Os desafios da economia brasileira em 2023 – e nos anos subsequentes – são muitos e decorrem de vários fatores. Dentre eles, a inflação alta, juros elevados e o desarranjo das contas públicas. Tudo isso aliado também a elementos externos, como a guerra entre Ucrânia e Rússia, juros altos nas principais economias mundiais, que também vivem o sério problema de inflação. Consequência: menor crescimento da economia em todo mundo. Diante de tudo isso, claro, o Ceará não está imune.
Quer receber os conteúdos da TrendsCE no seu smartphone?
Acesse o nosso Whatsapp e dê um oi para a gente.
Mas, apesar do quadro, o otimismo de crescimento econômico está presente nos que governam, tanto nas esferas federal e estadual, bem como entre os economistas, que apontam propostas de como reverter o atual quadro, vencendo os desafios. A sustentabilidade econômica e a fiscal são preocupações do governo federal e do cearense. O Ceará é exemplo de equilíbrio para os demais Estados. Fato que, por si só, já é muito positivo e pode alavancar aos poucos a economia e propiciar investimentos.
O ministro Fernando Haddad, por exemplo, anunciou, na sua cerimônia de posse, no último dia 02, uma das suas principais intenções: enviar ao Congresso Nacional, ainda no primeiro semestre, a proposta de uma nova âncora fiscal que organize as contas públicas, que seja confiável e, principalmente, respeitada e cumprida. “Não existe política fiscal ou monetária isoladamente. O que existe é política econômica que precisa estar harmonizada”, afirmou.
Haddad foi enfático ao afirmar que o governo não aceitará um resultado primário que não seja melhor do que o previsto no Orçamento para 2023. Destacou que trabalhará com uma combinação de ambição e factibilidade nas metas para a economia e que o objetivo é estabelecer um plano que garanta ao mesmo tempo sustentabilidade econômica, social e ambiental. Para o ministro, o que garante um Estado fortalecido é a previsibilidade econômica, confiança dos investidores e transparência com as contas públicas.
“Estamos aqui para assegurar que o país volte a crescer para suprir as necessidades da população em saúde, educação, no âmbito social e, ao mesmo tempo, para garantir equilíbrio e sustentabilidade fiscal” – frisou. Já no comércio exterior, o Ministro disse que o governo trabalhará para restabelecer sua relação comercial com o mundo e garantir investimentos para o país.
No último dia 12, o ministro Haddad anunciou uma série de medidas, justamente cumprindo parte do que adiantou no discurso de posse, ou seja, de reduzir o rombo nas contas públicas. As ações têm o potencial de entregar uma melhora de R$ 242,7 bilhões nas contas públicas, segundo cálculos da pasta. As medidas – que ele evitou chamar de pacote, optando por “as primeiras medidas na área econômica” – são divididas em quatro grupos de iniciativas: reestimativa de receitas (R$ 36,4 bilhões); ações de receitas permanentes (R$ 83,28 bilhões); ações de receitas extraordinárias (R$ 73 bilhões); e redução de despesas (R$ 50 bilhões).
Cálculos apontam que as medidas devem causar impacto equivalente a 2,26% do Produto Interno Bruto (PIB). Caso confirmado, teria potencial para reverter o déficit de R$ 231,55 bilhões projetado na peça orçamentária aprovada pelo Congresso – para um superávit de R$ 11,13 bilhões. A maior fatia do ajuste vai ocorrer com relação às receitas. De acordo com o Ministério, os ganhos de arrecadação correspondem a R$ 192,7 bilhões. Já as iniciativas de redução de despesas representam R$ 50 bilhões do pacote.
Sustentabilidade para efetivar políticas públicas no Ceará
Natural da Bahia, o secretário da Fazenda do Ceará, Fabrízio Gomes Santos, doutor em Economia pela Universidade Federal do Ceará (UFC), com larga experiência nas áreas monetária e fiscal, ao ser perguntado sobre sua expectativa para o crescimento da economia cearense este ano, foi enfático: “nossa grande missão é manter a sustentabilidade fiscal e econômica do Estado para que o governador Elmano de Freitas possa efetivar as políticas públicas que a população cearense precisa”.
