A indústria nacional avançou no uso de tecnologias digitais nos últimos cinco anos. Para acelerar o ganho de produtividade, de qualidade e de redução de custos, entretanto, terá que ampliar a adoção de maneira combinada de mais de uma tecnologia, ferramenta, sistema ou solução tecnológica para ser enquadrada no conceito mais amplo de indústria 4.0.
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Quem acompanha de perto esta realidade é a Confederação Nacional da Indústria (CNI). Sondagem Especial Indústria 4.0 feita junto a mais de mil empresas mostrou que, no levantamento de 2016, 48% das indústrias que participaram da pesquisa usavam alguma das 10 tecnologias digitais então disponíveis. Isso era menos da metade do universo pesquisado. Em 2021, o percentual subiu para 69%, desta vez considerando as 18 alternativas de tecnologias aplicadas a diferentes estágios da cadeia industrial.
Para a gerente de Política Industrial da CNI, Samantha Cunha, a falta de conhecimento das tecnologias pelas empresas ainda é um desafio que precisa ser vencido com o aumento da integração e da complementariedade dos novos métodos produtivos para garantir os benefícios da indústria 4.0”. Ela cita o custo da implementação como um dos maiores obstáculos apontados por 66% dos entrevistados, seguido (com 25% das respostas) pelo desconhecimento quanto ao retorno e, ainda, pela cultura da empresa. Samantha também inclui a falta de mão-de-obra qualificada como um entrave, além do despreparo de clientes e fornecedores para assumirem a tecnologia integral como uma necessidade.
O fato é que mesmo as indústrias mais modernas concentram a digitalização na melhoria de processos a partir do uso de mecanismos de controle. A utilização de sensores para identificação de produtos e condições operacionais/linhas flexíveis faz parte das rotinas de 27% das indústrias, segundo a CNI, mais do que triplicando a condição de 2016, quando era de 8%.
Outros métodos importantes para a customização e consequente diferenciação também marcam presença no chão de fábrica. É o caso da prototipagem rápida e impressão 3D, dentre outros, que passaram de 5% há cinco anos para 16%. Por outro lado, tecnologias de ponta que chegaram para ficar como inteligência artificial são ainda timidamente usadas por 4% das indústrias, da mesma forma que é baixa a utilização da inteligência artificial diretamente na fábrica (9%).
Indústria por setores
Enquanto o setor de veículos automotores, reboques e carrocerias com 35% e uso de 16 dos 18 métodos está no topo do ranking, as áreas impressão e reprodução de gravações (46%), couros e artefatos de couro (45%) e produtos de minerais não metálicos (44%) são os mais ausentes.
Para diagnosticar a maturidade digital da indústria brasileira, a CNI, juntamente com a Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial, desenvolve um projeto-piloto com 20 empresas de médio porte para desenhar projetos de planejamento estratégico, no qual o Senai é a entidade executora. Os primeiros resultados serão conhecidos já em 2023. Enquanto isso, a entidade conta com o Brasil Mais, em sua terceira fase, já com recomendações para uma maior adoção de tecnologias digitais que garantam a inovação permanente e continuada.
Inovação de produção e gestão
Quem concorda é a secretária executiva de Indústria da Secretaria de Desenvolvimento e Trabalho do Ceará (Sedet), Roseane Medeiros, para quem inovação hoje é a palavra mais utilizada em todos os fóruns de discussão de desenvolvimento econômico e produtividade. “Inovação não é relacionada apenas à inovação tecnológica ou a um ambiente digital, mas à inovação da gestão e da produção”, afirma ela, garantindo que a indústria cearense tem tentado se adequar a esse novo momento frente a um mundo global, onde a concorrência não se dá apenas no plano local. “Se não tivermos os olhos bem atentos às tendências mundiais de modernização, paulatinamente, seremos afastados”, alerta.
Diante de um consumidor que exige produtos e serviços melhores e mais baratos, a indústria tem que correr atrás de soluções em todas as áreas, a começar pela logística. “E a digitalização é uma das transformações necessárias, embora nem tudo deva ser digitalizado por modismo”, comenta a secretária Roseane. Ela entende que é preciso buscar melhoria no atendimento, na rapidez das entregas, na qualidade e nos preços.
“O Brasil é hoje bastante competitivo no agronegócio com condições excepcionais de sol o ano inteiro, fontes de água e com vasta área ainda a ser ocupada. O mesmo caminho pode ser seguido pela indústria“.
Roseana Medeiros, secretária executiva da Sedet
No Ceará, que tem ainda uma economia frágil e tradicional, o diferencial maior está na energia renovável, capaz de elevar o patamar na concorrência. Sobre isto, a secretária Roseane destaca o trabalho árduo com a descarbonização dentro de uma transição energética justa. “O Ceará reúne condições favoráveis à produção de amônia, dentro da estratégia do hub de hidrogênio verde, a ser exportada via marítima para a Europa, o que será facilitado pelo fato do Porto de Roterdã ser sócio do Complexo Industrial do Pecém”, garante ela, reafirmando a necessidade de a produção industrial ser cada vez mais qualificada.
Automação da indústria
Em artigo publicado por revistas especializadas, Vincenzo Salmeri, vice-presidente global de Commercial & Industrial (C&I) da Schneider Electric, registra que o segmento industrial brasileiro, que respondeu por 22,2% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2021, precisa da tecnologia como aliada para continuar crescendo. E cita a digitalização como ferramenta fundamental. O executivo alinha, pelo menos, seis fatores para a transformação digital de uma fábrica tradicional. São eles:
- A internet das coisas focada na indústria para conectar setores e processos o que permite detectar vulnerabilidades em tempo real e fornecer às empresas industriais tempo para resolvê-las rapidamente.
- Outra necessidade é a convergência da Tecnologia da Informação (TI) e Tecnologia Operacional (OT), formando uma rede de máquinas, sensores, dispositivos inteligentes e sistemas do chão de fábrica para uma instalação de TI dedicada, removendo as paredes que existiam com OT”, explica.
- Dentro da mesma visão de integração, a automação industrial universal que facilita a migração para novas tecnologias e, com isso, reduz os investimentos iniciais viabilizando a modernização para mais empresas.
- Com máquinas cada vez mais conectadas, as medidas de segurança cibernética podem reduzir vulnerabilidades e erros de codificação para proteger o aplicativo, dispositivo e sistema, melhorando a confiabilidade do software e do firmware.
- O compromisso com a cadeia de suprimentos apoia a jornada de modernização e incentiva a construção de um ecossistema corporativo baseado em Ambiental, Social e Governança (ESG).
- A adoção da tecnologia promove a sustentabilidade. Também ajuda as empresas a monitorar seu progresso e estabelecer métricas úteis, levando à assertividade e permitindo que investidores e consumidores acompanhem o andamento desse tema.