O setor de energia renovável, em 2021, foi responsável por 12,7 milhões de empregos (diretos e indiretos) em todo o mundo. Desse total, praticamente 2/3 dos empregos estavam na Ásia, onde somente a China foi responsável por 42%. A União Europeia e Brasil ocuparam o segundo lugar, com 10%, cada (o equivalente a 1,27 milhão de empregos para cada), seguidos pelos Estados Unidos e Índia, com 7%, cada. Para este ano, são estimados crescimento de 700 mil novos empregos em todo mundo, elevando o número geral para 13,4 milhões.
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A previsão para 2030 é que o setor empregue mais 38,2 milhões de pessoas, em um cenário ambicioso de transição energética com investimentos antecipados. Porém, o número pode subir para 139 milhões, incluindo mais de 74 milhões em eficiência energética, veículos elétricos, sistemas de energia/flexibilidade e hidrogênio.
O segmento de energia solar fotovoltaica (PV), em 2021, foi o que apresentou crescimento mais rápido, respondendo por mais de 1/3 da força de trabalho total de energia renovável, ou seja, 4,3 milhões dos 12,7 milhões de empregos. O Brasil ocupou a sexta posição dentre um ranking de dez, que foi liderado pela China, Estados Unidos, Índia, Japão e Bangladesh.
Já energia eólica foi responsável por 1,3 milhão (os países estão construindo a base industrial e a infraestrutura necessária para dar suporte às crescentes instalações offshore). Os principais países geradores de mão de obra foram: China, Alemanha, Estados Unidos e Brasil, que ocupou a quarta posição, seguido por Vietnã, Índia, Dinamarca e Reino Unido.
As hidrelétricas responderam por 2,4 milhões (2/3 desses empregos foram na fabricação; 30% relacionados à construção e instalação e cerca de 6% à operação e manutenção), número idêntico para os empregos verificados no segmento de biocombustíveis (a grande maioria em operações de matéria-prima. A produção de biodiesel e o emprego estão crescendo enquanto o etanol está diminuindo).
Os números – e muitos outros – estão na 9ª edição da Energia renovável e Empregos (revisão anual/2022) da Agência Internacional de Energia Renovável (Irena), elaborada em parceria com a Organização Internacional do Trabalho (OIT). A análise – composta por 84 páginas – e divulgada no final de setembro de 2022, elabora um perfil do mercado de energia renovável no mundo.
Segmento de biocombustíveis e fotovoltaico são destaques
De acordo com o relatório da Irena, do total de 1,27 milhão de empregos no setor de energia renováveis no Brasil, em 2021, cerca de 863,1 mil estavam no setor de biocombustíveis, que permaneceu o maior componente da força de trabalho de energia renovável do país, mas os pesos do etanol e do biodiesel continuam mudando. O documento chama a atenção para o fato das adições recordes de 3,96 GW em 2021 trouxeram, no segmento eólico, capacidade de geração para 21,2 GW.
Com isso, a estimativa é que a força de trabalho eólica do país totalize cerca de 63,8 mil pessoas, principalmente na construção, seguida de O&M. Cerca de 80% da capacidade instalada – e, portanto, parte considerável dos empregos – estava no Nordeste (Rio Grande do Norte, Bahia, Piauí e Ceará), e outros 10% no Sul do Rio Grande do Sul. O Nordeste (Bahia e Ceará, junto com Pernambuco) também abriga fábricas de equipamentos eólicos.
A estimativa, em 2021, é que o segmento de energia solar fotovoltaica no Brasil tenha sido responsável por 115 mil empregos, acima dos cerca de 72,6 mil de 2020. Cerca de 102,5 mil empregos estavam no segmento distribuído de mão-de-obra intensiva, distribuídos por pequenos instaladores. A maioria dos módulos e painéis foram importados da China, pois a fabricação de componentes no Brasil é muito limitada.
