“Casado, pai e quebrado”. Esse era o status de Victor Moreira em 2013, aos 25 anos de idade. O hospital da família, a Otoclínica, localizado na Avenida Antônio Sales, em Fortaleza, não tinha dinheiro para honrar a folha de funcionários e, tampouco, pagar os fornecedores. Foi quando ele pediu um voto de confiança ao pai, o médico José Iramar da Rocha Moreira, colocou uma pasta debaixo do braço e foi até a Avenida Paulista, em São Paulo, tentar livrar a empresa da bancarrota. Conseguiu.
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Desde 2021, o Grupo OTO integra a companhia Kora Saúde Participações S.A., um dos maiores grupos hospitalares do país, que possui sete hospitais no Espírito Santo, três no Ceará, dois no Tocantins e está presente ainda no Mato Grosso, Distrito Federal e Goiás. E, hoje, Victor Moreira, aos 34 anos, é o CEO da empresa.
Atualmente, os planos são de crescer ainda mais. “A gente está com um projeto gigante para o nosso estado. A ideia é que a gente mude a saúde do Estado do Ceará”, revelou.
Victor Moreira foi um dos palestrantes do Trends Experience – 3ª edição, realizada em junho deste ano. Ele compartilhou com os participantes do evento como, em nove anos, conseguiu sair do estado de quase falência para o de um dos jovens empresários mais bem-sucedidos do Brasil.
A Otoclínica foi fundada em 1991 pelo doutor Iramar, fruto de “um sonho grande”, segundo fez questão de destacar o palestrante. Isso porque para que o empreendimento virasse realidade, o médico precisou se desfazer do único bem da família, uma casa localizada em Caucaia, na Região Metropolitana de Fortaleza.
Com o dinheiro da venda, doutor Iramar comprou um terreno na Avenida Antônio Sales, na Aldeota, bairro nobre da capital cearense, contratou um arquiteto e disse-lhe: quero que você projete um hospital. “O cara deve ter pensado que o papai era doido, porque não tinha recurso para fazer uma casa, quem dirá um hospital”, comentou Victor. Mas fez.
Assim nasceu a Otoclínica. “Sonho de um médico que saiu de Caucaia, que sempre teve um espírito empreendedor, nos fez pensar grande e foi o meu mentor, de me colocar no dia-a-dia da organização”, disse Victor Moreira.
Dificuldades
A família passou por momentos difíceis. “A gente sabia que o mercado era complicado. O setor de saúde é muito regulado. Existe uma concentração de fonte pagadora”, comentou. Segundo ele, nos hospitais, geralmente, 95% das receitas estão concentrados em três a quatro clientes, que são as operadoras de saúde.
“Toda empresa familiar passa por um momento de crescimento e, muitas vezes, por insegurança. Quando foi por volta de 2012, a gente começa a crescer e percebe que a empresa vai ficando maior do que as nossas mãos. E resolve trazer profissionais do mercado para dentro dessa organização”.
“Foi quando passamos por um período, que foi a virada de chave do meu lado pessoal e profissional. Em 2013, passamos por um clima muito ruim. A gente entrou numa crise financeira gigante. Foi quando minha esposa me contou que estava grávida. De repente, eu me descobri casado, pai e quebrado. Foi um momento de desespero; muito complicado”, descreveu Victor.
Mas, como mar calmo não faz bom marinheiro, foi na dificuldade que Victor Moreira amadureceu pessoal e profissionalmente. “Sem esse momento, eu tenho certeza, a gente não estaria onde está”, afirmou.
Com os dados financeiros do hospital numa pasta, o empresário foi procurar ajuda de um especialista em São Paulo. “Um japonês. Eu nunca mais esqueço. Era um senhor. Ele virou a cabeça de um lado para o outro, fazendo sinal de negativo, e disse que a gente precisava vender a empresa a qualquer custo. Foi quando a família se reuniu, e eu pedi uma oportunidade”, disse.