Ele reconhece, no entanto, ser um início desafiador, tanto no cenário nacional quanto no estadual, mas que fará “uma gestão pautada no diálogo com os contribuintes e toda a sociedade para que, juntos, possamos construir um Ceará cada vez melhor. Acredito que o primeiro semestre deste ano deixará mais claro como a economia vai funcionar nos próximos anos”. Sobre quais setores econômicos que tendem a crescer este ano no estado, não titubeou: um dos setores com boas perspectivas é o de energias renováveis.
Questionado se o fato do governo estadual pertencer ao mesmo partido do governo federal pode impactar positivamente em investimentos no Ceará, o novo Secretário da Fazenda disse que o Estado vem cultivando, ao longo dos anos, uma cultura de sustentabilidade fiscal, que permite um maior nível de investimentos e a melhoria na qualidade das políticas públicas. “Se as relações políticas facilitarem a liberação de recursos, melhor”, comentou. Para finalizar, observou que o Ceará é uma referência nacional em sustentabilidade fiscal.
“É essa cultura de equilíbrio das contas públicas, entre receitas e despesas, que nos permite continuar na liderança de investimentos públicos no País, em relação à receita corrente líquida. Todo esse investimento significa a construção de novos hospitais, escolas, estradas e áreas de lazer, bem como a aquisição de equipamentos de saúde e segurança. A solidez fiscal impulsiona a economia, criando mais oportunidades para os cearenses”.
Fabrízio Gomes Santos, titular da Sefaz-CE
BC divulga causas da elevada inflação
O Banco Central do Brasil divulgou, no último dia 10, os fatores que levaram a inflação em 2022 a ultrapassar o limite superior previsto (o IPCA no ano passado ficou em 5,79%, portanto acima do limite superior do intervalo de tolerância de 1,5 pontos percentual em torno da meta de 3,5% ao ano). Os motivos foram: inércia da inflação do ano anterior; elevação dos preços de commodities, em especial do petróleo; desequilíbrios entre demanda e oferta de insumos e gargalos nas cadeias produtivas globais; choques em preços de alimentação, resultantes de questões climáticas; e retomada na demanda de serviços e no emprego, impulsionada pelo acentuado declínio da quantidade de casos de Covid-19 e consequente aumento da mobilidade.
O mesmo documento aborda a elevação da meta para a taxa Selic e as expectativas dos agentes sobre seus movimentos futuros, coordenadas pela comunicação de política monetária, levaram a um aumento expressivo da taxa real de juros, hoje em 13,75% ao ano. Considerando a estimativa implícita na pesquisa Focus (06/01/2023), a taxa real de juros permanece em 7,8% no primeiro trimestre de 2023 e então inicia trajetória declinante, atingindo 6,9% ao final de 2023, 5,2% ao final de 2024 e 4,7% ao final de 2025, ainda acima da taxa real neutra considerada nos modelos do BC.
Pelas projeções do BC, a inflação acumulada em quatro trimestres deve prosseguir na trajetória de queda ao longo de 2023, terminando o ano em patamar inferior ao de 2022. No Relatório de Inflação de dezembro de 2022, as projeções condicionais apontam para inflação de 5,0% em 2023 (queda de cerca de 0,8 p.p. em relação à inflação observada em 2022), 3,0% em 2024 e 2,8% em 2025, ante metas para a inflação de 3,25%, 3,00% e 3,00%, respectivamente. As expectativas de inflação da pesquisa Focus (6/1/2023) também apontam para redução da inflação, embora em menor magnitude, com valores em torno de 5,4% para 2023, 3,7% para 2024 e 3,3% para 2025.
Tendência é de desemprego e baixo investimento
O novo presidente do Conselho regional de Economia (Corecon-CE), Igor Macedo de Lucena – eleito no início de janeiro -, afirma que as previsões para a economia mundial em 2023 não são boas, isso por um conjunto de fatores. Pela primeira vez em quatro anos, três dos principais centros econômicos mundiais (União Europeia, Estados Unidos e China) passam por desaceleração econômica, lembrando que, respectivamente, eles têm PIB de US$ 20 trilhões, mesmo valor também dos EUA, e da China, algo em torno dos US$ 17 trilhões.
“Grande parte do mundo desenvolvido já passa por desaceleração. A previsão é que China cresça entre 2% a 3%, no máximo 4% (PIB); Estados Unidos já se encontram em recessão e alguns países da União Europeia, como a Alemanha e Reino Unido, também mostram recessão. Isso significa que você terá uma demanda menor por commodities a nível mundial, consequentemente vão ter, no início, ondas de demissão, vindas principalmente dos setores que passaram recentemente por bonança”.