Fotovoltaica e eólica crescem no mundo e no Brasil
Em 2021, aproximadamente 257 gigawatts (GW) de eletricidade renovável foram instalados em todo o mundo, o que proporcionou a expansão da capacidade acumulada em 9% para um total de 3.068 GW. As energias solar e eólica, juntas, representaram 88% dessa expansão, com 133 GW e 93 GW, respectivamente, conforme revela o relatório da Irena. Já a energia hidrelétrica cresceu apenas 25 GW em 2021, o mesmo ritmo de 2020, e a capacidade de energia da bioenergia aumentou 10 GW em cada um dos últimos dois anos.
Por sua vez, a capacidade térmica solar apresentou crescimento de 31 milhões de metros quadrados ou 21 gigawatts térmicos, continuando uma ascensão após vários anos de declínio das instalações. A produção global de biocombustíveis, de cerca de 160 bilhões de litros, igualou o nível alcançado em 2019, antes da crise do Covid-19.
A maior parte da nova capacidade foi instalada na China, que continuou a dominar a eletricidade renovável e representa uma grande parcela do emprego de energia renovável. A China instalou 50% das novas instalações do mundo em energia eólica e em solar fotovoltaica respondeu por 40%. Coletivamente, o resto do mundo adicionou quantidades recordes de capacidade eólica e solar em 2021. No setor de energia solar fotovoltaica, Estados Unidos, Índia, Brasil, França e Itália adicionaram quantidades recordes às suas capacidades.
O setor de energia eólica, em 2021, instalou 93 GW de capacidade, a segunda maior adição anual depois de 2020. A China ficou na liderança, embora os 47 GW adicionados tenham sido consideravelmente menores do que no ano anterior. Os Estados Unidos seguiram, com 14 GW, aproximadamente o mesmo que em 2020. Outros grandes instaladores foram Brasil, Vietnã, Reino Unido, Suécia, Turquia, Alemanha, Índia e França. Adições recordes de energia eólica offshore de 21,3 GW foram alcançadas, apesar dos impactos contínuos do COVID-19 e das tensões nas cadeias de suprimentos.
Solar fotovoltaica é destaque
Luiz Augusto Barroso, presidente da PSR, empresa que oferece soluções tecnológicas e serviços de consultoria técnica nos setores de energia elétrica e gás natural (E&G) em diversos países, desde 1987, ao abordar a perspectiva de crescimento do mercado de renováveis para os próximos anos, afirma que a expansão do Brasil já está toda definida e contratada. E que ela é liderada pelas renováveis com amplo destaque pela fonte solar, tanto como geração centralizada como geração distribuída. Então, em 2023 será de amplo domínio nas renováveis no crescimento da expansão da oferta.
“O setor elétrico emprega bastante, com empregos muito ligados ao conceito de transição energética. E no caso das renováveis existe uma grande empregabilidade nas regiões produtoras, onde o Nordeste é uma liderança. Então, o grande desafio ao crescer as renováveis, crescer esses empregos e transformá-los em empregos cada vez mais qualificados para que o Brasil tenha, não só liderança tecnológica da fonte e a liderança da produção de renováveis, mas a liderança na mão de obra, que contribui para que esse protagonismo energético renovável aconteça”.
Sobre os desafios e as oportunidades das energias renováveis, Luiz Augusto é taxativo: “é um setor que tem um grande desafio, já que tem uma tarifa muito alta. É um setor que tem que trabalhar na desoneração da conta de luz e um setor que tem que trabalhar na abertura de mercado livre a todos os consumidores”. Sobre oportunidades, ele garante que “o Brasil é o país da energia. É o país onde a energia renovável também é mais barata. Então, isso nos coloca em um protagonismo muito grande, não só para o atendimento de consumidores, como também na transição energética global”.
Quanto a expectativa para o hidrogênio verde, ele observa que o movimento ainda está se iniciando. Não existe nada concreto acontecendo nos próximos poucos anos. No entanto, frisa que nesta década será onde toda a infraestrutura regulatória e comercial tem que ser preparada. Isso para que, na próxima década o hidrogênio se torne uma realidade. “Ainda existem muitas barreiras significativas de custos e necessidades de inovação. Mas, é um caminho que, embora ainda esteja ocorrendo, parece cada vez mais ser mais sólido” – conclui.
