Eles trabalham para grandes empresas, são autônomos, empresários ou freelancers. Estão na faixa dos 24 a 35 anos. São casados e sem filhos. Possuem curso superior e pertencem à classe média. Este é o perfil dos nômades digitais. De olho nesse nicho, o Ceará está se preparando para entrar na rota desses profissionais.
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A transformação digital é um dos motores da economia da América Latina. Um estudo do IDC Latin America (Latam), publicado em 2020, indica que o mercado latino-americano de data centers alcançará um investimento de 780 bilhões de dólares até 2026.
De acordo com levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), feito também em 2020, o Brasil conta com 7,3 milhões de profissionais com este perfil, que precisam apenas de internet para desenvolver seu trabalho: receber as demandas online, e fazer as entregas da mesma forma. No Ceará, ainda segundo o IBGE, são 204 mil cearenses trabalhando remotamente.
Como não precisam dar expediente em escritório físico, saem migrando pelo mundo. De acordo com estudo feito pela Secretaria do Desenvolvimento Econômico e Trabalho do Estado do Ceará (Sedet-CE), entre os critérios estabelecidos para a escolha do lugar onde decidem encostar a mochila e o notebook estão o custo de vida, segurança, velocidade da internet, atividades turísticas, atividade noturna, e, claro, local para trabalhar.
Júlio Cavalcante Neto, secretário executivo de Comércio, Serviços e Inovação da Sedet-CE, diz que o Ceará está pronto para receber os nômades digitais. O principal atrativo é o fato de Fortaleza possuir um dos principais hub de cabos submarinos de fibra óptica do mundo.
“A gente tem focado em melhorar a geração de oportunidades no estado, inclusive, com distribuição da renda para a população. E essa é uma atividade que tem um salário médio mais alto e pode aquecer mais a economia”.
Júlio Cavalcante Neto, secretário executivo da Sedet-CE
O projeto Nômades Digitais foi desenvolvido pela Sedet-CE em parceria com o Sebrae-CE e as secretarias estaduais de Turismo e Cidades.
O estado conta com um cinturão digital com mais de 140 mil quilômetros de fibra óptica. De acordo com a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), é o quarto melhor percentual de acesso do País, ficando atrás apenas de Roraima, Amapá e Piauí. E é a segunda maior velocidade média de conexão do Nordeste, perdendo apenas para o Piauí. Ainda conforme a Anatel, o Ceará tem maior percentual de municípios com mais de 75% das conexões feitas via fibra óptica.
“Além da velocidade ser muito boa, nós nos conectamos com 16 cabos submarinos, sendo o segundo maior entroncamento de cabos submarinos do mundo inteiro”, destaca Júlio Cavalcante Neto.
Outro atrativo é o empenho do governo local para fortalecer o hub tecnológico por meio de internet gratuita e de qualidade em espaços públicos nos 184 municípios cearenses. No ranking de 2021 de cidades inteligentes, Fortaleza ficou em terceiro lugar geral e em primeiro entre as capitais com mais de 1 milhão de habitantes.
A localização geográfica privilegiada, próximo aos grandes centros internacionais, com ligações para os países do Mercosul, América Central e Caribe, Europa e África, faz do Ceará um local propício para a atividade.
Fortaleza, inclusive, é a cidade brasileira com maior crescimento (68%) de ofertas de voos domésticos e internacionais entre as metrópoles brasileiras. Em 2019, antes da pandemia da Covid-19, o Aeroporto de Fortaleza registrava 7.211.701 passageiros no aeroporto de Fortaleza, entre chegadas e partidas, sendo 6.654.594 voos domésticos e 557.107 voos internacionais, segundo levantamento da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac).
Durante a pandemia, nômades digitais procuraram o litoral cearense para exercerem suas atividades profissionais. Muitos dos quais são amantes do kitesurf, que vieram atraídos pelo sol e pelos ventos fortes. É a chamada Rota dos Ventos, formada por Acaraú e Itarema (Litoral Norte); Amontada e Itapipoca (Litoral Oeste); e Caucaia, Paraipaba, Paracuru, São Gonçalo do Amarante e Trairi (Grande Fortaleza).
