“É preciso fazer uma campanha consciente, verdadeira e que tenha um impacto para as próximas gerações. Os atletas são pessoas com ótima entrada na população de maneira geral e podem ajudar a transformar a cabeça dos jovens”.

Perspectivas de futuro

Há 60 anos, o Instituto de Ciências do Mar (Labomar), da Universidade Federal do Ceará, é uma instituição multidisciplinar de referência em ciências oceânicas, voltada à execução de pesquisas focadas no interesse do desenvolvimento econômico, social e sustentável do Estado.

Desde 2019, o Labomar estuda o vazamento de petróleo e avalia o impacto ambiental causado por um navio de bandeira grega que se espalhou por 11 estados brasileiros, atingindo as praias do Nordeste. Segundo os pesquisadores, o óleo atingiu mais de 40 unidades de conservação e houve impacto em uma grande diversidade de ambientes e ecossistemas marinhos e costais.

Um dos autores do artigo, o prof. Marcelo Soares, do Labomar, ressalta que o detalhamento dos impactos ainda deve ocorrer, mas alguns deles já podem ser percebidos. “Os mais relevantes são a contaminação a longo prazo de ecossistemas tropicais, perda de biodiversidade, insegurança alimentar de comunidades, perdas econômicas de pescadores artesanais, danos psicológicos às comunidades afetadas e danos às unidades de conservação”, diz.

Os pesquisadores também estão envolvidos numa pesquisa financiada pela União Europeia e pelo Governo Federal, que investiga o impacto dos microplásticos no Oceano Atlântico e no Mar Mediterrâneo. O I-plastics pretende entender o transporte de microplásticos nos rios que passam pelas grandes cidades e a quantidade desse contaminante transportada para o oceano, com conclusão prevista para 2023.

“Este projeto é uma oportunidade de aumentar a colaboração internacional e buscar soluções para um dos maiores problemas ambientais que a humanidade enfrenta no momento”.

O Volume 55, número 01, na última edição do Arquivos de Ciências do Mar, periódico institucional onde é publicada a produção científica dos pesquisadores do Labomar, divulgou para à comunidade sete artigos científicos originais, dois artigos de revisão e três notas científicas, ainda sob os reflexos da pandemia de Covid-19.

Este volume também traz contribuições importantes para o conhecimento sobre parasitas em peixes de grande porte; um destaque aos estudos que abordaram os aspectos relacionados ao valor nutricional de organismos marinhos para o consumo humano; e um artigo original trouxe informações importantes sobre a ocorrência de tartarugas marinhas encalhadas na costa de Fortaleza e as implicações para a conservação dessas espécies.

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