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Renda do Sol: Ceará prepara programa de energia solar destinado a famílias de baixa renda

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Camila Ramos, fundadora da Clean Energy Latin America (Cela), empresa de consultoria e assessoria no setor de energias renováveis e hidrogênio verde, esteve no Ceará, em dezembro, onde tratou com o governo cearense e empresários locais sobre a implantação do Renda do Sol. Desenhado há dois anos, o projeto é destinado, inicialmente, à população de baixa renda que habita o entorno do Porto do Pecém.


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“O Banco Mundial vai financiar esse projeto. Uma vez que ele é desenhado e aprovado, vai ser apresentado para o governador do Ceará, Elmano de Freitas, no primeiro trimestre de 2023. E, se aprovado, vai ser financiado pelo Banco Mundial”.

Camila Ramos, fundadora da Cela

A meta final será implantar sistemas fotovoltaicos de Geração Distribuída nas Associações e Cooperativas atendidas pelo Projeto São José, beneficiando 7.476 famílias.

O objetivo é contribuir com a redução da pobreza por meio da geração de renda pela microgeração distribuída de energia solar residencial. Os projetos e ações do programa propõem, como mecanismo de redução da pobreza, a criação de legislação, infraestrutura e capacitação de famílias abaixo da linha da pobreza para a microgeração de energia solar domiciliar e em associações.

Camila informou à TrendsCE que a Cela está trabalhando em parceria com o Banco Mundial e o Governo do Ceará. “Nós vamos estruturar o Renda do Sol. Estamos numa fase de desenho dos pilotos e dos modelos de negócios para a geração de renda, através da energia solar distribuída”, diz.

O projeto prevê a realização de estudo de mapeamento de famílias em condição adequada para receberem sistemas de microgeração de energia solar (renda, solarimetria, densidade urbana, acesso da conexão ao grid, infraestrutura domiciliar etc.), integrado com as ações e projetos do programa Municípios Fortes. Também será feito o cadastramento das famílias em condição de pobreza e extrema pobreza, assim como o desenvolvimento e a implementação de um sistema de monitoramento do desempenho de geração de energia por família. E, por fim, estudo de viabilidade de fixação de tarifa especial para a energia gerada por famílias abaixo da linha de pobreza.

“Nós estamos fazendo o desenho do modelo de negócio, a estruturação financeira, a busca e o mapeamento de recursos para financiar esse projeto para, realmente, converter a energia do sol em renda para a população”, informa Camila.

Fases do projeto Renda do Sol

Inicialmente, serão implantados três projetos pilotos de microgeração distribuída residencial em três adensamentos urbanos de 50 famílias cada, como instrumento assistencialista de geração de renda. Depois, adequar infraestrutura de cobertura e conexão de rede de eletricidade para instalação dos sistemas de microgeração. Após esse processo, será feito um estudo de replicação do modelo.

“Será a partir da energia solar. Mas estamos desenhando o melhor modelo de negócio. Se vai ser telhado, usinas remotas de energia solar, se vai ser em residência, se vai ser em cooperativa de produtores. Enfim, a gente está desenhando agora a população que vai ser beneficiada, quais os objetivos e quais são as prioridades”, destaca Camila. De acordo com ela, caso seja bem-sucedida, a iniciativa será replicada noutras regiões do Ceará e também em outros estados do Nordeste.

Além de fundadora da Cela, Camila é vice-presidente de Investimento e Hidrogênio Verde da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar). Outro motivo da visita dela ao Ceará foi firmar parceria para a promoção do hidrogênio verde entre a Federação das Indústrias do Estado do Ceará (Fiec), a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) e a Absolar

“Esse (o hidrogênio verde) é um setor muito importante para o Brasil. Importante para a descarbonização global, para o Brasil e, especialmente, para o Ceará. Só no Ceará já temos 24 acordos de entendimento com empresas que pretendem fazer investimentos muito grandes no Estado para a produção de hidrogênio verde”.

Camila Ramos, fundadora da Cela

Segundo Camila Ramos, o hidrogênio verde tem o potencial de representar de 12% a 22% de toda a demanda de energia no mundo até 2050.
 
“E o Brasil tem condições de produzir o hidrogênio verde mais barato do planeta, segundo projeções de entidades globais como IEA, IRENA e Bloomberg, dado o grande potencial de geração fotovoltaica”, comenta ela.
 
“Assim, o hidrogênio verde, vetor energético e combustível primário, limpo e versátil, tem o potencial de tornar-se eixo estratégico na transição energética e na descarbonização da economia global, em diversos segmentos, inclusive em termos geopolíticos”, acrescenta a executiva da Absolar.

O combustível pode ser produzido por meio de eletrolisadores, que, por sua vez, são alimentados por energia elétrica produzida a partir de energia 100% renovável, como a solar fotovoltaica. 

“Trata-se de uma grande oportunidade de reduzir emissões de gases de efeito estufa e outros poluentes de vários processos industriais e de outros setores como transporte e setor energético”, acrescenta a vice-presidente da Absolar.

De acordo com Haroldo Rodrigues, sócio fundador da investidora in3 New B Capital S.A., em artigo publicado pela Forbes, o Renda do Sol é uma proposta estratégica para reduzir a pobreza entre os mais vulneráveis e residentes no Estado do Ceará por meio da microgeração de energia.

“O ativo – a energia solar residencial – é o grande insumo que trará ao estado do Ceará vantagem competitiva frente os demais estados e não somente do ponto de vista do impacto econômico, como também social e ambiental”.

Rodrigues pontua que a energia solar é extremamente importante para o desenvolvimento social e sustentável. “A eficiência energética prevista no Renda do Sol, principalmente no que tange à geração fotovoltaica, proporcionará uma economia para as famílias bem como geração de renda para as mesmas. Além disso, gerará um potencial de economia de CO2”, afirma.

Ainda segundo ele, o Renda do Sol busca contribuir para o alcance dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), estabelecidos pelas Nações Unidas, além de ser estratégico para a economia do Ceará. “Há alto valor para a sociedade, pois propõe: excelência em qualidade de vida e bem-estar em todas as dimensões; elevar o padrão de vida da população, considerando itens fundamentais como saúde, educação, cultura, engajamento comunitário e meio ambiente; redução radical da pobreza e das desigualdades em busca do desenvolvimento social; e reduzir expressivamente a pobreza e o desemprego na busca do ideal da erradicação da miséria, da elevação da renda per capita e da redução da desigualdade socioeconômica para o patamar dos melhores níveis do país”, informa.

De acordo com o especialista, o hub de energia verde e o Renda do Sol abrem o Estado do Ceará para o novo mercado de capital, “aquele que coloca em seu centro as pessoas”. Na visão dele, os mais impactados serão aqueles com menos privilégios.

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