O Brasil precisa pensar numa logística de primeiro mundo capaz de gerar competitividade e eficiência à cadeia de produção em qualquer segmento de atuação, tanto para o mercado interno como externo. Este é o caminho que leva a soluções inovadoras de médio e longo prazos e receita para atrair recursos capazes de destravar o desenvolvimento.
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Estudo da empresa inglesa Janus Henderson Investors, que atua em gestão de ativos globais, publicado pelo Money Time, mostrou que os mercados emergentes, entre os quais o Brasil, têm avançado em inovação em logística, o que atrai investidores. A China se destaca graças às consistentes aplicações do governo chinês em educação, especialmente nas áreas de ciência, tecnologia, engenharia e matemática, uma realidade ainda distante no Brasil.
Na visão da Associação dos Analistas e Profissionais de Investimento do Mercado de Capitais (Apimec Brasil), os investimentos em logística, obrigatoriamente, estão relacionados com perspectivas de crescimento econômico, um cenário ainda em gestação neste momento no Brasil. O Conselheiro Ricardo Coimbra não tem dúvidas de que para crescer o país vai ter que melhorar a eficiência no conjunto de segmentos logísticos.
Coimbra cita o Complexo Portuário do Pecém, no Ceará, como um bom exemplo de empreendimento, da mesma forma que a produção de hidrogênio verde, como algo inovador em energias limpas, que exigirá avanços e recursos na captação de águas, dessalinização e outras medidas ao longo da cadeia de produção.
“Iniciativas econômicas inovadoras atraem o interesse dos investidores do mercado de capitais”
Ricardo Coimbra, conselheiro da Apimec Brasil
Em outras regiões do país, como o Centro Oeste, com o crescimento maior do agronegócio, também serão exigidos maiores investimentos para a movimentação da produção agrícola e também para a transformação industrial, além de um eficiente sistema de escoamento de grãos e de produtos industrializados. Entre os itens a serem revistos, segundo ele, está o excessivo uso do transporte rodoviário de cargas, quando a tendência mundial, comprovadamente bem-sucedida, é a utilização combinada ou não de outros modais, como o ferroviário e marítimo em busca de custos fixos menores e, consequentemente, maior competitividade.
“Para isso, é urgente retomar obras importantes como a ferrovia Transnordestina, tão aguardada pelo setor ferroviário para o escoamento de commodities agrícolas, grãos e minério de ferro”, alertou. Para lembrar: esta obra de mais de 1750 Km de extensão total, já consumiu quase R$ 5,5 bilhões e chegou apenas na metade. A nova data prevista para conclusão é 2025.
Pelo acompanhamento da Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Base (ABDIB), a matriz de transporte de cargas precisa ser mais equilibrada entre os modais com vistas a garantir melhores resultados logísticos. Pelo menos na movimentação da riqueza nacional.
Os diferentes cenários traçados pelo Plano Nacional de Logística 2035 indicam transformações, com destaque para o aumento da presença da ferrovia. “Para uma ação disruptiva seria fundamental criar programas de transporte ferroviário de passageiros – cujo volume é pífio para uma país de dimensões continentais – e de carga geral para transporte de bens industriais de maior valor agregado”, avalia documento da entidade já em mãos do novo governo, entregue ao presidente Lula ainda como candidato.
De acordo com o PNL 2035, não há avanços no transporte dutoviário. O Brasil conta com cerca de 20.000 km de dutos, o Canadá tem 840.000 km e os Estados Unidos, 2.200.000 km. Num mundo em transição energética rumo à redução das emissões, é inevitável buscar um aumento superlativo do uso do gás natural e de combustíveis verdes, cujo transporte via dutos é o mais eficiente.
A propósito, entre as medidas propostas ao novo governo no âmbito da política industrial, uma delas é a identificação de segmentos de produção importantes para o desenvolvimento tecnológico (indústria 4.0 e tecnologia 5G) para inserção competitiva da economia no cenário internacional, reforçando a segurança produtiva nacional e a reindustrialização.
O fato novo – e visto como positivo pela Apimec Brasil – é a composição do novo governo eleito, que já conhece a dinâmica do poder, e que conta com a dupla Alckmin/Tebet em ministérios importantes como o recriado Ministério da Indústria, Comércio e Serviços e o Ministério do Planejamento.
“As experiências somadas do vice-presidente e ministro Geraldo Alckmin e de Simone Tebet poderão remover os entraves e gerar um novo marco regulatório para fazer das Parcerias Público-Privadas um modelo ideal para dar sustentação ao crescimento e atrair investimentos”, comemora. Ele acredita que o custo logístico menor acelera a competitividade com impacto sobre Custo Brasil, sobre a inflação e sobre o preço final ao consumidor.
Para quem olha o horizonte a partir do comportamento do mercado financeiro da maior economia mundial, os Estados Unidos, o cenário não é favorável no que diz respeito a investimentos, nem mesmo aqueles voltados a segmentos mais inovadores. É a leitura feita pelo estrategista brasileiro Guilherme Zanin, da corretora Avenue Security, com sede em Miami, que opera na Bolsa de Nova Iorque desde 2018 somando mais de 600 milclientes em seu portfólio.
“O momento econômico não está muito propício a investimentos”
Guilherme Zanin, estrategista da Avenue Security
Ao contrário, com inflação elevada no mundo, demissões e ajustes de custos nas empresas, com raras exceções, pelo olhar do mercado financeiro, não há projetos previstos a serem prontamente desengavetados.
Zanin avalia que o componente político no Brasil deu uma apimentada a mais nos problemas já existentes. É o caso da logística que carece de recursos para inovação e para a estrutura básica. A questão política traz incertezas ao mercado o que se reflete nas taxas de juros elevadas e também pode ser percebido na preocupação do empresariado com relação ao futuro e a perspectivas de novos investimentos.
“O setor produtivo e os investidores preferem ter um horizonte mais definido e um governo mais pró-investimentos, que seja mais transparente em relação às políticas econômicas a serem implementadas”, acrescenta Zanin, ao dizer que o Brasil lida hoje com um componente a mais de risco, embora seja potencialmente gigante.
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