Igor Lucena, presidente do Corecon-CE
Neste contexto, ela observa que a situação da economia mundial é complicada, pois, na prática, aqueles três motores da economia mundial caindo, o efeito é global: aumento do desemprego, baixo nível de investimentos. E isso tem motivos variados. Na China, a própria epidemia de Covid-19, que é complexa. Nos EUA, o aumento das taxas de juros numa economia que é extremamente sensível, e na Europa, a questão fundamental é a guerra entre Rússia e Ucrânia. “Quando todos esses fatores são juntados passa a existir uma paralisia. Então, o ano de 2023 será desafiador, pois quando existem estimativas negativas para os setores, basicamente de toda a cadeia produtiva mundial, sobretudo a de valor agregado, cai. A qualidade de vida vai diminuir; vai ter achatamento salarial, dentre outras” – chama a atenção.
O Brasil – explica – tem dois tipos de crescimento ao longo da história. O primeiro é baseado no consumo externo. Quando existe um aumento na demanda por alimentos em uma escala internacional, mas principalmente na demanda de matérias primas, como ferro, minério cobre, aço, o Brasil também cresce. “Existe uma correlação histórica entre momentos de crescimento econômico no Brasil e um aumento grande da demanda externa. Dentro dessa visão, caso não exista um cenário positivo fora do Brasil, o crescimento só poderá ocorrer puxando a demanda interna. E essa possibilidade é muito limitada”.
No entanto, ele observa que existem as “chaves não resolvidas”, como, por exemplo, a de reformas tributária, administrativa (máquina pública). Isso poderá sinalizar para os investidores que o país está passado por uma transformação de fato no sistema organizacional e, paralelamente a isso, por um novo arcabouço fiscal, que mostre uma tendência de queda das contas públicas. “Aí, sim, será possível gerar um impulso interno para o crescimento. E isso não é fácil, pois existe uma análise mais política nesse contexto. Agora, o Brasil muito provavelmente não vai poder contar com o crescimento advindo do cenário externo, então o cenário interno vai ser determinante. Essa é a única chave de crescimento, na prática, para o Brasil. Ou seja, vai ocorrer com reformas estruturante, pois não existe outra saída”.
Desaceleração vai ser global em 2023
O anuário 2022/23, edição de dezembro/janeiro da revista Hortifruti Brasil, analisa os principais destaques do ano de 2022, bem com as tendências para 2023 do setor de frutas e hortaliças. No que diz respeito ao cenário econômico, as perspectivas para 2023 são as seguintes (desaceleração global): A crise do custo de vida, o aperto das condições financeiras na maioria dos países, a invasão da Rússia na Ucrânia e a persistente pandemia de covid-19 pesam para um cenário econômico limitado em 2023, segundo o relatório de outubro do Fundo Monetário Internacional (FMI). O Fundo prevê que o crescimento mundial se desacelere, passando de 6% em 2021 para 3,2% em 2022 e para 2,7% em 2023.
Desconsiderando a crise financeira mundial de 2008 e a fase aguda da pandemia, em 2020, este é o avanço mais fraco previsto desde 2001, segundo o FMI. A tradução desses números é uma desaceleração global em 2023. Um alento pode ocorrer quando houver uma solução para o conflito no leste europeu – no entanto, a guerra ainda deve se arrastar ao longo de todo de 2023. A Europa deve ser a mais afetada pelo crescimento limitado e pela inflação alta – o FMI prevê que avanço de apenas 0,5% para o continente.
A publicação afirma que o principal desafio do novo governo é controlar os gastos, visando conter a inflação, para uma trajetória sustentável de queda nos juros, e, assim, conseguir recuperar o poder de compra do brasileiro. Outro grande desafio é tentar implementar as promessas de campanha (aumento real do salário mínimo e a ampliação do “Auxílio Brasil”/“Bolsa Família”), sem comprometer ainda mais os gastos do governo. Por enquanto, sem um programa de corte ou reformas que sinalize um melhor controle fiscal, a previsão para o Brasil em 2023 é de menor crescimento e de inflação e juros elevados.
Saiba mais:
Agronegócio como propulsor da sustentabilidade e da economia no país
Brasil tem muito a crescer na nova economia pela força do perfil criativo dos brasileiros