O mundo enfrenta uma crise energética que levou vários países a adotarem medidas de emergência, com políticas de redução de consumo e busca de novos parceiros estratégicos. Pensando nisso, a TrendsCE trouxe, na 4ª edição do Trends Experience, o tema “Tendências energéticas para 2023: desafios e oportunidades”, para debater sobre o futuro da produção, utilização e exportação de energias limpas no Brasil e no mundo. O evento reuniu executivos, empresários e gestores C-levels, no dia 1º de dezembro, no Vasto Restaurante, em Fortaleza/CE.
Quer receber os conteúdos da TrendsCE no seu smartphone?
Acesse o nosso Whatsapp e dê um oi para a gente.
O palestrante foi Luiz Augusto Barroso, diretor-presidente da PSR – especializada em soluções e consultoria em energia -, e ex-presidente da EPE – Empresa de Pesquisas Energéticas, do Ministério de Minas e Energia.
De acordo com ele, o principal fator na competitividade do hidrogênio verde brasileiro será o baixo custo. Isso porque o país possui uma liderança muito grande na área de energia renovável. E ele citou o Ceará como um estado dedestaque, por ter um recurso bom.
“O que é um recurso bom? Na Europa, o melhor recurso eólico possui um fator de capacidade na ordem de 25% a 27%, quando instalado em terra. No Brasil, esse mesmo número é da ordem de 48% a 52%. Quando a gente vai para a produção da eólica no mar, o melhor recurso europeu tem fator de capacidade da ordem de 45% a 48%. E, no Brasil, esse número é superior a 60%”.
“Isso faz com que um bom recurso produza mais megawatt/hora para o mesmo vento e um menor custo de energia para o mesmo investimento. Ou seja, o recurso energia elétrica e a competitividade econômica do mesmo, sem dúvida, é o primeiro fator que diferenciaria o Brasil, a Região Nordeste, e, especificamente, o Ceará dos demais competidores”, apontou.
Barroso aproveitou a vinda ao Ceará para conhecer a estrutura do Complexo do Pecém, localizado entre os municípios de Caucaia e São Gonçalo do Amarante, a 60 quilômetros de Fortaleza.
Na avaliação do especialista, a infraestrutura de transporte de energia, transmissão e a infraestrutura portuária, que serve de amparo a construção de atividades offshore, serão alavancadores para a aceleração da competitividadedo hidrogênio.Isso porque, segundo ele, essa questão vai muito além de apenas produzir hidrogênio. Ou seja, é todo o processo de produção, do transporte, dos produtos derivados e de toda a cadeia que vai se instalar ao redor. “E, para isso, a estrutura do Estado do Ceará, do Porto do Pecém, sem dúvida, é a estrutura líder hoje no Brasil e tem tudo para continuar sendo nos próximos anos”, comentou.
“O Porto do Pecém tem características espetaculares. Geográficas e físicas, e, também, pela sua localização: na esquina do Atlântico, perto de recursos renováveis em volume e escala acessíveis”.
Outro ponto positivo destacado por ele é que o Ceará vem, ao longo dos últimos anos, fazendo o dever de casa. Ou seja, tem buscado aumentar a escala e a eficiência das operações do Porto, criando sinergia com grupos industriais e transformando a região em um grande complexo industrial eenergético, com a visão de se transformar em um hub exportador de produtos de baixo carbono, onde o hidrogênio verde tem tudo para ser um grande protagonista.
“Todas essas iniciativas, elas estão sendo feitas com um enfoque de muita visão de crescimento e inserção do Porto na economia de baixo carbono”, disse Barroso, ressaltando o esforço pelo aumento da eficiência operacional, isto é, de entregar resultados aos seus clientes a baixo custo.
O papel desempenhado pelo governo cearense, dentro do processo, também impressionou o especialista. Ele apontou a criação da Zona de Processamento de Exportação (ZPE) como um diferencial competitivo e destacou a parceria com o Porto de Roterdã, na Holanda. “Esse movimento coloca o Pecém numa rota internacional, conectado com um porto de extrema relevância para o mercado europeu e global”, afirmou Barroso.
