A telemedicina é realidade para muitos brasileiros, mas não para todos porque o atendimento médico presencial ainda é feito para a maioria. (Foto: Envato Elements)

Telemedicina no Brasil precisa avançar em conectividade

Por: Gladis Berlato | Em:
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Ninguém duvida que a telemedicina ajudou a evitar o colapso da saúde no Brasil. A idosa Regina, paulista de 89 anos, há três anos adotou a tele consulta e pretende continuar. Da mesma forma que a gauchinha Sophia, de oito anos, que após ter experimentado aulas remotas, mesmo em férias na praia, não tem nenhuma dificuldade de manter as seções de terapia. E até a dona Irene, carioca da gema, diz que, aos 78 anos, trata a alma e o coração assistindo remotamente missas nos horários de sua preferência pelo celular ou computador e que não tem restrições à telemedicina, embora prefira uma boa conversa, frente a frente, com o seu médico.


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Esta é a nova realidade para muitos brasileiros, mas não para todos porque o atendimento médico presencial ainda é feito para a grande maioria da população. A tendência, agora, é fazer com que a digitalização e a conectividade dos processos leve à integração dos sistemas de forma a disponibilizar eletronicamente os prontuários médicos de pacientes das mais de 400 mil clínicas e 6 mil hospitais no Brasil, garantindo saúde e vida aos brasileiros.

Telemedicina é um caminho sem volta

Tanto a Escola de Saúde Pública do Ceará (ESP/CE) quanto a Associação Brasileira de Planos de Saúde (Abramge) atestam esta realidade e a necessidade de continuar avançando nas áreas pública e particular. A diretora de Educação e Extensão da ESP/CE, Olívia Bessa, lembra que a telemedicina foi regulamentada pela primeira vez no Brasil em 2002 pelo Conselho Federal de Medicina (CFM).

A pandemia da Covid-19 demandou uma regulamentação em caráter temporário e emergencial a partir de março de 2020 para acolher as necessidades de ampliação dos serviços de saúde, através de tele consulta e tele orientação. E mais recentemente, através da Resolução nº 2.314/2022, o Conselho definiu e regulamentou a telemedicina no Brasil, 20 anos após a primeira resolução.

A tecnologia tem agregado diversas transformações na área da medicina ao longo da história. Diagnósticos mais ágeis e precisos, procedimentos mais seguros, vide cirurgias, inteligência artificial, prontuários eletrônicos, dentre outros, são alguns exemplos de como a tecnologia tem favorecido a prática médica e impactado na saúde da população.

“A tecnologia foi uma estratégia essencial para ampliar e melhorar a qualidade da atenção à saúde, com oferta de múltiplos serviços, evitando o colapso da rede de serviços de saúde”.

Olívia Bessa, diretora de Educação e Extensão da ESP/CE

Esse cenário também repercutiu fortemente na formação de profissionais da área da saúde, demandando um remodelamento curricular emergencial e o uso da tecnologia, com inovações e soluções educacionais. Plataformas de ensino remoto e educação à distância foram fundamentais para garantir as necessidades formativas e de capacitação nesse período.

Consulta presencial

Sabe-se que, na prática, pelo menos 90% dos atendimentos médicos já são solucionados na consulta remota e que apenas 10% são encaminhados para médicos em unidades mais próximas.

Da mesma forma que Olívia Bessa, o superintendente-executivo dos Planos de Saúde da Associação Brasileira de Planos de Saúde (Abramge), Marcos Novais, faz questão de frisar que a consulta médica presencial permanece como padrão e principal meio de acesso, somando 300 milhões de atendimentos/ano no Brasil.

De acordo ele, tele consulta é um caminho sem volta com benefícios a profissionais, instituições e pacientes. “Imaginem a falta de médicos no interior do Brasil e até mesmo em capitais do Norte onde não existem unidades de saúde próximas e muito menos médicos especialistas como neuropediatras”, ilustra. Sem fronteiras, qualquer médico pode atender pacientes onde estes estiverem.

Desde abril de 2020, início da pandemia, a Abramge já superou os 9 milhões de teleatendimentos por parte das 140 operadoras associadas, presentes em 20 Estados brasileiros. O volume cobre 24,5 milhões de beneficiários, ou seja, 31,6% dos mais de 70 milhões de clientes da saúde suplementar brasileira.

O que vem por aí?

Tem muito por vir. Na análise de Marcos Novais, o maior ganho nem está propriamente do atendimento remoto, mas na integração de todo o sistema de saúde onde o prontuário médico esteja eletronicamente disponível em todos os pontos de atendimento. “É a conectividade a serviço da vida”, diz ele.

Sua visão é de que este é o caminho para evitar episódios drásticos, em casos de emergência, por morosidade e até por eventuais erros médicos ocasionados por desinformação sobre as condições do paciente. Para isso, aponta o executivo da Abramge, será necessário definir padrões e modelos, além de promover uma forte modernização da gestão de consultórios, clínicas e hospitais para a convergência assertiva e adequada dos dados, onde estiverem arquivados.

 “Tecnologia existe, mas ela precisa estar conectada entre si para ter seus resultados potencializados”.

Marcos Novais, executivo da Abramge

O desafio está posto, mas é fato que a medicina digital é um objetivo em construção pelo esforço de toda a cadeia da saúde brasileira. Os primeiros avanços foram demonstrados em pesquisa do Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic.br) do Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR (NIC.br), que já aponta para algum grau de acesso a dados eletronicamente, o que leva à necessária conectividade. Enfermeiros e médicos entenderam a necessidade do registro de anotações de enfermagem, dados clínicos, imagens radiológicas e medicamentos prescritos.

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