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A Enel também confirmou seus planos de se tornar livre de carbono até 2040, à medida que se afasta dos combustíveis fósseis para um maior uso de fontes renováveis. (Foto: Divulgação)

Enel Brasil anuncia venda da empresa no Ceará para reduzir dívida e realizar novos investimentos

Por: Pádua Martins | Em:
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Para reduzir sua dívida liquida e ao mesmo tempo se capitalizar para investimentos em energia mais limpas em seis países, a empresa italiana Enel revelou para o mercado que pretende alienar o controle acionário da Companhia Energética do Ceará (Coelce), que é controlada por sua subsidiária no Brasil. A Enel anunciou, no final do mês passado, que a intenção da venda faz parte de seu plano estratégico para 2023/2025. No entanto, ainda não foram iniciadas concretamente “quaisquer medidas e procedimentos” para a venda do controle.


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A empresa italiana pretende se concentrar nas concessionárias de São Paulo (ex-Eletropaulo, que é a maior do Brasil, e fornece energia a 7,5 milhões de unidades consumidoras em 24 municípios da região metropolitana paulista) e do Rio de Janeiro (três milhões de unidades consumidoras em 66 municípios fluminenses). Apesar de ter anunciado que a venda da Enel Ceará está dentro dos seus planos, a empresa tem permanecido em silêncio sobre como e quando deverá ocorrer o processo de alienação.

De acordo com documento divulgado pela Coelce, dentre as muitas medidas planejadas para os próximos anos, existe uma “possibilidade de alienação do controle acionário da Companhia, detido por sua controladora direta Enel Brasil S/A, muito embora ainda não tenham sido iniciadas concretamente quaisquer medidas e procedimentos em tal sentido”. O fato é que a italiana Enel planeja venda de ativos, em seis países, no valor total de US$ 21,5 bilhões.

Na verdade, o plano estratégico de Enel já teve início este ano, quando a subsidiária brasileira alienou sua participação da Celg Distribuição S/A (Enel de Goiás), que foi vendida para a Equatorial Energia, bem como com a da termelétrica em Fortaleza, vendida à Eneva. Outras alienações vão ocorrer até o final do próximo ano, com sua saída da Argentina e do Peru, e a venda de ativos na Romênia. O grupo estatal pretende investir cerca de 37 bilhões de euros nos próximos três anos em seus seis principais mercados: Itália, Espanha, Estados Unidos, Brasil, Chile e Colômbia.

Segundo a agência Reuters, a Enel também confirmou seus planos de “se tornar livre de carbono até 2040, à medida que se afasta dos combustíveis fósseis para um maior uso de fontes renováveis. A Enel, que também pode vender seu portfólio de gás na Espanha, pretende reduzir sua dívida líquida para 51-52 bilhões de euros até o final de 2023, ante 69 bilhões no final de setembro”. A Agência informou que o CEO da elétrica, Francesco Starace, disse que, diante da turbulência nos mercados de energia, a Enel precisa retornar a índices financeiros mais normais.

enel no Brasil

Ainda de acordo com a Reuters, Starace adiantou que o maior foco nas grandes cidades também motivou a alienação da Celg-D, distribuidora de Goiás, que foi vendida pela Enel neste ano ao grupo Equatorial Energia, em uma operação de 7,3 bilhões de reais (incluindo dívidas). A venda da Coelce surge em um momento em que grande parte das distribuidoras brasileiras já são de capital privado, fazendo com que haja pouca oportunidade de consolidação no mercado para elétricas que atuam nesse segmento.

Enel Ceará é a terceira distribuidora do Nordeste

A Enel Distribuição Ceará fornece energia elétrica nos 184 municípios do Estado do Ceará, em uma área de 149 mil quilômetros quadrados, segundo consta no site da empresa. A Companhia conta com uma base comercial de aproximadamente 4,38 milhões de unidades consumidoras, envolvendo uma população de cerca de 9,2 milhões de habitantes. É a terceira maior distribuidora do Nordeste em volume distribuído.

Sociedade anônima (S/A) de capital aberto, a Companhia é controlada pela Enel Brasil, que detém, diretamente, 74,05% do capital total e 97,91% do capital votante. O restante das ações, negociadas na Bolsa de Valores (B3), pertencem a pessoas físicas, investidores institucionais nacionais e estrangeiros, fundos de pensão, clubes e fundos de investimentos, bem como outras pessoas jurídicas.

A Enel Brasil foi constituída com o objetivo de centralizar as participações societárias do grupo Enel no país e criar, por meio de uma holding de empresas, uma plataforma sólida de gestão dos ativos que preparasse a companhia para futuras expansões. A empresa possui participações em quatro distribuidoras de energia – Enel Distribuição Rio, Enel Distribuição Ceará, Enel Distribuição Goiás (vendida) e Enel Distribuição São Paulo -, geradoras (Enel Green Power Cachoeira Dourada, Enel Green Power Volta Grande, ENEL Green Power Uruguay e Outras sociedades EGP), três transmissoras (Enel Cien, CTM e TESA), uma comercializadora (Enel Trading) e uma empresa de produtos inovadores e soluções digitais (Enel X).

