O Ceará está trabalhando para expandir a área de cultivo do açaí por várias regiões de seu território, aproveitando todas as áreas irrigadas. A meta é diminuir a dependência que tem do Pará, uma vez que importa de lá praticamente todo o fruto que consome.
Quer receber os conteúdos da TrendsCE no seu smartphone?
Acesse o nosso Whatsapp e dê um oi para a gente.
Na Fazenda Agropar, localizada na comunidade do Vela Branca, em Paracuru, a 90 quilômetros de Fortaleza, há pouco mais de cinco anos, o plantio de açaí já é uma realidade. Em parceria com a Embrapa, foram desenvolvidas mudas que se adaptaram bem ao clima nordestino.
O passo atual é aumentar a produção para, em seguida, instalar uma indústria de beneficiamento do fruto, segundo revelou Alberto Félix, CEO da empresa. Ele diz que o projeto da indústria está em análise de financiamento pelo Banco do Nordeste e que, se tudo der certo, já começa a funcionar a partir do ano de que vem.
A ideia é que a empresa compre a produção de agricultores cearenses tanto para abastecer o mercado local como também para transformar a popa em pó. Assim, poderá fazer a exportação para países como os Estados Unidos, onde o consumo do fruto também caiu no gosto da população.
O açaí cearense leva cerca de 3 anos e meio para começar a produzir. E gera, em média, cachos a cada 25 dias. “É uma cultura perene. Nós conseguimos produzir o ano inteiro. São 14 cachos/ano por plantio”, diz Alberto Félix. Segundo ele, diferente do açaí da região Norte, que é um fruto de várzea, ou seja, de áreas alagadas, o cearense é cultivado em terra firme. “Mas os dois têm sabor igual”, garante.
Entre as vantagens da cultura, aponta o empresário, está o pouco consumo de água se comparado, por exemplo, ao cultivo de coco. “Enquanto um coqueiro consome entre 300 a 500 litros de água por dia, o açaizeiro precisa somente de 40 litros no primeiro ano, 60 litros no segundo ano e a partir do terceiro ano, 120 litros de água/dia”, destaca.
E ainda tem outra vantagem constatada pelos agrônomos da Embrapa. Em cinco anos de cultivo da planta na Fazenda Agropar, não foi preciso combater nenhuma praga nos açaizeiros.
Neto de agricultores, Alberto Félix diz que o interesse pelo fruto nasceu por conta da onda crescente no consumo do açaí em todo o mundo. De acordo com ele, tem-se constatado um crescimento médio de 15% no consumo do açaí, enquanto as áreas de produção só cresceram 5%. “Nesse caminho, vai faltar açaí”, diz o produtor.
“Vi nisso uma oportunidade para nossa região. Hoje, praticamente todo o açaí que é consumido no Ceará vem do Pará. Ou seja, são impostos e empregos que ficam lá, quando nós temos a possibilidade de fazer essa produção aqui”, afirma o empresário. De acordo com ele, uma rede local de açaí, com 70 lojas, compra por ano 300.000 quilos do fruto, ao preço médio de R$ 20,00 o quilo.
Daí ele vem buscando difundir o cultivo em terras cearenses. Já teve conversas com produtores do próprio município de Paracuru, da Paraipaba, Trairi, Itapipoca, Marco, Maranguape, Acaraú, Guaiúba, Aracati, Russas e Beberibe. Em cada um desses municípios, informa Alberto Félix, a Agropar tratou sobre a comercialização de mudas com grupos de 30 a 40 agricultores.
Cariri
Mês passado, o diretor da Fazenda Agropar, Domingos Tavares, se reuniu com a presidente do Sindicato Rural de Brejo Santo, Candice Rangel, para tratar da introdução da cultura do fruto na região do Cariri. Estudos técnicos estão sendo feitos para atestar a viabilidade do cultivo do fruto que, no Norte do Brasil, é conhecido como “ouro roxo”, devido à sua coloração.
A empresa avalia que há também potencial para o cultivo do açaí nos perímetros irrigados de Baixo Acaraú, Curu-Paraipaba, Tabuleiro de Russas, Jaguaribe, Morada Nova e Icó. “São áreas importantes que são de terra firme com irrigação. O Ceará impressiona porque tem mais horas de sol do que o Pará, e com água suficiente e sol, a planta consegue produzir frutos mais doces”, diz Domingos Tavares.
A Agropar tem parceria com a Agroformas. Enquanto a Agropar atua dando suporte em toda a cadeia produtiva do açaí (plantio, venda de mudas, assistência técnica, industrialização e comercialização do fruto e derivados), a Agroformas possui uma equipe especializada em dar suporte completo aos produtores rurais na elaboração de projetos, que vão desde soluções em engenharia agrícola até de investimento junto às instituições financeiras, como Banco do Nordeste e Banco do Brasil.
Mercado promissor
Também conhecido como juçara, assai ou açaí-do-pará, é um fruto que cresce nas palmeiras da região Amazônica na América do Sul. É chamado cientificamente de Euterpe oleracea.
Segundo o IBGE, em 2000, a produção de açaí no Brasil era de 121.800 toneladas. Já em 2021, chegou a 1.485.113 toneladas. Este aumento é resultado do incremento do consumo nacional e internacional.
De acordo com dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a nova dinâmica do mercado do açaí, tanto em nível nacional quanto internacional, tem se caracterizado por uma demanda crescente e superior à oferta, o que tem pressionado os preços, sobretudo com o aumento das exportações.
Ainda conforme parecer da Conab, o mercado de açaí do Pará, maior produtor nacional, vem passando por mudanças estruturais nos últimos anos, tanto no consumo, com a elaboração de novos produtos industrializados, quanto no sistema de produção.
Os técnicos avaliam que o Brasil é um grande produtor de fruto do açaí e o maior exportador de polpa congelada, mas ainda deixa a desejar quando o assunto é a diversidade de produtos à base de açaí. A verticalização da cadeia do açaí, por exemplo, é um dos principais aspectos que precisa ser trabalhado na cadeia produtiva desses frutos, com objetivo de aumentar os ganhos dos produtores do fruto e ajudar a consolidar o açaí no mercado internacional.
“No caso do açaí, a verticalização prevê a produção do maior número de variedade possível de produtos à base de açaí. Maior controle sobre a cadeia produtiva e o controle de estoque com o uso de tecnologia apropriada é algo necessário que pode facilitar o domínio sobre a produção”, aconselham os especialistas.
Rentalibidade
Em 2021, a safra do açaí no Pará, maior produtor nacional, chegou ao final no mês de dezembro, começando o ano na entressafra. Os preços no estado apresentaram variação típica desse período com aumento de 29,5% de dezembro/2021 para janeiro/2022. Porém, na comparação anual, a entressafra no estado começou com queda de 17,56 % nos índices de preço do fruto na média paraense.
Segundo informações de representantes de produtores extrativistas, no Baixo Tocantins no Pará, uma das maiores regiões produtoras de açaí no estado e, consequentemente, no país, houve grande produção do fruto na última safra e a impressão é que pode haver um aumento no quantitativo produzido em relação a 2020. O preço da lata (14 kg) para as fábricas, no Baixo Tocantins, está saindo por volta de R$ 45,00 a R$ 50,00, podendo chegar à R$ 60,00 nas feiras locais.
Saiba mais:
Indústria de polpa de frutas cearense é otimista com crescimento
Complexo de estufas e conhecimento na Holanda garantem alta produtividade agrícola