Com a intensificação do trabalho remoto provocada no período pandêmico, a procura por lugares agradáveis, próximo à natureza, virou uma questão recorrente. “Esse público que, muitos deles são empreendedores da área de tecnologia, tem um consumo alto, que vai a restaurantes, ocupa a rede hoteleira. Enfim, é toda uma infraestrutura que vai melhorar a geração de riqueza do estado”, acredita o executivo da Sedet-CE.
Ricardo Ferreira Vicente, de 42 anos, tem uma empresa de Tecnologia da Informação (TI) e é praticante de kitesurf. Ele se considera “um dos primeiros nômades digitais“. Diz que está nesta vida há, pelo menos, uns 10 anos. Natural do Rio de Janeiro, veio ao Ceará trabalhar em um projeto que durou cerca de um ano e meio. Gostou de Fortaleza, da praia e, mais ainda, do custo de vida da cidade. Então, mesmo depois de concluído o projeto, esticou a estadia em terras cearenses. Mas isso não o impediu de seguir viajando. No Brasil, já conhece todos os estados. No mundo, perdeu a conta dos países que visitou. Tem por hábito passar três a quatro meses em cada lugar.
Para quem está em dúvida se deve ou não optar por ser nômade digital, Ricardo recomenda avaliar o local para onde se deseja ir. O custo de vida cearense foi preponderante para ele. “Para a atividade que eu exerço, o piso lá do Rio de Janeiro é maior que o cearense. Para eu ter o padrão de vida que tenho aqui, por exemplo, lá no Rio, eu teria que receber lá umas três vezes mais”, compara.
A ideia, de acordo com o projeto, é ampliar o potencial de atração de pessoas como Ricardo, estabelecendo parcerias com a iniciativa privada. Para isso, foi criada uma plataforma digital (http://digitalnomads.ce.gov.br/home), onde constam formulários para cadastro de municípios, infraestruturas, serviços e estabelecimentos; selo para os estabelecimentos parceiros; mapa com municípios cadastrados e estabelecimentos com selo de parceiro; além de cadastro para os nômades digitais interessados em conhecer o Ceará.
Para obter a certificação, os municípios precisarão atender a alguns critérios, sendo o principal deles internet a partir de 30 Mbps para ofertar livre acesso aos clientes. No cadastro, deverão informar os serviços oferecidos para turistas e/ou estrangeiros, e para empresários, assim como também serviços públicos essenciais de uso possível por turistas e estrangeiros (Delegacias, Hospitais, Unidades de Pronto Atendimento, Transporte de Público, entre outros); os principais pontos turísticos da cidade, espaços culturais e de lazer.
Os estabelecimentos de hospedagem que quiserem participar também terão que atender a algumas exigências. Por exemplo, só receberão o selo de nômade digital, os hotéis que oferecerem serviços essenciais, tais como lavanderia e limpeza, restaurante, cafeteria, bares, etc.; contarem com espaços de trabalho e para reuniões, podendo ser no próprio quarto, em áreas exclusivas ou áreas comuns de trabalho – coworking; e estabelecerem tarifa especial para permanência a partir de 15 dias.
Já os hostels, além da tarifa especial para permanência superior a 15 dias e espaços de trabalho, deverão ter área de convivência comum (salas com tv, de leitura) ou espaços compartilhados (lavanderia, cozinha, etc.).
Para serem certificados com o selo, shoppings, restaurantes e cafés precisarão contar com espaço para trabalho (mesas, ilhas de trabalho). E os donos desses estabelecimentos precisarão ter em mente que essas pessoas estão ali para trabalhar e, eventualmente, consumir.
Natasha Marina Melo Grzybowski, coordenadora de Promoção de Negócios na área de Comércio, Serviços e Inovação da Sedet-CE, diz que o objetivo é atrair nômades digitais brasileiros e estrangeiros. “São cargos que te permitem atuar em home office. Portanto, exigem uma qualificação maior”, diz.