Victor Moreira dedicou-se integralmente à empresa. “A gente passou por um processo de transformação. Lógico que a gente teve que contratar consultoria, além de fazer mudança dos gestores”, informou.
Um outro ensinamento que trouxe a crise, de acordo com Victor, foi o de que nem sempre a solução passa por cortar custos. “A gente aprende que custo é igual a unha. Tem que cortar e cortar. Mas chega a um ponto que não tem de onde tirar. Você tem que buscar receita”, destacou.
Inovação
“Custo é importante. Mas crescimento e inovação são mais ainda. Foi quando a gente percebeu que precisava trazer novos serviços, novos produtos e colocar novos pontos de atendimento; agregar e adquirir novas clínicas; trazer parcerias novas”.
Isso aconteceu em 2015. A partir daí, contou Victor Moreira, tudo começou a melhorar. Aconselhado por um professor do curso de especialização, ele contratou os serviços de uma consultoria externa.
Até aquele ano, a legislação brasileira não permitia o investimento de capital estrangeiro nos hospitais nacionais. Com o advento da Lei Federal nº 13.097, de 19 de janeiro de 2015, consolidou-se o entendimento de que a participação de capitais estrangeiros na assistência à saúde no Brasil passou a ser permitida, sem restrições.
Foi então que a família começou a expandir o negócio e quando começou a operação de fusão com a Kora Saúde. “Passamos dois anos negociando. E hoje eu me sinto muito orgulhoso de ter sido escolhido para fazer parte dessa consolidação junto com eles”, disse.
Em outubro de 2021, a Camburi Participações, subsidiária integral da Kora Saúde, celebrou um contrato de compra e venda de quotas e outras avenças para a aquisição de 80% da empresa Grupo OTO e formação de uma sociedade com acionistas fundadores do Grupo OTO na operação de todas as atividades da Companhia no Ceará.
Grupo OTO
Atualmente, o Grupo OTO é um dos maiores e mais tradicionais grupos hospitalares do Ceará, presente nos municípios de Fortaleza e Caucaia.
O Hospital Otoclinica Matriz conta com 194 leitos, sendo 44 leitos de UTI, 11 salas de cirurgia, hemodinâmica e parque completo de diagnósticos. Além do hospital, o grupo conta com um centro avançado com pronto atendimento, consultórios e hospital dia na Região Sul da cidade, 6 unidades de análises clínicas, 4 unidades de imagem.
O preço de aquisição de R$ 248 milhões ficou e ser pago da seguinte forma: R$ 140 milhões à vista, na data de fechamento; R$ 79 milhões a prazo ao longo dos próximos 6 anos; e R$ 29 milhões por meio de troca de ações das participações da Kora Saúde nos Hospitais Gastroclinica e Hospital São Mateus (ambos localizados em Fortaleza) que serão incorporados ao Grupo OTO no qual a Kora passou a deter 80% das ações e os acionistas fundadores do Grupo OTO os outros 20% de participação.
O fechamento da operação ficou sujeito ao cumprimento de certas condições precedentes usuais para operações da mesma natureza. O preço de aquisição, por sua vez, submeteu-se a ajuste com base na variação do endividamento líquido e capital de giro do Grupo OTO verificados na data de fechamento da transação.
Além da Otoclínica, a Kora Saúde concluiu 3 grandes aquisições em Fortaleza e criou o maior grupo hospitalar do Ceará, totalizando 449 leitos. A Companhia inaugurou sua presença no estado tornando-se líder de mercado e contando com uma operação que já nasceu robusta e pautada pela excelência médica, com hospitais referências em diversas especialidades.
O Grupo OTO, então, passou a ser composto pelo Hospital Otoclinica Matriz (194 leitos), Hospital São Mateus (150 leitos) e o Hospital Gastroclínica (105 leitos), além de unidades avançadas de pronto atendimento, unidades de análises clínicas e de imagem.
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