A energia solar, nos últimos dois anos, saiu praticamente do traço para ocupar hoje a terceira posição na matriz energética brasileira. A expectativa é que, nos próximos meses, ela deve ultrapassar a eólica. É o que prevê Ronaldo Koloszuk, presidente da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar), entidade nacional que reúne empresas de toda a cadeia do setor fotovoltaico com operações no Brasil.
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Ronaldo esteve semana passada em Fortaleza. Veio tratar com o presidente da Federação das Indústrias do Estado do Ceará (Fiec), Ricardo Cavalcante, do potencial econômico, social e ambiental dos projetos que usarão hidrogênio verde (H2V).
Como ele também é diretor da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), apresentou uma proposta de acordo de cooperação entre as duas entidades e a Absolar, com o objetivo de fomentar projetos com energia renovável para a produção de H2V.
“No ano que vem, a gente deve chegar a um milhão de empregos apenas em energia solar fotovoltaica. Isso acontece porque é uma tecnologia limpa, renovável e uma das mais baratas que se tem hoje”, disse Ronaldo. De acordo com ele, antes considerada cara, a energia solar ficou mais barata nos últimos anos. E, agora, ela virou uma forma de o consumidor reduzir, no bolso, o peso da conta de luz.
Em entrevista à TrendsCE, Ronaldo destacou o “papel relevante” que a região Nordeste terá para o crescimento da energia solar no País. “Aqui você tem sol abundante, uma vocação para as energias renováveis”, afirmou. O esforço que o Ceará tem feito para desenvolver o setor foi elogiado por ele.
“É um estado engajadíssimo. A gente vê um empenho muito forte da Fiec nesse sentido. Muito ativo de energias renováveis e um olhar para isso. Energia eólica, solar e, agora, com o hidrogênio verde”.
Segundo ele, o Ceará se coloca numa vocação para atrair investimentos de hidrogênio verde do mundo, que é uma forma limpa de energia e exportável. “É um horizonte para que o Brasil possa, em algumas décadas, se tornar a Arábia Saudita verde do mundo”, destacou.
Marco Regulatório de Geração Própria de Energia
Em janeiro deste ano, foi sancionada a lei que criou o marco legal da geração própria de energia, conhecida como geração distribuída. Com ela, quem faz uso, por exemplo, de painéis fotovoltaicos para energia solar, fica isento de tarifas pelo custo de distribuição – preço do fio – até 2045. O que, segundo Ronaldo, trouxe segurança jurídica para quem investe.
Por outro lado, as distribuidoras não conseguiram cumprir as obrigações estabelecidas pela lei, fato que acabaria por prejudicar, segundo Ronaldo, a população caso o marco entre em vigor a partir de janeiro próximo, como inicialmente previsto.
No dia 6 deste mês, a Câmara dos Deputados aprovou projeto de lei que aumenta em seis meses o prazo final para a instalação de micro geradores e minigeradores de energia fotovoltaica com isenção de taxas pelo uso da rede de distribuição para jogar a energia elétrica na rede.
“Agora está tramitando no Senado. A gente está tentando fazer com que ela seja votada ainda em 2022 para que sejam devolvidos seis meses que perdemos por conta desses atrasos. É uma devolução de prazo”, defendeu Ronaldo. De acordo com ele, a lei vai trazer um fôlego a mais para quem quiser colocar um sistema solar.
O texto aprovado é um substitutivo do relator, deputado Beto Pereira (PSDB-MS), para o Projeto de Lei 2703/22, do deputado Celso Russomanno (Republicanos-SP).
A isenção também valerá para as novas Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCH) com geração de até 30 MW e autorização outorgada a partir da vigência da futura lei. Haverá ainda necessidade de vínculo à unidade consumidora. Entretanto, o prazo para as PCHs será estendido por mais um ano e meio.
Atualmente, o prazo da Lei 14.300/22 acaba em 7 de janeiro de 2023. Assim, se o projeto virar lei, os micros e minigeradores, geralmente de energia fotovoltaica, terão até julho de 2023 para entrar com o pedido junto à distribuidora, enquanto as PCHs terão até julho de 2024.
Energia solar conta com mais de 100 linhas de financiamento
O presidente da Absolar informou que hoje, no Brasil, existem mais de 100 linhas de financiamento, em bancos públicos e nos privados. “Você consegue trocar o valor da sua conta de luz por um financiamento. Se não sai elas por elas, fica um pouco maior. Mas é uma forma de que quem não tem o recurso para colocar o sistema no telhado poder fazer financiado”, comentou.
Citando os grandes centros acadêmicos mundiais como fontes, Ronaldo estima que, em 20 anos, a energia no Brasil e no mundo, praticamente, fique de graça. Isso, segundo ele, por causa da energia solar.
“A energia solar vai pressionar para baixo o custo da energia. Vai ser algo como o wifi hoje. Você vai no estabelecimento, pede para usar. As pessoas normalmente deixam e não te cobram por isso. Não é de graça, mas é como se fosse”.
Entusiasta, Ronaldo prevê até maior oferta de água doce no planeta como consequência. “Hoje a água não é abundante no Brasil e no mundo, a água doce, vamos chamar assim, porque você tem um custo muito alto de energia para dessalinizar a água do mar. Com o custo da energia lá embaixo, por conta da energia solar, você vai resolver isso”, disse.
Evolução da Energia Solar no Nordeste
De acordo com a Absolar, há pouco mais de dez anos, a geração distribuída solar não existia como negócio regulado no Brasil. Atualmente, segundo mapeamento da entidade, o Nordeste terminou o primeiro semestre de 2022 com 233 mil sistemas fotovoltaicos de pequeno e médio portes instalados, fornecendo energia elétrica limpa, renovável e competitiva para 319 mil unidades consumidoras. Com isso, somou o equivalente a 2,5 gigawatts (GW) de potência operacional, ficando atrás apenas da região Sudeste.
O estado com maior capacidade instalada na região Nordeste é a Bahia. No primeiro semestre, ela contava com 487 megawatts (MW), sendo a oitava colocada no ranking nacional, mas já em setembro, subiu para o sétimo lugar, com 546,3 MW.