Autoridades e cientistas alemães se reuniram no Rio de Janeiro esta semana com pesquisadores brasileiros para selecionar projetos de hidrogênio verde. A Alemanha é a maior economia da Europa e uma das maiores consumidoras de energia do mundo. Se a parceria com o Brasil e seu potencial de energia renovável já era estratégica devido às metas climáticas robustas do país europeu, a crise energética agravada pela guerra russa trouxe ainda mais urgência a essas conversas.
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O hidrogênio verde – um combustível feito a partir de eletricidade renovável de água, vento e luz solar – é visto como uma tecnologia essencial para a transição energética da indústria pesada, como a metalurgia. Ele permitirá, por exemplo, a fabricação de aço verde, que não gera os enormes volumes de gases de efeito estufa do aço tradicional e que agravam a mudança climática. Outro setor que mira no hidrogênio verde é o transporte de difícil descarbonização, como navios e aeronaves.
“Os estudos indicam que o Brasil pode ter a energia renovável mais barata do mundo, o que permitirá que o país gere o hidrogênio verde mais competitivo em nível global”, afirma Johannes Michael Kissel, diretor de Energia Renovável e Eficiência Energética da GIZ, agência alemã de cooperação internacional. Ele explica que a primeira parceria deste tipo foi estabelecida com o Chile, mas que o mercado brasileiro pode se consolidar com o principal parceiro devido à escala.
“A parceria com o Brasil é estratégica também pelo fato de estar aqui o maior conjunto industrial da América do Sul com capacidade de integrar a cadeia do hidrogênio verde“, afirma Marcus Regis, consultor especializado na cooperação científica Brasil-Alemanha da GIZ e facilitador do encontro.
“Nosso interesse no Brasil pode ser resumido em três aspectos: aqui há um nível industrial que pode ter a capacidade de aplicar as tecnologias que serão desenvolvidas nos projetos; O país também tem o potencial para uma conversa de alto nível sobre energias renováveis; e as universidades brasileiras oferecem o recurso humano qualificado e com pesquisas de alto nível já em andamento.”
Ilona Daun, gerente de projeto do DAAD
Kissel explica que exportar hidrogênio, embora possível, é uma operação bastante complexa. “A forma prática de exportar hidrogênio verde é por meio dos produtos produzidos com ele, que por terem uma pegada de carbono menor terão acesso a mais mercados”, diz o executivo. “Muitas empresas estrangeiras atuando no Brasil já têm um mandato de transição energética determinado por suas matrizes, o que já gera uma demanda antecipada por esta forma de energia de aplicação industrial.”
Embora o Brasil tenha muito a ganhar com uma parceria deste tipo, é somente a parte alemã que se movimenta. A GIZ e o DAAD, o órgão de fomento de intercâmbio científico equivalente à brasileira Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), são as únicas financiadoras das iniciativas selecionadas. Serão de 3 a 4 projetos conjuntos de universidades brasileiras e alemãs a serem anunciados em dezembro, com orçamento de R$ 586 mil cada (109 mil euros) e início das pesquisas previsto para fevereiro de 2023.
Em privado, os acadêmicos presentes relataram uma dificuldade de cooperação via Capes, que atualmente demonstra pouca disposição para financiar projetos científicos internacionais. No passado, a agência brasileira e o DAAD se engajaram em projetos científicos de grande porte e em paridade de financiamento, o que ampliaria o números e projetos que podem ser desenvolvidos.
“O alvo das tecnologias que queremos desenvolver por meio deste intercâmbio é a indústria brasileira, e é por isso que queremos envolver esses atores nesta construção, mas ainda há uma barreira cultural“, lamenta Regis. “A sociedade brasileira ainda não entendeu que o tema do clima pode ser um caminho de desenvolvimento sustentável. Não se trata de pintar os negócios de verde, mas de realmente criar bons empregos dentro de uma nova lógica industrial impulsionada pelo combate às mudanças climáticas“, conclui o consultor.
O evento foi realizado de 23 a 26 de outubro e contou com a participação da ministra conselheira do BMZ (Ministério Federal da Cooperação Econômica e Desenvolvimento da Alemanha), Petra Schmidt, e de representantes da indústria, incluindo Enel e Petrobras.
E o que mais você precisa saber
QUEIMA
Amazônia, Caatinga, Cerrado, Mata Atlântica, Pampas e Pantanal – todos os biomas brasileiros podem estar agora mais suscetíveis ao fogo em resposta ao agravamento da mudança climática e às queimadas provocadas localmente. A descoberta é de um estudo divulgado agora na revista PeerJ Life & Environment é particularmente preocupante para a Caatinga, Mata Atlântica e Amazônia, onde o fogo não faz parte do ciclo natural das espécies vegetais. Temperaturas mais altas, chuvas mais intensas com maior incidência de raios e diminuição da umidade são os elementos por trás do aumento do risco.
Fonte: UOL
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