Segundo maior produtor mundial depois da China e exportando cerca de 160 toneladas anuais, o Brasil pode ser protagonista global num negócio de alto valor agregado. A peso de ouro, a própolis é embarcada a preços entre R$ 800,00 a R$ 1.000,00 o quilo, conforme a variedade.
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Prova importante do interesse pela própolis brasileira vem do mercado asiático, com destaque para o Japão, destino de mais de 90% do produto brasileiro que também chega aos países da Europa e dos Estados Unidos. O fato é que os volumes poderiam ser bem maiores, na opinião de quem acompanha este segmento.
É o empenho que vem fazendo Andresa Berretta, presidente da Associação Brasileira dos Exportadores de Mel – ABEMEL, em suas incursões em busca da criação de uma norma para definir os critérios para certificação da própolis para além das fronteiras nacionais. O documento técnico já foi finalizado pelos especialistas de mais de 30 nações e está agora em fase de aprovação pelos países membros. A iniciativa conta com a participação da International Organization for Standardization (ISO), que reúne representantes e especialistas de 167 países, para desenvolver padrões e normas para o mercado.
Andresa Berretta, natural de São Paulo, está na liderança do grupo internacional já vem realizando pesquisas científicas com própolis há mais de 20 anos.
“No momento não temos nenhum padrão internacional de identidade e qualidade para própolis, mas caminhamos para ela, que será um marco que poderá favorecer muito a abertura de novos mercados a partir de um procedimento único e global”.
Andresa Berreta, presidente da Abemel
A jornada requer paciência, mas a presidente da entidade, que representa 80% dos exportadores brasileiros de mel, entende que será relativamente tranquila a caminhada para as empresas que já contam com o Selo de Inspeção Federal (SIF). Por seguirem a normatização estabelecida pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) para o mercado interno essas empresas já cumprem as regras essenciais de qualidade envolvendo alimentos de origem animal. Também na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) a própolis consta nas normas de suplementos alimentares.
Andresa Beretta cita a existência de alguns métodos novos para alcançar o objetivo de uma norma internacional que requerem equipamentos sofisticados. E lembra que há laboratórios privados disponíveis que poderão suprir essa etapa para os estabelecimentos que ainda não dispõem de laboratórios com tecnologias mais avançadas. Estimativas mostram que a norma internacional poderá alcançar em torno de 550 mil apicultores, considerando apenas os três maiores produtores de própolis no mundo.
O campo de atuação é vasto. Somente no Brasil existem 13 diferentes variedades, encontradas em praticamente todas as regiões, com alguma concentração no norte de SP e oeste do Espírito Santo e Rio de Janeiro, Paraná, Santa Catarina, Minas Gerais, Bahia e Alagoas.
A mais comum é a verde e na outra ponta está a vermelha, classificada por especialistas como mais nobre por suas propriedades ausentes nos demais extratos e por reunir oito isoflavonóides com ação antiproliferativa e anti-inflamatória. Esta variedade teve a demanda aumentada em até 200% na pandemia. Tem também a Marrom e a Jurema Preta, recentemente identificada nas áreas de caatingas. Somente estas quatro variedades respondem por 70% dos tipos existentes no Brasil.
Em Alagoas, os manguezais oferecem ambiente propício pelo PH da água e pela extração mais adequada dos apicultores. O sul da Bahia, igualmente, reúne estas mesmas condições.
É alagoana a indústria Ouro Vermelho, que produz extrato de própolis vermelha em Satuba, na região metropolitana de Maceió. O diretor Gerardo Brêda Fortes orgulha-se de dizer que em menos de um ano, em 2022, conseguiu realizar a primeira exportação para a União Europeia. Ele faz questão de alertar que esta é uma empreitada para os fortes e persistentes, referindo-se aos entraves da burocracia que o setor alimentício tem que vencer dentro do Brasil.
”Para cadastrar a empresa, habilitar e solicitar autorização é um processo muito complexo e moroso, uma barreira que nem todos os empresários estão dispostos a enfrentar, o que requer capacitação, pesquisa e um monte de paciência para vencer as etapas criteriosas e apresentar produtos com muita segurança sanitária e qualidade”.
Gerardo Brêda Fortes, diretor da Ouro Vermelho
Sem abrir volumes e valores, o diretor projeta um 2023 próspero em novos negócios. Com o cadastro das exportações ativo, outros interessados já apareceram como Alemanha, Estados Unidos, China e Japão.
“A previsão para o mercado internacional está muito otimista e aquecida, para os produtos apícolas brasileiros”, afirma, sinalizando com mais cinco ou seis países em sua carteira de pedidos. Gerardo Fortes atribui o avanço justamente à habilitação do MAPA para exportar, referida pela ABEMEL, e pelo produto ímpar oferecido, o extrato de própolis vermelha, tido como matéria-prima única no mundo.
Em contraponto à estreia da Ouro Vermelho no mercado internacional, a Pharmanectar, de Caeté, em Minas Gerais, foi pioneira nas exportações de própolis desde 1984, embarcando, atualmente, 114 diferentes formatações de própolis para 32 países. As cápsulas, óvulos, injetáveis, supositórios, lubrificantes vaginais e uma infinidade de extratos customizados são embarcados anualmente e têm no Japão e Estados Unidos destinos principais.
O CEO José Alexandre Silva de Abreu diz que na última década a própolis vende mais do que dipirona. “O produto conquistou as famílias brasileiras e atraiu o interesse do mercado internacional”, comenta ele que lidera uma empresa de 41 anos de atividade que conta com apiários próprios e entrepostos para o beneficiamento da própolis, além de farmácias de manipulação.
“O mercado de própolis vive um céu de brigadeiro”, ilustra, referindo-se, aos dois últimos anos, em especial, que intensificou a preocupação com a imunidade. O fato levou a empresa a triplicar a produção. Depois de investir R$ 7,0 milhões em expansão de área de produção em 2022, já inicia novo aumento com o aporte de mais R$ 7,0 milhões neste ano para continuar exportando 90% do total produzido no Brasil.
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