Com 23,9 gigawatts (GW), a energia solar ultrapassou, no início deste ano, a energia eólica (23,8 GW) e se tornou a segunda maior fonte de geração do Brasil, segundo a Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar). Isso graças ao segmento de geração própria, conhecido como geração distribuída (GD), aquele que utiliza o sistema de geração de energia elétrica instalado em telhados de casas, prédios, empresas e em terrenos.
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“O Brasil está numa tempestade perfeita para as energias renováveis. Principalmente, a solar fotovoltaica”. É o que diz Filipe Godoy Souza, gerente de Geração da Kroma, empresa que atua no desenvolvimento de projetos de geração e na comercialização de energia. Nos últimos dez anos, os sistemas fotovoltaicos tiveram, segundo ele, uma redução no custo de mais de 40%.
O executivo foi o entrevistado do Cenários Trends, que discutiu o futuro da energia solar no Brasil. O programa teve a mediação da editora-chefe da TrendsCE, jornalista Kérlya Chaves.
De acordo com Filipe, o receio com a mudança feita pela legislação, provocando a queda de subsídios e incentivos, fez com que a quantidade de novas instalações tivesse um crescimento bastante significativo em 2022.
“Na pandemia, os preços subiram bastante. Muita gente achou que isso iria dar uma freada na quantidade de novas instalações, mas a busca pela geração limpa, pela geração renovável, foi muito grande”.
A informação pode ser comprovada no levantamento mensal feito pela Absolar. No mais recente gráfico, do dia 6 de janeiro deste ano, a quantidade de GW da energia solar fotovoltaica passou dos 14 mil GW, em 2021, para 24 mil GW em 2022.
O executivo acredita que muitos consumidores foram motivados pelo fim do prazo para aderir à isenção na taxa de distribuição de energia até 2045. O benefício só atingiu quem solicitou a instalação de placas solares até o dia 6 de janeiro deste ano, como estabeleceu o Marco Legal da Geração Distribuída, sancionado em 2022.
O projeto de lei 2703/22 tentou ampliar o prazo por mais seis meses, ou seja, até 6 de julho deste ano. Mas o Senado não conseguiu analisar a proposta antes do recesso parlamentar. A expectativa é que o tema volte a ser discutido na Casa a partir de fevereiro.
Além de proporcionar economia na conta de luz do consumidor, a energia solar traz alívio para o sistema elétrico brasileiro, reduzindo a necessidade de acionamento de usinas térmicas movidas a combustíveis fósseis e ajudando a preservar os reservatórios das hidrelétricas.
Um levantamento feito pela consultoria especializada Volt Robotics, encomendado pela Absolar, aponta que sem a geração distribuída (GD) de energia solar, a crise hídrica de 2021 teria um custo 48,6% maior, de R$ 28 bilhões para R$ 41,6 bilhões.
Ainda segundo a pesquisa, no período de maior incidência solar, quando os painéis produzem mais eletricidade, a geração própria de energia solar corresponde a um alívio de 10% na carga do Brasil, além de reduzir perdas técnicas na distribuição.
Outra vantagem ambiental da energia solar é a redução de emissões de gases do efeito estufa (GEE), o que está alinhado ao propósito global de limitar o aquecimento da temperatura média do planeta a 2ºC até 2030.
Por esses motivos, os investimentos em energia solar fotovoltaica seguem em alta no Brasil. Em entrevista à TrendsCE, o CEO da Kroma, Rodrigo Mello, anunciou a instalação de um megaparque de geração em Jaguaruana, a 259 quilômetros de Fortaleza. “Será um projeto de 500 megawatts (MW) de potência”, informa. O investimento será de R$ 2 bilhões, com expectativa de geração de 1.500 postos de trabalho.
A ideia é que o planejamento comece ainda no primeiro semestre deste ano. Realizado em duas etapas, a primeira delas deverá ser entregue em janeiro de 2025, com 250 MW. A segunda etapa deverá ser finalizada entre 2026 e 2027, com mais 250 MW de potência.
