Quarto maior produtor e segundo exportador de grãos, sendo o primeiro em soja, o Brasil pode superar os grandes players mundiais também com outras culturas. E por uma razão simples: o país conta com ingredientes básicos para subir no ranking global de produção de alimentos. Enquanto o mundo enfrenta escassez de terras, o Brasil ainda dispõe de extensas áreas agricultáveis e, mesmo assim, vem crescendo mais pela via da produtividade. Também conta com tecnologia de ponta, água e competência, uma combinação perfeita para continuar avançando a passos largos.
O Brasil continua na quarta posição na produção mundial de grãos (arroz, cevada, milho, soja e trigo). Estudo recente realizado pela Embrapa, O Agro no Brasil e no Mundo, edição 2022, indica que o país alcançou uma produção de 250 milhões de toneladas em 2021. Os Estados Unidos e a China são os grandes líderes, seguidos da Índia e do Brasil. A previsão para 2023 é de que o Brasil supere a Índia para se tornar o terceiro produtor mundial.
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Quando o assunto é soja, de acordo com as projeções, o país segue na liderança, respondendo por mais de um terço da produção mundial. Foram 131 milhões de toneladas produzidas em 2021. Ao mesmo tempo, é o maior exportador do grão, com 91 milhões de toneladas (50% do comércio mundial) e um faturamento de 31 bilhões de dólares. “Tanto a produção interna quanto as exportações de soja estão altamente concentradas em três países: Brasil, Estados Unidos e Argentina”, explica o pesquisador Elísio Contini, um dos autores do estudo em parceria com o físico Adalberto Aragão e com apoio técnico da analista Giani Tavares.
Na produção de milho, o Brasil consolida-se como o terceiro grande produtor, com 105 milhões de toneladas em 2021, atrás apenas dos Estados Unidos e da China. Nas exportações, o país somou 39 milhões de toneladas, com um faturamento de US$ 5,9 bilhões, um pouco abaixo dos US$ 6,0 bilhões registrado em 2020, quando foram embarcadas 38 milhões de toneladas de milho.
Queridinho dos brasileiros, o arroz, importante alimento no mundo, notadamente da Ásia, não tem sua produção aumentada de maneira relevante nos últimos 20 anos. O Brasil ocupa tão somente a 9ª posição mundial, consumindo internamente 98% do que produz. O destaque entre os exportadores fica com a Índia e com a Tailândia, que respondem por metade do mercado internacional.
“O Brasil pode reduzir a dependência de importação da cevada utilizada na fabricação de cerveja e há oportunidades a partir do Sul do País, como cultura de inverno e do Centro-Oeste, via irrigação”.
Elísio Contini, pesquisador
Ele lembra que o Brasil comprou US$ 2,4 bilhões em cevada de 2000 a 2021, ocupando a 46ª posição na produção mundial, liderada pela Rússia, França, Alemanha e Austrália.
Em se tratando de trigo, o pesquisador entende que “se conseguirmos produzir o suficiente para o mercado interno já será um grande feito”. O Brasil consome em torno de 12 milhões e produz 5 a 7 milhões de toneladas, devendo fechar 2022 com 9,3 milhões de toneladas. O desafio é alcançar entre 10 e 15 milhões em até 10 anos. Metade da produção está concentrada no grupo integrado por China, Índia, Rússia e EUA. O mesmo vale para o feijão, mais consumido internamente, e que enfrenta elevados picos de preços pelas elevações de custos.
Embora seja o maior exportador mundial de carne bovina, com participação de 15,3% em 2021, e o maior rebanho do mundo com 218 milhões de cabeças, o Brasil é o terceiro em faturamento em dólares, perdendo para a Austrália e Estados Unidos. Para corrigir esta distorção e agregar valor, o pesquisador da Embrapa diz que é preciso promover avanços em toda a cadeia de produção, começando na área de pesquisa, passando por aspectos sanitários e alcançando o processamento final.
Elísio Contini lembra que a grande revolução foi a carne de frango, que se tornou viável para todas as classes de renda, conquista ameaçada pela duplicação dos custos do milho e da soja. A saída tem sido a exportação de frango, onde o Brasil lidera na 3ª posição somando a carne bovina e suína. O nicho a ser explorado é a carne de ovelha para públicos diferenciados. E o pescado é outro grande desafio para o Brasil, dono de uma imensa costa marítima, além de rios em abundância internamente.
Para o pesquisador, que acompanha o setor há 45 anos, “se o Brasil não fizer besteiras, o futuro do agro verde-amarelo é promissor”, sentencia ele, referindo-se, entre outras, a questões de equilíbrio ambiental. Sim, é possível produzir mais e melhor, passando das 300 milhões de toneladas e perseguindo a meta de 500 milhões em uma década. Uma tarefa possível, segundo ele, para um país que passou de uma exportação de US$ 20 bilhões em 2000 para US$ 130 a 140 bilhões neste ano de 2022.
Quem se associa a este otimismo é a diretora deRelações Internacionais da Confederação Nacional da Agricultura (CNA), Sueme Mori, lembrando que já em outubro as exportações agropecuárias ultrapassaram 2021 em valores e em volumes, o que reforça o alcance da meta de exportar US$ 160 bilhões em 2022. O destino, notadamente, continua para o Chile, União Europeia e Estados Unidos. “A boa notícia é que os principais clientes do Brasil compraram mais especialmente soja, proteína animal e milho, com crescimento de mais de 200% nas transações”.
“Contabilizamos mais 49 aberturas de mercado com destaque para o milho para a China e carne bovina para o Canadá”, informa Sueme Mori, acrescentando que também foi concluída a primeira negociação do Mercosul com países da Ásia (Singapura), o que é excelente, porque é a região do sudeste asiático potencialmente mais compradora.
Para 2023, a CNA prevê uma desaceleração da economia global, o que afeta o agronegócio, apesar de mais resiliente. A Organização Mundial do Comércio (OMC) prevê um crescimento de apenas 1%, bem abaixo dos mais de 3% projetados no início do ano. Também são consideradas as medidas protecionistas das principais economias, agora com argumentos mais ambientais, caso da União Europeia, Reino Unido e EUA. Este é o cenário. Quem se adequar está no jogo.
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