Solar e fotovoltaica vão prevalecer no Nordeste
Na opinião do consultor de Energia da Federação das Indústrias do Estado do Ceará (Fiec) e ex-presidente da Câmara Setorial de Energias Renováveis da Agência de Desenvolvimento do Estado do Ceará (Adece), Jurandir Picanço Júnior, ao considerar o benefício global, as energias renováveis terão um papel preponderante na descarbonização do planeta. A produção de energia a partir de combustíveis fósseis é responsável por 72% das emissões de gases de efeito estufa. A solução já identificada é de substituir por energias renováveis. Ele observa que os benefícios locais são decorrentes da promoção do desenvolvimento econômico e social, principalmente na geração de empregos.
“Aqui no Nordeste prevalecerão a produção de energia solar fotovoltaica e da energia eólica. Estimativas da Irena apontam que a geração solar fotovoltaica contribui com 31 empregos para cada MW implantado e 12 empregos por MW na geração eólica. São atividades intensivas de mão de obra qualificada principalmente na fase de implantação”.
Atualmente, as fontes para produção de energia elétrica de menor custo são a solar fotovoltaica e eólica onshore. Essas são as formas de produção de energia que mais crescerão nos próximos anos – acredita Jurandir Picanço, ressaltando que a região Nordeste detém o maior potencial dessas fontes de energia em todo o território brasileiro. Assim, os estados do Nordeste serão os mais beneficiados com a expansão das energias renováveis nos próximos anos. Ele acredita que no processo de descarbonização das atividades emissoras de gases de efeito estufa, as energias renováveis assumem um papel preponderante.
Mas, os desafios são muitos, como, por exemplo, de desenvolver projetos com baixo impacto ambiental e social. Não teria sentido contribuir com o meio ambiente global, impactando negativamente o ambiente local. Picanço também destaca como desafio o desenvolvimento das cadeias produtivas para ampliar os benefícios econômicos e sociais, notadamente a geração de emprego. A implantação de projetos de geração de energia solar ou eólica são realizados em curto prazo, de dois a três 3 anos. Entretanto, prover a infraestrutura para o escoamento dessa energia (sistema de transmissão), demanda um tempo muito mais longo. Um planejamento adequado dessa expansão é fundamental.
Sobre o hidrogênio verde, foi identificado como a solução para descarbonizar alguns setores, destacando-se a mobilidade e a indústria. “O hidrogênio pode ser armazenado e transportado, permitindo que seja exportado de regiões produtoras para àquelas que serão consumidoras, essas por não disporem em seus territórios potencial de energia renovável para descarbonização de suas matrizes energéticas”. Dentre eles, o Presidente da Câmara Setorial de Energias Renováveis da Adece destaca a Alemanha e o Japão. “O Ceará, por estar na região que poderá produzir o hidrogênio verde mais barato do mundo, dispõe do Complexo do Pecém, que torna muito atrativo produzir o hidrogênio verde para exportação” – conclui.
Agência e OIT apoiam energia sustentável
A Agência Internacional de Energia Renovável (Irena) é uma organização intergovernamental que apoia os países em sua transição para um futuro de energia sustentável e serve como a principal plataforma para a cooperação internacional, um centro de excelência e um repositório de políticas, tecnologia, recursos e conhecimento financeiro sobre energia renovável. A Irena promove a ampla adoção e uso sustentável de todas as formas de energia renovável, incluindo bioenergia, geotérmica, hidrelétrica, oceânica, solar e eólica, na busca do desenvolvimento sustentável, acesso à energia, segurança energética e crescimento e prosperidade econômica de baixo carbono.
Única agência tripartite da Organização das Nações Unidas (ONU) desde 1919, a Organização Mundial do trabalho (OIT) reúne governos, empregadores e trabalhadores de 187 Estados Membros, para definir normas trabalhistas, desenvolver políticas e elaborar programas que promovam o trabalho decente para todas as mulheres e homens.