No Ceará, a Enel não vem conseguindo bons resultados

Para o consultor de Energia da Federação das Indústrias do Estado do Ceará (Fiec), Jurandir Picanço, a Enel é uma empresa do setor de energia de atuação mundial, mas que no Ceará não vem conseguindo bons resultados como concessionária de distribuição. Para ele, a venda da empresa não vai causar nenhum impacto negativo aos consumidores.

“Minha expectativa otimista é de que a empresa que suceda a Enel consiga melhorar seu desempenho na prestação do serviço para os cearenses. O consumidor não será prejudicado em nada. A médio prazo será beneficiado, pois a expectativa é de que a empresa que assuma estará comprometida em melhorar a qualidade do serviço prestado”.

Ele afirma que é evidente, para todos que acompanham o setor de energia, que a Enel tem privilegiado produção de energias renováveis. Esse fato se evidencia por ser hoje a empresa líder na produção de energia eólica e solar fotovoltaica no Brasil. “Antes de sair do Ceará, a Enel já vendeu sua empresa de Goiás. Sua estratégia empresarial explicitamente reduz sua participação na distribuição de energia e aumenta na produção de energias renováveis”.

Jurandir Picanço, no entanto, observa que a decisão da Enel em optar por outra matriz não é uma tendência geral das empresas do setor de energia. Há empresas que focam em determinadas atividades. Com certeza haverá grande disputa de empresas que privilegiam a distribuição de energia pelo controle da ex-Coelce. Os investidores estão numa expectativa positiva já que a empresa sob controle da Enel não vinha alcançando bons resultados.

Para concluir, ele diz que lamenta o fato da Enel, por ser reconhecidamente uma empresa de grande conceito mundial, não tenha alcançado bons resultados no Ceará. “Desde que assumiu a Coelce, por seu conceito mundial, havia expectativa de melhor performance. Esse fato certamente está relacionado com o novo foco da Enel, comprometida com os objetivos da transição energética, visando a descarbonização do planeta, conforme temos acompanhado na imprensa e nos diversos eventos em que esse propósito é explicitado” – conclui.

Já o diretor Técnico do Sindicato das Indústrias de Energia e de Serviços do Setor Elétrico do Estado do Ceará (Sindienergia/CE), Daniel Queiroz, a decisão pela venda da Enel Ceará mostra uma sensibilidade no mercado. “A venda da Enel Ceará pela empresa matriz é estratégica e ocorre justamente porque a empresa pretende fazer outros investimentos, sobretudo no mercado de energias renováveis. Ele se desfaz do mercado de distribuição no Ceará, como já fez em Goiás, mas isso, no curto prazo, nada muda, até mesmo porque já existe uma projeção. A Enel é uma empresa, no Ceará, lucrativa e bem estruturada de caixa”.

Queiroz entende que a empresa ou grupo que adquirir a Enel Ceará vai estar adquirindo uma que tem bons ativos. “A gente sempre fica numa expectativa positiva do serviço que é prestado hoje, que sempre esteja em patamar mais elevado de eficiência”. Ele ressalta que torce para que a empresa/grupo que venha adquirir tenha mais sucesso, como ocorreu ao se analisar alguns cases, inclusive adquiridos por grupos nacionais.

“Nós vemos com bons olhos e é normal esse processo dentro do mercado energético. Não só no setor de distribuição, mas também no centralizado. No curo prazo nada muda, mas no médio e longos prazos veremos processos mais dinâmicos”.

Aneel e o ranking das empresas no Brasil

A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) publicou, em março deste ano, o ranking de continuidade, que compara o desempenho de uma distribuidora em relação às demais empresas do país, isso na questão da continuidade do fornecimento de energia elétrica. A classificação é elaborada com base no Desempenho Global de Continuidade (DGC).

A Agência avaliou todas as concessionárias do país, no período de janeiro a dezembro de 2021, divididas em dois grupos: concessionárias de grande porte (com número de unidades consumidoras maior que 400 mil); e concessionárias de menor porte (com o número de unidades consumidoras menor ou igual a 400 mil).

A primeira colocada – das empresas de grande porte – foi a Companhia Energética do Rio Grande do Norte (Cosern/RN), seguida por Energisa Tocantins (ETO, TO) em segundo, e Energisa Paraíba (EPB, PB) em terceiro. A Enel Ceará ficou na 25ª posição. As últimas colocadas foram: Enel GO (27º), Equatorial MA (28º) e CEEE (29º). As concessionárias que mais regrediram no ranking foram a Equatorial/MA, que registrou queda de 20 posições, e a CELESC, com recuo de nove posições em comparação a 2020.

Das empresas com até 400 mil consumidores, as melhores foram: Energisa Borborema (EBO, PB) e Empresa Força e Luz João Cesa (EFLJC, SC), empatadas em primeiro, seguidas pela DME Distribuição (DMED, MG) em terceiro. As distribuidoras que mais evoluíram em 2021 foram o Demei, com o avanço de cinco posições, e a Sulgipe, que melhorou quatro posições em comparação com o ano de 2020. As últimas nesse grupo foram Cooperaliança (15º), DCELT (16º) e Forcel (17º).

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