O empreendimento cearense deverá ser mais de quatro vezes maior que o Complexo São Pedro e Paulo, que a Kroma está construindo em Flores, no interior de Pernambuco, em parceria com a Elétron Energy.
O complexo é formado por quatro usinas fotovoltaicas, são elas: São Pedro e Paulo I, V, VII e VIII, as quais são de 34,43 MWp, 33,35 MWp, 26,68 MWp e 6,89 MWp, respectivamente, totalizando 101 megawatt-pico (MWp).
Ressalta-se que a UFV São Pedro e Paulo I tem parte de sua energia comprometida com o Ambiente de Contratação Regulado (ACR), vendida no Leilão de Energia Nova (LEN) A-4/2018, enquanto as demais estão com os contratos já assinados no Ambiente de Contratação Livre (ACL). Segundo Rodrigo Mello, a obra deve ficar pronta em setembro deste ano.
Quando finalizado o complexo, a energia produzida irá atender, em 30%, à Contratação Regulada (mercado cativo). Os outros 70% da geração serão destinados ao mercado livre, ambos por meio de contratos de compras de energia já assinados.
O investimento total é de R$ 340 milhões, com financiamento pelo Banco do Nordese (BNB) no montante de R$ 218 milhões.
A Kroma é a primeira comercializadora de energia do Nordeste, sendo referência nas áreas de gestão, geração e trading. Possui em seu portfólio 6GWp de desenvolvimento de projetos fotovoltaicos – dos quais 162MW já se encontram em operação.
Outro indicativo de que a energia solar fotovoltaica continuará em alta é o aumento na oferta de financiamentos para o setor. O Banco do Nordeste, por exemplo, ampliou a disponibilidade de recursos voltados a projetos para aquisição e instalação de placas solares em residências. Para 2023, a instituição reservou R$ 186 milhões com essa finalidade, um acréscimo de 28% em relação ao orçado para 2022.
O aumento da dotação, segundo o BNB, reflete o aquecimento da procura de pessoas físicas para instalação de energia solar em suas casas. Nos últimos quatro anos, o banco teve aplicações crescentes no segmento, superando, nesse ano, a marca de R$ 500 milhões em operações do gênero, beneficiando, ao todo, cerca de 15 mil famílias.
De acordo com o presidente do BNB, José Gomes da Costa, esse resultado é também consequência de uma modelagem simplificada e da automatização do processo de concessão de crédito, cujo avanço proporcionou, entre outras melhorias, a solicitação do financiamento de forma digital.
As operações são realizadas por meio da linha de crédito FNE Sol – Pessoa Física, que tem como principais atrativos as taxas de juros, as menores do mercado, por contarem com recursos do Fundo Constitucional, e o prazo de pagamento, que pode ser de até oito anos, com até seis meses de carência.
“Nessa operação, as placas solares instaladas podem servir de garantia, o que acaba sendo uma facilidade para os clientes. Essas placas têm vida útil de até 20 anos. Ou seja, elas serão utilizadas por pelo menos 12 anos após a quitação do financiamento”, ressalta o presidente do BNB.
José Gomes da Costa, presidente do BNB, destaca ainda os ganhos sociais e ambientais com a adoção de energia limpa e renovável.
“Calculamos que os financiamentos do FNE Sol – Pessoa Física evitaram a emissão de quase 100 mil toneladas de CO2 por ano na atmosfera. Para o Banco do Nordeste, que atua na promoção do desenvolvimento sustentável, isso também é uma grande conquista”.
O desempenho do BNB, que também financia projetos de energia solar para empresas, resultou no prêmio especial Alide Verde 2021, o qual reconhece iniciativas que promovem a adoção de práticas mitigadoras de riscos ambientais ou voltadas para o desenvolvimento sustentável. Além disso, gerou mais de R$ 75 milhões em tributos e dois mil empregos indiretos.
Cenários aborda o futuro da energia solar no Brasil
Energia solar se torna 2ª maior fonte do Brasil, diz Absolar