Do tradicional balcão de vendas de remédios a centros de promoção de saúde. Este é o varejo farmacêutico brasileiro redesenhado, que transcendeu seu ultrapassado papel de combate à doenças para chegar à missão de educar e prevenir enfermidades como provedor de conhecimento e de serviços de primeira assistência à saúde,tendo como aliadas atecnologia e a inovação. O Ceará está entre os Estados na vanguarda do tema, com o hub da saúde da rede de farmácias Pague Menos e Extrafarma.
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A história do varejo farmacêutico pode ser melhor entendida pelo corte do antes e depois de 2014. Com a publicação da Lei 13.021 de agosto daquele ano, a definição de farmácia passou à “unidade de prestação de serviços destinada a dar assistência farmacêutica, assistência à saúde e orientação sanitária individual e coletiva”.
Foi o sinal verde para a ampliação do mix de produtos regulados pela Vigilância Sanitária, abrindo espaço para a implantação de consultórios farmacêuticos nas unidades de saúde desta farmácia do futuro. “O Ministério da Saúde, através do Departamento de Assistência às Farmácias, promoveu a rediscussão de toda a assistência farmacêutica nas redes de atenção à saúde”, explica Rafael Espinhel, presidente executivo da Associação Brasileira do Comércio Farmacêutico (ABCFarma), lembrando que a pandemia fortaleceu o varejo farmacêutico como hub de saúde. Os serviços nas farmácias cresceram 504% entre 2020 e 2021 e apontam para um potencial ainda maior de crescimento.
O movimento, que se consolidou em 2021, buscou inspiração nas drugstores norte-americanas e nas farmácias canadenses e inglesas, que contam com clínicas para atendimento básico de saúde e encaminhamento aos médicos especializados.
“A população brasileira tem, nas farmácias, um ponto estratégico para ampliar seu acesso à saúde e possibilitar a continuidade do tratamento clínico, reduzindo a pressão sobre o sistema público de saúde”.
E a capilaridade do setor é bastante favorável a este novo papel. Afinal, trata-se de um universo de aproximadamente 90.000 farmácias, localizadas em 99% dos municípios do país. E não envolvem apenas redes. As farmácias independentes (micro e pequenas empresas) correspondem a 60% dos estabelecimentos ativos. Diante desta realidade, o presidente da ABCFarma não tem dúvidas de que “é necessário que barreiras regulatórias que inviabilizem a implementação pelas pequenas farmácias sejam profundamente analisadas, sem descuidar de assegurar a tutela à saúde da população e o afastamento dos riscos sanitários”, complementa. E lembra que o novo modelo deverá ser ainda mais potencializado com a revisão em curso, pela Anvisa, da norma que regula os serviços farmacêuticos nas farmácias – RDC Anvisa 44/09.
Conforme a ABCFarma, apenas cinco Estados respondem por 67% do volume dos serviços farmacêuticos realizados no país no último ano. Com percentual menor também se destacam Minas Gerais, Bahia, Pernambuco, Maranhão e Santa Catarina.
A rede cearense Pague Menos, integrada por 1.600 farmácias em todo o País, é uma das que, pioneiramente, seguiu o caminho da agregação de serviços e de conteúdos. Trata-se de uma estratégia iniciada em 1998, mas intensificada pela acelerada digitalização impulsionada pela pandemia da Covid-19. “Convém lembrar que 70% dos brasileiros não têm um plano de assistência médica”, comenta a gerente executiva do Hub de Saúde da Pague Menos, Socorro Simões, fato que dimensiona o espaço ainda a ser ocupado pelas farmácias.
A Pague Menos já está no cenário de farmácia do futuro traçado por grandes consultorias como McKinsey, JP Morgan, Gartner, Deloitte e Journal of the American Pharmacists, que oferece programas preventivos de saúde e bem-estar e onde o farmacêutico ganha papel de conselheiro e orientador, sempre encaminhando para médicos especialistas, quando for o caso. E tudo se dá por omnicanal, que é a integração entre os variados canais de contato com o cliente (lojas físicas, aplicativos, redes sociais, e-commerce e site institucional).