O especialista afirmou que todos esses elementos (geográficos, físicos, comerciais e a pareceria com Roterdã) são fatores diferenciais para a atuação do Pecém no mercado nacional e também no internacional. “A turma está de parabéns. Pecém tem tudo para ser um grande líder da nova economia de baixo carbono e produtos com valor agregado ambientais”.
Sérgio Araújo, coordenador de Empreendimentos Industriais e Estruturantes da Secretaria do Desenvolvimento Econômico e Trabalho (Sedet), informou que, em 2023, o projeto da EDP para produção de hidrogênio verde começará a ser viabilizado. Ele disse que ainda é um “ensaio”, algo pequeno diante do que o Ceará vai produzir. “Mas o hidrogênio verde vai começar a ser produzido”, garantiu.
O investimento, de R$ 41,9 milhões, contempla uma usina solar com capacidade de 3 MW e um módulo eletrolisador de última geração para produção do combustível com garantia de origem renovável. A unidade modular terá capacidade de produzir 250 Nm3/h do gás. Na sequência, informa Araújo, vamos seguir para produção de energia offshore, que são os outros memorandos de entendimento.
“Nós temos dois grandes blocos de memorandos. Um para o offshore e outro para o hidrogênio verde. O do offshore precisa chegar primeiro para a produção dessas pás, dessas máquinas aqui no nosso Estado. No mundo, são poucos os lugares que são produzidas máquinas de dez, doze, quinze megawatts. Dentro do Brasil, talvez, vamos ter dois ou três locais de produção desses equipamentos”, explicou.
“Para 2023, na parte de atração, nós estamos com muitos projetos. O que nós precisamos nesse momento é dar uma atenção especial a essas empresas para que não seja apenas assinado memorando, mas para implantação desses empreendimentos. A atração ela foi feita nesses anos de 2020, 21 e 22. Agora, nós temos que avançar na implantação desses projetos”.
Jurandir Picanço, consultor de energia da Federação das Indústrias do Estado do Ceará (Fiec), avalia que ainda vai levar uns três ou quatro anos para que a primeira usina offshore de grande porte seja instalada no Ceará. Mas ele não descarta a instalação de uma usina piloto em prazo mais curto. De acordo com ele, o potencial de energia eólica offshore é muito maior que o nosso potencial onshore. É uma tecnologia que está em um desenvolvimento muito grande.
Picanço destaca que essa nova forma de energia será uma nova riqueza para o Ceará, um novo segmento econômico. “Então, é muito importante que se viabilize o desenvolvimento da geração eólica offshore no Brasil, porque não existe ainda no País. E o Ceará, com certeza, vai ser um dos locais mais beneficiados, porque estamos na ponta no que diz respeito ao hidrogênio verde”, afirmou.
O consultor da Fiec disse que o Brasil é um dos países com maior produção de energia renovável. E citou a energia hidrelétrica, que já é extensamente explorada, e o “potencial gigantesco” de energia eólica onshore, energia eólica offshore, energia solar fotovoltaica e biomassa. “Poucos países dispõem de tanto potencial”, comentou.
“Estudos feitos por entidades internacionais de muito respeito, eu cito a Bloomberg, e a Irena (Agência Internacional de Energia Renovável), identificaram o Brasil como sendo o país mais competitivo para a produção de hidrogênio verde. E essa característica é em função da energia renovável no Nordeste, porque nós temos energia solar em abundância, de qualidade, e temos energia eólica em abundância e de qualidade. A composição das duas formas de energia que hoje são as mais competitivas”.
Ele confirmou que o custo de produção do hidrogênio verde no Brasil será o mais baixo do mundo devido à qualidade da energia renovável. “Porque se você tem uma energia eólica em que os ventos são constantes, são unidirecionais, você pode produzir energia com um custo mais barato. Uma torre eólica instalada aqui no Ceará e uma torre eólica instalada na Europa, a mesma torre, a daqui produz mais”, comparou.
Empresas reduzem gastos com uso de energias limpas