Estima-se, extraoficialmente, que no Brasil a taxa de adoção da agricultura de precisão está presente em 20% das áreas agrícolas. Pesquisadores, produtores e fabricantes de equipamentos acreditam que a participação pode ser maior, considerando que as lavouras brasileiras, em geral, já têm algum nível de tecnologia aplicada dentro do amplo conceito de agricultura de precisão, a começar pelo Sistema de Posicionamento Global (GPS) embarcado nas máquinas agrícolas. O desafio é alcançar os pequenos produtores e investir em laboratórios, em mais pesquisadores e em capacitação.
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Aberto a novas tecnologias, o Brasil está na vanguarda da digitalização na agricultura, em direção à agricultura 4.0. Os produtores nacionais superam até mesmo os norte-americanos e europeus na taxa de utilização de algum meio digital na sua cadeia de produção, segundo acompanhamento da McKinsey. A solução, conforme as mesmas fontes, passa pelos projetos desenvolvidos sob medida pelas agtechs, as startups voltadas à agricultura, que proliferam. Pesquisa do Radar Agtech Brasil 2020/2021 atesta que existem 1.574 agtechs no País, onde são contabilizados mais de 20 hubs de inovação agropecuária.
O pesquisador sênior da Embrapa Agroindústria Tropical, Claúdio José Reis de Carvalho, advoga a disponibilização dos recursos da agricultura de precisão aos pequenos e médios produtores e pecuaristas que, numericamente, são maioria no universo empresarial do agronegócio nacional. As grandes extensões de soja, milho e trigo já incorporaram muito do real conceito da agricultura de precisão, restando um enorme potencial de pequenos produtores sem acesso a máquinas equipadas com GPS e outros recursos que envolvem valores da ordem de R$ 800 mil/R$ 1,0 milhão.
“O fato atrasa a inclusão das propriedades menores no sistema de maximização do uso de insumos, com menor impacto ambiental e com menores custos também de energia e combustível”.
A tendência, segundo ele, é a da locação. A exemplo do que já ocorre na Europa, o mercado brasileiro começa a se organizar com o surgimento de empresas que oferecem o aluguel de equipamentos agrícolas agregando serviços completos. “É possível alugar tudo, até caixas de abelha por apicultores”, exemplifica o pesquisador, para mostrar que há alternativas de toda ordem para quem quer empreender com eficiência e gestão de custos.
Para os produtores de menor escala de produção, a Embrapa tem como ambição estimular o uso das potencialidades dos dispositivos já disponíveis em smartphones, baseados na Internet das Coisas e que bem atenderiam o interesse desta camada de usuários. “Para estes, o 5G não resolve, dadas as distâncias”, observa Cláudio Carvalho, lembrando que a nanoeletrônica e o avanço da indústria de semicondutores reduziram o preço dos chips, encurtando a distância entre o campo/lavoura e a cidade.
“É neste ponto que as agtechs podem, devem e vão fazer a diferença”, defende ele, citando o exemplo da SMAP, incubada pela Embrapa dentro do Programa Garoa. A startup desenvolve dispositivos para monitorar o consumo de água nas propriedades agrícolas gerando planilhas de custos para cada cultura ou atividade (frutas, legumes, lavouras, galinheiros e currais). Agora está desenvolvendo sensores também para as plantações de coco.
O vice-presidente da Associação Brasileira do Agronegócio (ABAG), Pedro Estêvão Bastos de Oliveira, segue a mesma linha de raciocínio e aponta a falta de conectividade como um dos grandes obstáculos ao avanço da agricultura de precisão. Ele cita estudo da ESALQ que apontou a necessidade de instalação de mais 5000 antenas parabólicas para cobrir 60% do campo (+11 mil para chegar a uma cobertura de 80%), e assim garantir o alcance da tecnologia 4G.
Oliveira vai além e acrescenta mais um impeditivo não menos relevante. Trata-se da necessidade de capacitação de pessoas para operar adequadamente os sistemas de monitoramento. “O Brasil precisa de uma massa de gente preparada para explorar todo o potencial da tecnologia que exige não só gestores e agrônomos, mas analistas de tecnologia da informação e operadores de máquinas”, afirma.
Atuando na área da indústria de máquinas agrícolas e com vistas a diminuir o que chamou de “fosso tecnológico”, ele garante que já está havendo uma corrida para adaptar a tecnologia de precisão para o tamanho da necessidade e do fôlego financeiro dos pequenos e médios agricultores. Também a ABAG acredita que as agtechs podem integrar o desafio oferecendo soluções tecnológicas para este nicho.
O secretário Executivo doAgronegócio da Secretaria do Desenvolvimento e do Trabalho do Ceará (Sedet), Sílvio Ribeiro, diz que a agricultura de precisão já é uma realidade no Brasil. Na liderança na produção de alimentos, o agronegócio brasileiro também conta com mecanização de alta precisão, softwares e sistemas de inteligência artificial aplicados em campo aberto, em especial, nas commodities como soja, milho e algodão.
Sílvio Ribeiro atribui o avanço aos produtores que bem souberam absorver as experiências e conhecimentos de grandes empresas internacionais, inclusive o Ceará e sua parceria com a Holanda na questão do cultivo em ambiente protegido, fortalecendo a fruticultura e a floricultura. “O Brasil também conta com desenvolvimento próprio, mas carece de fortes investimentos em estruturas físicas de institutos e laboratórios e, notadamente, em mais pesquisadores”, afirma ele, sabendo que quanto mais precisos e variados forem os dados coletados, mais confiável será o diagnóstico referente à variabilidade nas lavouras.
Rezar para São Pedro já não faz parte da cartilha do campo. Variável incontrolável, a falta ou o excesso de chuvas que assombra os produtores rurais conta com métodos mais modernos. A EaryhDaily Agro prevê eventos climáticos com 10 dias antecedência, monitora as áreas agrícolas através dados de satélite e informa a umidade do solo e do ar.
Monitoramento feito em regiões agrícolas no Rio Grande do Sul para o final de outubro, por exemplo, registrou precipitações 56% abaixo da média nos últimos 10 dias, como decorrência do fenômeno climático La Niña, que atingiu principalmente os cultivos de soja na última temporada.
No mesmo período analisado, a precipitação acumulada ultrapassou os 100 milímetros em algumas regiões do Paraná e Mato Grosso. “Nos dois Estados, o volume de chuvas foi acima da média, o que irá manter a umidade do solo alta”, afirma o analista de safra da EarthDaily Agro, Fellipe Reis.
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