Além da plataforma do omnicanal, a Pague Menos e a Extrafarma têm 1.600 lojas em 382 municípios e mais de 25 mil colaboradores. A rede já conta com mais de 1.000 unidades do Clinic Farma em todas as regiões do País. São consultórios farmacêuticos que oferecem cerca de 60 serviços de saúde para encurtar a jornada do cliente no atendimento à atenção primária, como teleinterconsultas, testes laboratoriais remotos, aplicação de vacinas e acompanhamento de doenças crônicas, como diabetes e hipertensão. “Conseguimos encurtar de dias para horas o atendimento na atenção primária, que é nosso objetivo, porque o diagnóstico quem dá é o médico”, garante Socorro.
A Rede Pague Menos aposta também na plataforma de conteúdos totalmente digitalizada, disponibilizando informação e conhecimento através de podcast de saúde com especialistas e formadores de opinião. “Temos fé de que a consciência para a saúde vem do conhecimento e da educação”, ilustra.
Nessa linha, a empresa tem investido nos canais digitais para se aproximar dos clientes com a digitalização total da Plataforma Sempre Bem, no ar há 14 anos, oferecendo conteúdos mais aprofundados e repletos de informações educacionais, prezando pela promoção da saúde e bem-estar. Somente no canal de YouTube são 193 mil inscritos e no Instagram são 557 mil seguidores.
A força dos canais digitais da Pague Menos levou a empresa a registrar R$ 248 milhões em receita apenas no e-commerce durante a campanha da Black Friday no ano passado e conquistou mais de 8 milhões de novos usuários em 2021. A empresa também lançou 16 e-books por sua plataforma de conteúdo, Sempre Bem, e alcançou mais de 5 milhões de usuários só no Facebook entre janeiro e dezembro de 2021.
No Sul do Brasil, a Rede Panvel (60 anos e 540 lojas) também vem investindo na diversificação dos serviços de saúde,facilitando o acesso das pessoasa exames, vacinação e testes preventivos.A redefechou 2022 com 350 lojas Clinic e 95 salas de vacinas no Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná e São Paulo, disponibilizando vários tipos de testes. De acordo com o IQVIA Brasil, a marca respondeu por 44% do market share em vacinação e por 32% em testagem. Os dados consolidam a atuação da Panvel Clinic e reforçam a posição da rede como um hub de saúde, disponibilizando serviços em todas as plataformas.
Nos últimos anos, a Panvel vem investindo na diversificação dos serviços de saúde com a proposta de facilitar o acesso das pessoas a exames, vacinação e testes de caráter preventivo. Hoje, as lojas Clinic disponibilizam mais de 15 tipos de testes à população, tais como alergia, doenças respiratórias, hormonais, marcadores tumorais e infecções sexualmente transmissíveis.
Confiante de que o varejo farmacêutico manterá seu crescimento anual na ordem de 10% ao ano, a Farma Ventures,uma corporate venture builder, nasceu em março de 2020 como primeira venture builder da multinacional FCJ. É fruto da união das redes Drogal e Indiana, ambas com 87 anos, e da boutique de investimentos Top Capital. “Nosso negócio é conectar as soluções disruptivas das startups carentes de parceiros financeiros com a necessidade do varejista no ataque às suas dores cotidianas”, explica o diretor de Operações, Giovanni Oliveira.
Em pouco mais de dois anos, a aceleradora já impulsionou o crescimento de oito startups dedicadas à saúde. A meta é chegar a 15 até março e a 20 em agosto de 2023. “Nosso propósito é construir conexões entre empresas que acreditam em um futuro inovador, focado no cuidado e no bem-estar humanos”, comenta.
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