Recentemente, o Brasil liberou vistos para esses profissionais. “O estrangeiro que quiser vir aqui e comprovar que tem um trabalho, tem suas rendas, consegue viver trabalhando remotamente, ele pode ficar mais do que os três meses previstos para turistas”, informa Natasha.
Silvio Moreira, analista da Unidade de Competitividade dos Negócios e gestor estadual de turismo do Sebrae/CE, afirma ser uma tendência mundial pessoas, que trabalham de forma remota, aproveitarem a possibilidade para conhecer lugares novos. De acordo com ele, o Sebrae/CE vai atuar como parceiro junto aos empresários. “O projeto hoje tem dois desafios. O primeiro deles é povoar a plataforma, desenvolvida pelo governo do Estado, com serviços, oferta de produtos turísticos, empresas, hotéis, restaurantes, agências de viagem. O outro é promover, de fato, essa plataforma para que o nômade digital, independente de onde ele esteja, possa ter acesso a essas informações em um ambiente único. E isso vai facilitar a decisão dele”, diz.
Na avaliação de Silvio Moreira, essa é uma excelente oportunidade. Um nicho de mercado, que pode ter um grande potencial se bem trabalhado e bem promovido. Ele cita como vantagem para os empresários o fato de, com o projeto, eles terem demanda em épocas do ano onde, naturalmente, existe uma baixa procura. “Ele tem aí um cliente que pode ficar durante um período maior”, comenta. “A tendência é que tenhamos um turista passando mais tempo numa região e, claro, consumindo mais em períodos do ano, onde existe uma sazonalidade maior para a atividade turística”, destaca.
A Resolução 45 do Conselho Nacional de Imigração do Ministério da Justiça, publicada em janeiro de 2022, trata sobre a concessão de visto temporário e de autorização de residência para imigrante, sem vínculo empregatício no Brasil, cuja atividade profissional possa ser realizada de forma remota, denominado “nômade digital”.
Definição de nômade digital – o imigrante que, de forma remota e com a utilização de tecnologias da informação e de comunicação, seja capaz de executar no Brasil suas atividades laborais para empregador estrangeiro.
Tipo de visto: Visto temporário, solicitação online.
Duração máxima: 1 ano, renovável por mais um ano.
Requisitos para solicitação de visto: comprovação de meios de subsistência, provenientes de fonte pagadora estrangeira, em montante mensal igual ou superior a US$ 1.500,00 (mil e quinhentos dólares) ou disponibilidade de fundos bancários no valor mínimo de US$ 18.000,00 (dezoito mil dólares).
Para solicitar o visto, o interessado deverá apresentar à autoridade consular os seguintes documentos, dentre outros que possam vir a ser exigidos pelas autoridades brasileiras:
• Documento de viagem válido ou outro documento que comprove a sua identidade e a sua nacionalidade, nos termos dos tratados de que o País seja parte;
• Seguro de saúde válido no território nacional;
• Comprovante de pagamento de emolumentos consulares;
• Formulário de solicitação de visto preenchido;
• Comprovante de meio de transporte de entrada no território nacional;
• Atestado de antecedentes criminais expedido pelo país de origem ou, a critério da autoridade consular e de acordo com as peculiaridades do país onde o visto foi solicitado, documento equivalente; e
• Documentos que comprovem a condição de nômade digital.
Vantagens fiscais: residência fiscal apenas após 183 dias.
Requisitos de entrada: teste antígeno para COVID-19 negativo com amostra colhida até 24h antes da entrada ou teste PCR COVID-19 negativo com amostra colhida até 72h antes da chegada. Além disso, é preciso ser totalmente vacinado e fornecer prova de vacinação. Brasileiros e estrangeiros já residentes no Brasil não precisam ser totalmente vacinados e há outras exceções à regra. Os imigrantes isentos de vacinação devem ficar em quarentena por 14 dias, podendo encerrá-la no 5o dia com um teste negativo.
Fonte: Ministério da Justiça e Segurança Pública
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